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24 de jan. de 2016

Os 20 livros mais influentes de todos os tempos

'A origem das espécies', de Charles Darwin, é eleito livro acadêmico mais influente da história. No top 20 estão 'O segundo sexo', de Simone de Beauvoir, 'A riqueza das nações', de Adam Smith, 'A República', de Platão e 'Manifesto Comunista', de Marx e Engels.
livros mais influentes mundo
Lista dos 20 livros mais influentes do mundo foi feita por profissionais especializados. Obra vencedora, no entanto, foi eleita por votação do público (Pragmatismo Político)
O livro “A origem das espécies”, do naturalista inglês Charles Darwin, foi eleito o livro acadêmico mais influente de todos os tempos. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (10/11) pela organização da Academic Book Week, evento que acontece nesta semana em vários lugares do Reino Unido. “A origem das espécies” (“On the origin of species”, no original) já foi descrito por estudiosos como “um livro que mudou a forma como pensamos sobre tudo”.
A votação foi aberta ao público após profissionais de renome na área estipularem uma lista de 20 finalistas(ver lista completa abaixo), incluindo “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir, e “A riqueza das nações”, de Adam Smith.
Uma lista prévia com 200 títulos havia sido levantada por editores britânicos e depois foi reduzida por livreiros, bibliotecários e editores até chegar a 20. Entre estes, quatro escritos por mulheres: além de “O segundo sexo”, de Beauvoir, há “Primavera silenciosa”, de Rachel Carson, obra fundadora do movimento ambientalista; “Reivindicação dos direitos da mulher”, de Mary Wollstonecraft, um dos marcos do pensamento feminista; e “The female eunuch” (A mulher eunuco, em tradução livre), de Germaine Greer, também um texto importante para o movimento feminista.
“A origem das espécies” introduziu à comunidade científica a ideia da evolução, segundo a qual a diversidade biológica é o resultado de um processo de modificações dos descendentes através de gerações. Os seres que desenvolvessem capacidades mais eficientes para as suas necessidades resistiriam à seleção natural. O livro foi resultado de anos de estudo de Darwin, o que incluiu uma expedição a bordo do barco Beagle pelo mundo, passando por cidades brasileiras como Salvador e Rio de Janeiro.
Além de ‘A Origem das Espécies’, confira os outros 19 livros que integram a lista dos mais influentes (relação em ordem alfabética):
“1984”, de George Orwell
“A formação da classe operária inglesa”, de Edward Palmer Thompson
“A República”, de Platão
“A riqueza das nações”, de Adam Smith
As obras completas de William Shakespeare
“As utilizações da cultura”, de Richard Hoggart
“Crítica da razão pura”, de Immanuel Kant
“Manifesto comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels
“Modos de ver”, de John Berger
“O macaco nu”, de Desmond Morris
“O príncipe”, de Nicolau Maquiavel
“Orientalismo”, de Edward Said
“Os direitos do homem”, de Thomas Paine
“O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir
“O significado da relatividade”, de Albert Einstein
“Primavera silenciosa”, de Rachel Carson
“Reivindicação dos direitos da mulher”, de Mary Wollstonecraft
“The female eunuch” (A mulher eunuco, em tradução livre), de Germaine Greer
“Uma breve história do tempo: do Big Bang aos buracos negros”, de Stephen Hawking
Enviado por Eri Santos Castro.
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16 de set. de 2015

A História da Filosofia em um gráfico


O blogueiro britânico Simon Raper, do blog Drunks & Lampposts, criou este mapa incrivelmente informativo. Ele usou um algoritmo para processar dados extraídos da Wikipédia e montar o gráfico, onde cada filósofo é representado por um nó na rede e as linhas entre eles representa as respectivas influências. O algoritmo que produziu o gráfico foi programado para colocar os nós mais conectados no centro do diagrama, assim vemos os nomes dos filósofos mais influentes em tamanho maior e agrupados no centro. As cores representam as diferentes escolas e tradições filosóficas.
Clique na imagem para ver no tamanho original:
philprettyv4
Simon Raper publicou sua fantástica contribuição no ano passado em seu blog. Na ocasião, ele disse ainda que, no futuro, pretende “adicionar também a direção de influência com uma ponta de seta nas linhas”. Como se não bastasse o magnífico trabalho, Raper, por seu espírito perfeccionista, parece não estar completamente satisfeito com sua criação, sobre a qual ainda aponta algumas falhas. “A deficiência, porém, é que essa avaliação só leva em conta as linhas diretas de influência. Influência indireta através de outra pessoa na rede não entrará nele. Isso provavelmente explica por que Descartes está menor do que você pensa. Também seria melhor se os nódulos fossem dimensionados apenas pelo número de conexões externas, embora eu acho que, em geral, as diferenças seriam pequenas”, diz Raper.
Publicação direta do Charlezine, por Charles Andrade Santana.
Sugestão de pauta: Valdério Jr.
Enviado por Eri Santos Castro.
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8 de mar. de 2015

Carta de amor de Marx para sua mulher Jenny



Manchester, 21 de Junho de 1865

Minha querida,

Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder...

A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.

No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (...) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado - mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.

Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis... eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.

Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés, 

Sempre teu,

Karl

Tradução do inglês de António Santos.

Sugestão de pauta: Pedro Dualibe.
Enviado por Eri Santos Castro.
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24 de out. de 2013

Uma geração de intelectuais moldada pelo crash de 2008 resgata Marx



Para aqueles jovens demais para lembrar da Guerra Fria mas com idade para lembrar da Grande Recessão, o marxismo parece incrivelmente atual.

Veja na Carta Maior, aqui!

Enviado por Eri Santos Castro.

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8 de set. de 2013

PT urgente, Eri presidente!

"Em tempo de um PT pragmático e com aversão ao estudo, onde 'negócios' apagam sonhos de uma sociedade dos iguais, eu ouso afirmar que o marxismo-leninismo é o caminho para a explicação e transformação do mundo." Eri Castro, candidato a presidente do PT-MA, pela chapa 'Novo Partido.Muda Maranhão'.

6 de mai. de 2013

Curador das obras de Marx e Engels fala à Carta Maior

O cientista político e matemático alemão Michael Heinrich veio ao Brasil para participar do evento 'Marx: a Criação Destruidora'. Em entrevista à 'Carta Maior', ele falou sobre a análise marxista contemporânea, a crise econômica europeia e a curadoria dos textos clássicos alemães.

Enviado por Eri Santos Castro.
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23 de dez. de 2012

Os filhos dos dias de Eduardo Galeano

Livros bons foram publicados muitos em 2012 (basta olhar o catalogo da Boitempo, com Marx, Zizek, Harvey, entre outros). Mas escolho o livro do ano, pelo seu valor e pela censura que sofre da velha midia daqui, que tentamos minimizar reproduzindo textos aqui diariamente, Os filhos dos dias, do Eduardo Galeano.

25 de nov. de 2012

LIVROS PROIBIDOS PELO OPUS DEI

O Opus Dei, entidade super-conservadora da Igreja Católica, tenta controlar o que seus seguidores lêem. A ordem classifica obras literárias numa escala que vai de 1 a 6: no primeiro nível estão os livros permitidos a todos e no último, os totalmente proibidos. Conheça os livros totalmente proibidos:

• O Capital, Karl Marx

• Além do Bem e do Mal, Nietzsche

• Cândido, Voltaire

• O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago

• O Diário de um Mago, Paulo Coelho

• Presente de um Poeta, Pablo Neruda

• Ulisses, James Joyce

• Madame Bovary, Gustav Flaubert

• Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust

13 de jul. de 2012

FHC OUVIU O GALO CANTAR; ACHOU QUE ERA TUCANO


Fernando Henrique Cardoso recebeu um prêmio da Biblioteca do Congresso dos EUA, cuja primeira edição agraciou a tradição dos intelectuais arrependidos da esquerda. O polonês Leszek Kolakowski que inaugurou a fila, em 2003, baldeou-se do marxismo ortodoxo para a rejeição radical da obra de Marx. No caso de FHC, o prêmio de U$ 1 milhão brindou os desdobramentos políticos de suas reflexões sobre a dependência. No entender dos curadores, elas teriam demonstrado como os países periféricos 'podem fazer  escolhas inteligentes e estratégicas' (leia-se dentro dos marcos dos livres mercados)  mesmo em desvantagens em relação aos ricos. O tucano não decepcionou. Após embolsar o galardão falou grosso. E acusou Lula de ser responsável pelas agruras da indústria ao interromper as reformas; aquelas das quais seu governo foi um instrumento e cuja correspondência no plano internacional, como se verifica, legou um mundo de fastígio e virtudes sociais. O sociólogo ouviu o galo cantar; achou que era um tucano.

Da Carta Capital.
Enviado por Eri Santos Castro.
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14 de mar. de 2012

Em 14 de março de 1883 o mundo perdia Karl Marx


Good Day for All ......

"As revoluções proletárias [...] se criticam constantemente a si próprias, interrompem continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçá-lo outra vez, escarnecem com impiedosa consciência as deficiências, fraquezas e misérias de seus primeiros esforços, parecem derrubar seu adversário apenas para que este possa retirar da terra novas forças e erguer-se novamente, agigantado, diante delas, recuam constantemente ante a magnitude infinita de seus próprios objetivos, até que se crie uma situação que torna impossível qualquer retrocesso e na qual as próprias condições gritam:
Hic Rhodus, hic salta!" (Aqui está Rodes, salta aqui! - citando Esopo)

O 18 Brumário de Luís Bonaparte

No 129º Aniversário da Morte de Karl Marx

CAMARADA MARX PRESENTE!!

16 de nov. de 2011

Uma leitura imperdível para os novos tempos: 'Como Mudar o Mundo' de Hobsbawn

Como Mudar o Mundo
Eric Hobsbawm


Como demonstram os prefácios, artigos, conferências e ensaios reunidos em Como mudar o mundo, a militância política de Eric Hobsbawm tem convivido de modo fecundo com sua consagrada produção intelectual. Numa coletânea que abrange décadas de intensa proximidade com a obra de Karl Marx (1818-83) e a tradição marxista, o historiador britânico reafirma a atualidade das reflexões sobre o capitalismo realizadas pelo filósofo, sociólogo e jornalista alemão - e seu colaborador, Friedrich Engels (1820-95) - a partir da década de 1840.
 

O livro consiste numa espécie de tributo à influência de Marx sobre Hobsbawm, algo visível ao longo de toda sua trajetória acadêmica e política. Firmemente estabelecidas desde 1931, quando ingressou ainda adolescente numa liga de jovens comunistas em Berlim, as simpatias ideológicas do historiador não comprometem, contudo, a lucidez da sua interpretação dos trágicos erros cometidos ao longo do século xx em nome das ideias do autor de O Capital.
Leia mais
Da Livraria da Folha.
Editado por Eri Santos Castro.
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14 de nov. de 2011

Grécia, Itália e os sagazes sarcasmos de Marx sobre os “governos técnicos”

Se retornasse ao debate jornalístico, analisando o caráter cíclico a crise capitalistam de hoje, Marx seria lido com interesse na Grécia e na Itália por um motivo especial: a volta do “governo técnico”. Para ele, esse tipo de governo representa a impotência do poder político em um momento de transição. Os governos já não discutem as diretrizes econômicas, mas, ao contrário, elas é que são as parteiras dos governos. O artigo é de Marcello Musto.

Editado por Eri Santos Castro.
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25 de ago. de 2011

"Como mudar o mundo", o novo livro de Eric Hobsbawm

Imperdível: leitura obrigatória


Após se sentir parte da geração com a qual se extinguiria o marxismo da vida política e intelectual do Ocidente, as crises financeiras, a espiral conflitiva do capitalismo e as mudanças na América Latina deram a Eric Hobsbawm, aos 94 anos, a alegria de voltar a Marx.

Em seu novo livro, que tem o sugestivo título Como mudar o mundo, o historiador refuta com sua habitual lucidez as más interpretações, arquiva os preceitos que envelheceram e utiliza as ferramentas oferecidas pelo autor de O Capital para entender o mundo no século 21 e fazê-lo um lugar melhor.

Aos 94 anos, depois de publicar suas extraordinárias memórias (Tempos Interessantes), o grande historiador inglês Eric Hobsbawm – que dedicou sua vida à análise e explicação da era moderna, desde a Revolução Francesa até os estertores do século 20 – tinha um livro a mais para escrever: Como mudar o mundo. Após se sentir parte da geração com a qual se extinguiria o marxismo da vida política e intelectual do Ocidente, as crises financeiras, a espiral conflitiva do capitalismo e as mudanças na América Latina lhe deram a alegria de voltar ao seu querido Marx. No livro, refuta com sua habitual lucidez as más interpretações, arquiva os preceitos que envelheceram e utiliza as ferramentas oferecidas pelo autor de O Capital para entender o mundo no século 21 e fazê-lo um lugar melhor.

Imaginem a cena: Eric Hobsbawm, reconhecido historiador inglês de corte marxista, e George Soros, uma das mentes financeiras mais importantes do mundo, encontram-se para um jantar. Soros, talvez para iniciar a conversa, talvez com o objetivo de continuar alguma outra, pergunta a Hobsbawm sobre a opinião que este tem de Marx. Hobsbawm escolhe dar uma resposta ambígua para evitar o conflito, e respondendo em parte a esse culto à reflexão antes que ao confronto direto que caracteriza seus trabalhos. Soros, ao contrário, é conclusivo: “Há 150 anos esse homem descobriu algo sobre o capitalismo que devemos levar em conta”.

A estória parece quase seguir a estrutura de uma piada (“Soros e Hobsbawm se encontram em um bar...”), mas é o melhor exemplo que o historiador inglês encontra para mostrar, no começo do seu livro, essa ideia que está pairando no ar há tempos: o legado filosófico de Karl Marx (1818-1883) está longe de ter se esgotado e, muito pelo contrário, as publicações especializadas da atualidade, o discurso político cotidiano, a organização social de qualquer país não fazem outra coisa que invocar o seu fantasma para lidar com esse angustiante problema que tomou o nome histórico de “capitalismo”.

No livro, recentemente publicado em castelhano, que leva o sugestivo título Como mudar o mundo, Hobsbawm volta a oferecer seu indiscutível talento para colocar as proposições daquele filósofo alemão que seguem tendo uma vigência definidora para construir o presente.

Repassemos antes a presunção de morte que se pendurou no pescoço de Marx durante o último quartel do século 20: a crise do petróleo de 1973 desencadeou um processo político e econômico que organizou o que Hobsbawm qualificou como reductio ad absurdum das tendências da economia de mercado. A situação provocou o surgimento de governos conservadores nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha (com Ronald Reagan e Margaret Thatcher à frente de seus países), ao mesmo tempo que implicou em diversos territórios a implantação de economias de claro corte financeiro, situação que na América Latina trouxe aparelhado o surgimento de governos de fato que impuseram este tipo de organização pela força, suplantando as estratégias de desenvolvimento industrial e substituição das importações por facilidades para os capitais andorinha, a especulação e a desestruturação das organizações sindicais (somados, é claro, às estratégias de repressão dispostas há muito tempo antes dos golpes, como mostra a história nacional).

Aquela série de mudanças culminou com a queda do Muro de Berlim e do bloco soviético em 1989-1991: a URSS não podia resistir muito mais tempo com sua particular versão do marxismo e sua economia planejada. Francis Fukuyama, pensador norte-americano de corte neoliberal, se apropriou de algumas noções da filosofia hegeliana para dar a sentença final acerca desta sucessão de acontecimentos: estávamos diante do “fim da História”, o desaparecimento do mundo organizado em blocos opostos que havia marcado o destino de tudo o que conhecemos desde o final da 2ª Guerra Mundial em diante.

É neste panorama conciliador da economia globalizada e aparente pacificação social que, ao longo da década de 1990, todo o mundo deu por enterrado o pensamento marxista, inclusive com certas justificativas de índole ética: o nome de Karl Marx sempre vinha acompanhado de Joseph Stalin, entre muitos outros. Marx não era apenas uma má palavra para um guru econômico, mas também para um cidadão das zonas mais pobres da Rússia, que via com prazer a forma como caíam as estátuas de Lênin, Stalin e do próprio Marx.

Quem teria dito então que veríamos uma foto de Sarkozy lendo O Capital e o papa Bento XVI elogiando a capacidade analítica de seu autor?

Entre 2007 e 2009 (2001, para nós), uma série de crises do sistema capitalista financeiro (ou “capitalismo tardio”, tal como o identificaram pensadores como Frederic Jameson ou Jürgen Habermas), demonstrou que o que se pensou como o começo de uma era de tranquilidade em termos políticos, sociais e, sobretudo, econômicos para depois de 1989, na verdade não era nada disso. O mercado entregue pura e exclusivamente à “mão invisível” de Adam Smith, amparado pela domesticação do Estado, começou a trincar sem necessidade de conflito com outro sistema econômico-político.

A revolução não é um sonho eterno

Disse-o muito bem a Times após a queda financeira de 2008: “Voltou”. Quem? Marx. Três anos depois, o panorama não melhorou e neste clima pouco promissor, muitos revisam sua figura para recuperar o que foi que disse e o que se pode extrair de sua análise com o objetivo de superar a crise que afeta por estes dias as principais economias do mundo globalizado (basta revisar como começamos cada semana com uma nova “segunda-feira negra”, por não somar mais dias ao calendário).

Aos 94 anos, Hobsbawm observa acertadamente que Marx havia sentenciado qual seria o destino do capitalismo ao seguir a linha que em meados do século 19 insinuava com perfeita clareza: a concentração do capital em poucas mãos produziria um mundo onde apenas um número muito pequeno de pessoas teria o maior número de riquezas, ao passo que o sistema não poderia seguir o ritmo de seu próprio crescimento desproporcionado. A quantidade de riquezas produzidas e o contínuo aumento da população não permitiriam o desenvolvimento igualitário de todos os indivíduos, ao que se somava o fato de que o ritmo de crises cíclicas acabaria aumentando com o tempo até chegar ao ponto da inevitável queda do sistema.

Em 2002, o economista indiano Meghnad Desai já anunciava em um trabalho, A vingança de Marx, onde afirmava que muitos acreditaram que o pensamento do alemão se extinguiria com a queda dos Estados socialistas, mas as teses e observações realizadas nos trabalhos iniciais vão muito além desses 70 anos de governos comunistas que constituíram apenas um “episódio” da virada para o socialismo: os marxismos não ofuscam as observações de Marx, e é esse núcleo básico que é preciso voltar a ler.

Hobsbawm concorda com Desai: uma coisa são os trabalhos originais e outra a maneira como esses livros (com seus avatares particulares, suas más traduções ou suas publicações tardias) formaram escolas ao longo de todo o mundo. Essa história da escola marxista é a que terminou com a queda do Muro, e não a força política e filosófica das primeiras explicações. Este renascer de Marx é o que entusiasma agora um Hobsbawm que se apresentava um tanto decepcionado com a ideia de que, durante a década de 1980 até finais de 2000, o “mundo marxista ficou reduzido a pouco mais que um conjunto de ideias de um corpo de sobreviventes anciãos e de média idade que lentamente se ia erodindo”.

Quais são essas ideias? Que coisas de Marx é preciso conservar? Em primeiro lugar, a natureza política de seu pensamento. Para ele, mudar o mundo é o mesmo que interpretá-lo (parafraseando uma das míticas Teses de Feuerbach); Hobsbawm considera que há um temor político em vários marxistas de se verem comprometidos com uma causa, sabendo de antemão que, para entrar na leitura de Marx, teve que haver primeiro um desejo de tipo político: a intenção de mudar o mundo.

Em segundo lugar, a grande descoberta científica de Marx, a mais-valia, também tem lugar neste ensaio histórico de erro e acerto. Reconhecer que há parte do salário do operário que o capitalista conserva para si com o objetivo de aumentar os lucros, com a passagem do tempo é encontrar a prova de uma opressão histórica, o primeiro passo para chegar a uma verdadeira sociedade sem classes, sem oprimidos. Os operários estão conscientes dessa injustiça e só mediante uma organização política coerente poderão “dar uma reviravolta”. Ao contrário do que acreditavam os gurus da globalização, nem os operários nem o Estado são conceitos em desuso: Hobsbawm esclarece que “os movimentos operários continuam existindo porque o Estado-nação não está em vias de extinção”.

Por último, a existência de uma economia globalizada demonstra aquilo que Marx reconheceu como a capacidade destruidora do capitalismo, mais um problema a resolver que um sistema histórico definitivo. Hobsbawm chama a atenção, a partir do filósofo alemão, para essa “irresistível dinâmica global do desenvolvimento econômico capitalista e sua capacidade de destruir todo o anterior, incluindo também aqueles aspectos da herança do passado humano dos quais o capitalismo se beneficiou, como, por exemplo, as estruturas familiares”. O capitalismo é selvagem por natureza e seu final – ao menos, o final da ideia clássica de capitalismo – é evidente para qualquer pessoa no mundo.

É muito difícil dizer que da análise de Marx se possa tirar um plano de ação “à prova de bala”. A teoria marxista clássica falou muito pouco sobre modelos de Estado ou do que aconteceria uma vez instalada a revolução, mas muito sobre análise econômica: pensando o que acontece é que se pode saber como agir. O que Marx deu foram ferramentas, não receitas dogmáticas. Como bem disse Hobsbawm, os livros de Marx “não formam um corpus acabado, mas são, como todo pensamento que merece este nome, um interminável trabalho em curso. Ninguém vai convertê-lo em dogma, e menos ainda em uma ortodoxia institucionalmente ancorada”.

Mas, claro, a vida oferece surpresas: embora haja colocações de Marx que se conservam, há muitas outras que o curso da História (e dos homens que a vivem) mudou. Por exemplo, um dos paradoxos do século é que, embora Marx acreditasse que a revolução acabaria se dando em todo o mundo (“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”), os levantamentos que terminaram com o marxismo no poder durante o século 20 se deram em países bem diferentes da Alemanha, Inglaterra e França, o triângulo em que, para Marx, tudo começaria.

Por sua vez, o marxismo se misturaria com movimentos de mudança ou grupos que reconheciam diferentes injustiças sociais em territórios insuspeitados. Na Rússia, por exemplo, a filosofia marxista se mesclou com o nacionalismo agrário narodnik, ao menos em um primeiro momento. Na China, a revolução se deu em uma cultura agrícola não-ocidental, imperial e milenar. Por sua vez, todos esses modelos de país tinham muito pouco com a ideia original: assim como afirma Hobsbawm, “no período posterior a 1956, uma grande maioria de marxistas se viu obrigada a concluir que os regimes socialistas existentes, desde a URSS até Cuba e Vietnã, estavam longe daquilo que eles mesmos teriam desejado que fosse uma sociedade socialista, ou uma sociedade encaminhada ao socialismo”.

Talvez o artigo mais determinante seja aquele dedicado à redação do Manifesto do Partido Comunista, o texto breve de 1848 onde Marx e Engels declaravam a inevitável presença de um partido que não era, nessa época, o mesmo tipo de organização que o século 20 conhecerá depois das propostas operativas de Lênin. O objetivo fundamental da criação de um PC era distinguir sua proposta da de toda outra forma de avatar socialista, sobretudo em suas variáveis utópicas: de Saint-Simon aos falanstérios de Fourier, onde a liberdade sexual (e as correspondentes “orgias coreografadas”) se equiparavam a uma liberdade de trabalho. Um século e pouco depois, talvez esse PC tenha sido mal entendido.

Pensar a transição de sociedades agrárias para sociedades socialistas, ou revisar a mudança histórica do feudalismo ao capitalismo, foi um dos pontos que mais preocuparam o último Marx: ali se encontra a possibilidade de entender desde o presente os movimentos revolucionários em países com estruturas agrárias como as presentes na América Latina, África ou algumas zonas do Oriente. Para além das condições para que se dê a mudança (descontentamento social, consciência do conflito, etc.), o marxismo clássico do século 19 defendia a necessidade de certas condições objetivas para a revolução: desenvolvimento industrial e comercial em grande escala (longe do artesanato e do comércio “cara a cara”). A América Latina conheceu a refutação destas condições no Che Guevara: onde havia uma necessidade, não havia apenas um direito, mas também uma possível revolução. Hobsbawm, atento a este tipo de experiência, demonstra o interesse particular que existe para revisar a mudança ao socialismo fora dos limites da Europa.

A cintura cósmica de Marx

Em uma entrevista concedida ao jornal The Guardian, e realizada por Tristram Hunt – que acaba de publicar, oh casualidade, a biografia de Engels também resenhada nestas páginas – e publicada em janeiro deste ano, Eric Hobsbawm falou com entusiasmo da recuperação de certa linguagem econômica e política que se acreditava esgotada depois do auge liberal das últimas décadas do século 20: “Atualmente, ideologicamente, sinto-se mais em casa na América Latina porque segue sendo a única parte do mundo onde as pessoas ainda falam e conduzem sua política na velha linguagem, na linguagem do século 19 e do século 20 do socialismo, do comunismo e do marxismo”. Embora a pergunta apontasse para a saída de Lula do governo e a localização do Brasil dentro do grupo de países com perspectivas de liderança mundial (o BRIC, junto com a Rússia, a Índia e a China), a resposta renova a repercussão da conjuntura política latino-americana dentro do panorama mundial e a presença de diversos governos de esquerda e centro-esquerda no continente.

Um dos últimos artigos do livro, “Marx e o trabalho: o longo século”, assinala precisamente que as organizações proletárias com fins políticos não necessariamente vão de mãos dadas com a teoria marxista. O melhor caso para explicar seu ponto de vista o encontra em nosso intrigante país: “Os socialistas e comunistas, frustrados há tempos na Argentina, não podiam compreender como um movimento operário radical e politicamente independente podia desenvolver-se, na década de 1940, naquele país, cuja ideologia (o peronismo) consistia basicamente na lealdade a um general demagogo”.

A vitória de partidos operários no continente, alimentados pela perspectiva marxista de justiça e progresso igualitário, mas não ligados a organizações de claro corte comunista, apresenta a possibilidade de uma transição a um Estado socialista não mediada por uma revolução, assim como se colocou nos termos da URSS e da histórica Revolução de 1917, ou como o imaginário atual lê o futuro da revolução cubana de 1959. Em definitiva, há coisas que a própria História, não Marx ou suas muitas interpretações, demonstraram que são inviáveis: o socialismo russo fracassou por manter uma economia de guerra a curto prazo que se propunha objetivos difíceis que implicavam esforços e sacrifícios excessivos (desde concentrar todo o excedente e o esforço produtivo com a finalidade de conquistar o espaço exterior e mudar as práticas de produção agrária). Distinguir Lênin e Stalin do pensamento de Marx é um acontecimento dado nos últimos anos que pode mostrar as facetas mais interessantes para uma teoria do presente. Ou seja, algo necessário que permite pensar as circunstâncias atuais para escorar a mudança dentro da complexa geografia latino-americana.

O marxismo teve várias crises ao longo de sua história. Desde que se propôs colocar Hegel “de pernas para o ar” e transformar todo o discurso do espiritual em atenção ao material, já em 1890 apareceram os primeiros críticos às formulações básicas desta filosofia. Contudo, há algo nas ideias de Marx que segue interpelando o homem contemporâneo, que segue falando de uma mudança não considerada como mero desejo existencial ou aspiração utópica, mas como situação possível de levar a cabo na atualidade, sobretudo, pela via democrática e partidária.

Como bem pergunta Soros, e como escreve Hobsbawm: “Não podemos prever as soluções para os problemas que o mundo enfrentará no século 21, mas para que haja alguma possibilidade de êxito devemos fazer-nos as perguntas de Marx”.

Por Fernando Bogado* Página/12.
Publicado originalmente em português por IHU Online. A tradução é do Cepat.
Fonte: Blog do Prof. Evaldo e Amigos - "Como mudar o mundo", o novo livro de Eric Hobsbawm
Editado por Eri Santos Castro.
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12 de jul. de 2011

A crítica de Marx à alienação política

Para Marx, a preservação dos direitos do homem, presentes na sociedade civil, seria a razão de ser do Estado. Numa formulação que continuará a ser central no restante da sua obra, considera que ao invés de pôr fim às contradições da sociedade civil, como acreditara Hegel, o Estado existiria como instrumento para a manutenção dessas contradições, ou seja, a política não resolveria os problemas da sociedade civil, mas como que os refletiria. Nesse sentido, haveria uma espécie de alienação política, em que se acredita que as particularidades constitutivas da sociedade civil seriam superadas na universalidade do Estado.

Por Bernardo Ricupero, do Jornal de Resenhas.
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 Enviado por Eri Santos Castro.
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24 de mar. de 2011

Imperialismo, fase atual do capitalismo

Reproduzo artigo de Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

Mesmo sabendo que o Brasil não votou a favor da resolução da ONU sobre o ataque à Líbia, Obama teve a deselegância de dar a ordem de começo da operação militar em solo brasileiro, durante sua viagem relâmpago ao nosso país. Ao mesmo tempo, esbanjou charme, ele e sua mulher, fez elogios fartos ao Brasil e a Dilma – mesmo se muito parco nos acordos concretos.

A visita de Obama permitiu conhecer de perto as duas caras do mesmo do rosto da potência imperial. A fisionomia pode ser grosseira, como a do seu antecessor, Bush, ou ter a cara simpática de Obama, mas a politica continua sendo a mesma: imperial, belicista, agressiva.

Porque os EUA não são apenas um país rico. São a cabeça do sistema imperialista mundial. Um sistema que teve sua origem no sistema colonial, aquele que, desde a Europa, submeteu os países dos outros continentes, os explorou, os oprimiu – usando trabalho escravo da África –, dividiu-os entre si e constituiu um sistema internacional de poder que passou a controlar o mundo, sob hegemonia inglesa.

A decadência inglesa abriu campo para uma disputa de sucessão entre duas potências emergentes – a Alemanha e os EUA -, que as duas guerras mundiais resolveram a favor deste último. Ao mesmo tempo, as formas de dominação foram mudando. Da ocupação direta, que considerava que as colônias faziam parte dos territórios do país colonizador, foi se passando a formas de dominação que conviviam com a independência politica dos países dominados, mas submetidos a forte controle econômico, tecnológico e militar. Foi se passando do sistema colonial ao sistema imperialista, que tem nos EUA sua cabeça fundamental. Fundem-se no poder norteamericano o poder econômico, político, tecnológico, militar e ideológico.

O imperialismo e os monopólios são a consequência natural da concorrência capital no mercado, em que os mais fortes se tornam cada vez mais fortes, os poderosos cada vez mais poderosos. A concentração de renda e de poder é um resultado obrigatório das condições da concorrência, em que o Estado tem um papel estratégico, seja de favorecer os grandes grupos econômicos, seja de promover os interesses das grandes potências nos conflitos internacionais.

Os EUA passaram a defender os interesses do bloco capitalista em escala mundial, mediante sua força militar, sua capacidade de ação politica, de exportação global dos valores das suas formas de vida – o “modo de vida norteamericano”. Defendeu a esse bloco durante a Guerra Fria – do término da Segunda Guerra Mundial até o fim da URSS (de 1945 a 1991) – contra os “riscos do comunismo”.

Terminado esse período, passaram a buscar inimigos que justificassem a manutenção e a contínua militarização da sua economia e dos conflitos. Encontraram no “terrorismo” esse novo inimigo. As guerras do Afeganistão, do Iraque e agora da Líbia expressam a forma concreta que essa luta adquire – contra países árabes, portadores de recursos energéticos que os países ocidentais não dispõem ou dispõem de forma insuficiente.

Por que governantes de partidos distintos, com estilos diferentes, acabam defendendo os mesmos interesses: respeitando antes de tudo o poder dos bancos, da indústria bélica, mantendo as guerras iniciadas e começando outras? Porque, para além daquelas diferenças, se mentem o mesmo papel imperialista dos EUA? Porque é um Estado que tira sua legitimidade, sua força, dessa função de líder do bloco das potências capitalistas no mundo.

As guerras sempre foram parte integrante na afirmação da superioridade imperialista. Aproveitando-se da sua superioridade no plano militar, tratam de resolver os conflitos pela força, impõem-se a seus aliados valendo-se dessa superioridade militar. Assim os EUA se tornaram a potência mais bélica da história da humanidade, não apenas pelo seu poderio militar, mas também pela quantidade de invasões, agressões, desembarques, participações em golpes militares.

Mesmo com a economia em recessão, os EUA mantem sua capacidade de intervenção militar, de forma direta ou através de aliados, em quase todas as regiões do mundo, de que a Líbia agora é a confirmação. A luta pela democracia no mundo passa pela ruptura do mundo unipolar e a passagem a um mundo multipolar, em que o maior numero de vozes possíveis sejam ouvidas para decidir os destinos da humanidade, até aqui concentrados nas mãos do maior império e o mais agressivo que a história conheceu.

Enviado por Eri Santos Castro.
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14 de fev. de 2011

O peso da camisa do Corinthians

O peso da camisa do Corinthians
 Foto: Joaci Espinos Brandão

Jogar no Corinthians é diferente. Não é como uma paixão adolescente descartável, tampouco uma daquelas certezas que possuíamos naquela época. É amor inconteste, é a alma gêmea com a qual sonhamos desde que a testosterona toma conta do nosso ser. Jogar no Corinthians é respeitar uma cultura, um povo, uma nação. É ter em conta que em cada segundo de nossas vidas é para servir a uma causa e não para dela usufruir. Jogar no Corinthians é como ser convocado para a guerra irracional e jamais duvidar que ela é a mais importante de todas as que existiram. É ser sempre chamado a pensar como Marx, lutar como Napoleão, rezar como o dalai-lama, doar a vida a uma causa como Mandela e chorar como criança.


Por SócratesVeja artigo completo, na Carta Capital, aqui.

Enviado por Eri Santos Castro.
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6 de jan. de 2011

“Em torno de Marx” é o mais novo livro de Leandro Konder

Numa época em que Marx, ao mesmo tempo que está ontologicamente atualíssimo, permanece sepulto e enterrado epistemologicamente por muitas escolas da irrazão, a publicação deste novo livro de Leandro Konder é um convite aberto para que seus leitores possam redescobrir Marx.
Marx se tornou uma celebridade por suas intervenções polêmicas no campo da história, na crítica da economia política, na análise das lutas de classes e na mudança das relações de produção. Entretanto, um aspecto de sua contribuição à construção do conhecimento na cultura do Ocidente ficou subaproveitado: a dimensão filosófica.
Uma recuperação da criatividade e do vigor crítico do pensamento radical de Marx depende desses teóricos ousados, pois são eles que o mantêm vivo; mas, para ser coerente com sua concepção da história, para ressurgir com toda a força no campo de batalha, o marxismo precisa encontrar nos movimentos sociais seu “exército”, seus “portadores materiais”, aos quais leva sua perspectiva revolucionária. É o encontro da ação com a teoria – aquilo que Marx chamou de práxis.

*Sobre o autor
Leandro Konder nasceu em 1936, em Petrópolis (RJ), filho de Valério Konder, médico sanitarista e líder comunista. Formado em Direito, Leandro exilou-se em 1972, após ser preso e torturado pelo regime militar, e morou na Alemanha e depois na França até seu regresso ao Brasil em 1978. Doutorou-se em Filosofia em 1987 no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. É professor do Departamento de Educação da PUC-RJ e do Departamento de História da UFF. Tem vasta produção como conferencista, articulista de jornais, ensaísta e ficcionista. Em 2002 foi eleito o Intelectual do Ano pelo Fórum do Rio de Janeiro, da UERJ. Um dos maiores estudiosos do marxismo no país, é autor, entre outras obras, de Sobre o amor(Boitempo, 2007), As artes da palavra – elementos para uma poética marxista (Boitempo, 2005), A questão da ideologia (Companhia das Letras, 2000), Barão de Itararé, o humorista da democracia(Brasiliense, 1982) e Os marxistas e a arte (Civilização Brasileira, 1967).

  
Sugestão de pauta: Bruno Rogens.
Enviado por Eri Santos Castro. 

18 de nov. de 2010

A dialética da libertação: contracultura e sociedade unidimensional

Reproduzo este artigo de Robespierre de Oliveira, em que afirma que Marcuse teve como mira a perspectiva utópica de transformação da realidade existente. Excelente leitura.



A década de 1960 foi marcada por grandes conflitos e mobilizações sociais, nas quais a questão da liberdade era fundamental. Além do combate contra a opressão econômica e política, colocou-se em debate a questão sexual, o racismo, a emancipação da mulher, os direitos humanos, a liberdade de expressão, entre outras questões. A perspectiva de uma revolução social colocava-se para além da transformação do sistema econômico e político. O confronto de gerações tomou dimensões jamais imaginadas. A juventude questionava o modo de vida, propondo uma nova estética, novas roupas, novo comportamento, novas atitudes. Do “flower power” dos hippies à “imaginação no poder” das ruas de Paris, passando pelos Black Panthers, a juventude (operários e estudantes) elaborou diferentes níveis de sua perspectiva de mudança social e de libertação. Nesse contexto, Herbert Marcuse tornou-se conhecido de um público para além do meio acadêmico, por ser um defensor do movimento de libertação, em todas as suas formas: o movimento feminista, o movimento ecológico, o movimento operário, o movimento estudantil, o movimento negro, a guerra de libertação das colônias, a guerrilha latino-americana, o combate ao stalinismo e a luta contra o imperialismo, entre outros. Não só a postura política de Marcuse foi admirada, como também sua posição teórica. De fato, sua filosofia encontrou eco nos anseios de muitos jovens. Entretanto, Marcuse afirmava que o movimento de libertação da juventude não se baseava em suas teorias, mas nas próprias necessidades vitais dela.
“A recusa do intelectual pode encontrar apoio noutro catalisador, a recusa instintiva entre os jovens em protesto. É a vida deles que está em jogo e, se não a deles, pelo menos a saúde mental e capacidade de funcionamento deles como seres humanos livres de mutilações. O protesto dos jovens continuará porque é uma necessidade biológica. Por natureza, a juventude está na primeira linha dos que vivem e lutam por Eros contra a Morte e contra uma civilização que se esforça por encurtar o atalho para a morte, embora controlando os meios capazes de alongar esse percurso. Mas, na sociedade administrativa, a necessidade biológica não redunda imediatamente em ação; a organização exige contraorganização. Hoje, a luta pela vida, a luta por Eros, é a luta política.” (Eros e Civilização).

Clamor por libertação
O movimento dos anos 1960 resulta do contexto histórico, político, social e cultural. Havia a sombra dos horrores da guerra, das duas primeiras guerras mundiais, da possibilidade de uma catástrofe nuclear anunciada pela Guerra Fria, da guerra da Coreia e do Vietnã. A União Soviética entrara num processo de crise que a levaria à Perestroika e a seu fim em 1991. Krushev delatou os crimes de Stalin, após sua morte, na década de 1950. Isso fez com que países do bloco soviético tentassem libertar-se, como a Hungria em 1956 e a Thecoslováquia em 1968. Por outro lado, Cuba teve de se submeter à União Soviética para salvar sua revolução, a qual deu novo fôlego à luta contra o imperialismo norte-americano e às lutas contra o colonialismo, principalmente na África. Essa também foi uma época de grande desenvolvimento tecnológico, que popularizou o automóvel e a televisão e anunciou a robótica e o computador. Do ponto de vista cultural, avançou a indústria cultural ao mesmo tempo em que os jovens buscavam experiências rebeldes e alternativas, como o existencialismo de Sartre e Camus, os beatniks, os junkies, os punks dos anos 1950 e 1960, os hippies, as peças de Samuel Beckett, a pop arte, o rock’n’roll, o rhythm’n’blues, o cinema novo (seja brasileiro, a nouvelle vague, o cinema italiano, Bergman e o cinema japonês), entre outras. A necessidade dos jovens estava em não querer ir para guerra, em não ter uma vida medíocre, em explorar os potenciais criativos, em explorar o corpo e o prazer. Isso implica combater a moral, os costumes, as ideologias vigentes, assim como dedicar-se a um trabalho exaustivo e alienante. Para as mulheres, tratava-se de combater o machismo, assumir seu corpo (principalmente com a invenção da pílula anticoncepcional) e ter posições sociais. Para os negros, tratava-se de ter direitos civis (principalmente nos Estados Unidos e na África do Sul). De modo geral, era uma época clamando por libertação.
Marcuse, desde o início de sua obra, teve como mira a perspectiva utópica de transformação da realidade existente. Por “utopia”, entenda-se algo possível, embora ainda não realizado (cf. Ernst Bloch), e não a conotação do senso comum de “sonho impossível”. Em seu texto Sobre a Filosofia Concreta (1928), afirmava que a filosofia como atividade humana deveria preocupar-se com os homens. Em Filosofia e Teoria Crítica (1937), afirmou que a teoria crítica se encontra com o materialismo na preocupação com a transformação da realidade social e que essa se dá visando à felicidade material dos homens. Em Razão e Revolução (1941), postula que a teoria de Marx superou o idealismo hegeliano por pretender a realização da felicidade.

A felicidade
A questão da felicidade surge como medida da crítica à realidade existente. Considerando-se a crítica da economia política como a crítica das relações sociais, entende-se que o problema do modo de vida é produto dos próprios homens. O problema da humanidade, segundo Marx, surgiu quando as relações sociais entre os homens transformaram-se em relações econômicas, as quais pressupõem a desigualdade. Desde Platão, são muitos os filósofos que tentaram vislumbrar a possibilidade de uma sociedade humana mais harmoniosa. No caso do capitalismo, desde seu início, houve contestações a seu estabelecimento. As diversas utopias eram um protesto contra o modo de vida, tal como a contracultura dos anos 1960. Marx viu no sistema capitalista, graças ao desenvolvimento das forças produtivas, a possibilidade de superar a dominação do homem pelo homem (incluindo a dominação das mulheres e da natureza). Entretanto, apesar das bases materiais estarem dadas, a dominação ideológica mantém o sistema funcionando com todas as suas contradições. O grande problema para Marx estaria no obscurecimento da consciência de classe dos trabalhadores. A questão é: como a maioria se submete à exploração de uma minoria, sem coerção física? Diferentemente de outros sistemas econômicos, o trabalho no capitalismo é livre. A pressuposição de liberdade organiza o sistema ideológico de dominação.
Walter Benjamin foi um dos primeiros a perceber como os meios de reprodução técnica das mercadorias (incluindo a obra de arte) afetaram a estrutura social. Até o século 19, os trabalhadores não eram verdadeiramente consumidores, havia um grande fosso entre eles e as classes mais abastadas. Mesmo a obra de arte tinha um caráter diverso, poder-se-ia dizer elitista. Com a reprodutibilidade técnica, as mercadorias baixaram seu custo e passaram a ser acessíveis, integrando os trabalhadores de fato à ordem social. Comparado com o século 19, o século 20 insere os indivíduos no frenesi da ordem capitalista de tal modo que parece haver um déficit. A obra de arte perde sua aura, os homens perdem a capacidade de narrar, o efeito de choque impede os homens de desfrutar desinteressadamente da paisagem, a racionalidade torna-se cada vez mais instrumental. Marcuse critica o processo de reificação, em que os homens são tomados como coisas, ao afirmar que o corpo pode ser objeto de trabalho penoso, mas não do prazer. Nietzsche já criticara a moral cristã por seu culto ao sofrimento e negação do prazer e da felicidade. Freud escreveu que o processo civilizatório busca esconder o caráter animal dos homens, como a repressão à sexualidade.
Assim, a moral, a ideologia, a reificação, o processo de consumo, a racionalidade instrumental estão na base do processo de dominação que os próprios homens livremente atendem. A percepção dos frankfurtianos, entre outros, é que o processo de dominação capitalista não é apenas econômico ou político, mas envolve o todo da vida. A luta contra o capitalismo torna-se uma necessidade biológica em virtude do encurtamento da própria existência dos indivíduos, seja por meio de guerras, de consumo de pesticidas, de drogas químicas, de trabalho penoso, de asfixia psíquica. Christoph Türcke, em A Sociedade Excitada (2010), revela a sociedade contemporânea como a do masoquismo social.
Em O Homem Unidimensional (1964), Marcuse pergunta se a ameaça da catástrofe atômica pode garantir a liberdade, se se deve continuar a viver à beira do abismo. A luta por Eros, o princípio de vida, exige uma vida pacificada, contrária à ordem estabelecida da ameaça constante. Os jovens nos anos 1960 tentaram exprimir sua rebeldia e revolta contra a ordem e o modo de vida desde oferecendo flores aos militares até combatendo nas ruas. A contracultura buscava estabelecer meios alternativos da existência, assim como as antigas utopias. Alguns buscavam experiências em antigas culturas, como o uso de drogas para escapar da realidade opressiva. O surrealismo tem muita identidade com essas tentativas. “Sejamos realistas, exijamos o impossível.”
A revolução sexual, preconizada por Wilhelm Reich nos anos 1920, foi possível graças à pílula. As mulheres queimaram seus sutiãs contra a dominação machista. Marcuse apoiou o movimento feminista, o movimento ecológico e diversos outros. Mas ele tinha claro que o processo de contenção estava cada vez mais presente. Não à toa, um de seus últimos livros, Contrarrevolução e Revolta (1972), adverte para o perigo iminente da contrarrevolução. Não se pode esquecer do desfecho da Primavera de Praga, quando os tanques soviéticos sufocaram o desejo de liberdade dos tchecoslovacos. Ditaduras militares foram implantadas na América Latina e em outros continentes. A aids deu motivo para uma contrarrevolução sexual. A queda do Muro de Berlim, em 1989, reforçou o tema do fim das ideologias. Hoje as mulheres devem retroceder à moral religiosa. O clamor de libertação foi silenciado. As utopias são negadas. Mas as contradições não resolvidas ainda permitem pensar suas possibilidades.

Enviado por Eri Santos Castro.