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20 de abr. de 2014

Governador do PT participará da campanha eleitoral do Maranhão

tarso flavio dino No MA eu votaria, sem dúvida, no Flávio Dino, declara governador petista

Pelo Twitter, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), declarou apoio a candidatura de Flávio Dino (PCdoB) para o governo do Maranhão. O petista também incentivou a militância que apoia o ex-presidente da Embratur.


“No Maranhão eu votaria, sem dúvida, no Flávio Dino. Estou com os petistas que estão com ele,” declarou Genro, que também foi ministro da Educação e da Justiça no governo do ex-presidente Lula.

Com o Blogue Marrapá/Leandro Miranda.
Enviado por Eri Santos Castro.
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16 de mar. de 2014

O aniversário do governador Tarso Genro por Manuela D'Ávila


Estou voltando do aniversário do governador Tarso Genro. Estava linda a festa. Mas a parte mais emocionante e que quero compartilhar com vocês foi o show do Hique Gomez. Que show, que talento de todos os músicos, que bem para a alma que faz ver um artista como Hique esbanjando criatividade. Porto Alegre Tango!

28 de fev. de 2014

Eleições 2014: 'Não modifiquei um milímetro a minha posição', diz Tarso Genro

Caroline Bicocchi - Imprensa/Palácio Piratini


Governador do Rio Grande do Sul diz que não modificou um milímetro sua posição em relação à decisão de concorrer ou não à reeleição este ano.


Porto Alegre - O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, disse ao Sul21 nesta sexta (28) que não modificou um milímetro sua posição em relação à decisão de concorrer ou não à reeleição na eleição deste ano. Os dois temas mencionados nos últimos meses como condições para a candidatura à reeleição (a relação da presidenta Dilma Rousseff com seu palanque no RS e a questão da reestruturação da dívida do Estado) tem a ver, disse Tarso, com a necessidade de “dar coerência programática e força eleitoral para a continuidade do nosso projeto aqui no Rio Grande do Sul”.

O chefe do Executivo gaúcho defendeu que fazer o debate da dívida e dos obstáculos internos e externos que o governo federal enfrenta nesta questão não implica divergir da posição de Dilma Rousseff. Tarso acredita que a sociedade precisa se apropriar de temas como o da pressão exercida pelas agências de risco sobre estados soberanos. Ele contou uma história envolvendo um escritor italiano para ilustrar esse assunto:

“O grande escritor italiano Italo Svevo, um dependente do fumo, lutava duramente para livrar-se do vício e colocava o seu drama praticamente todos os dias, em cartas a sua mulher, já que ele trabalhava fora do seu país, a Itália. No fim do ano de 1896, numa das cartas que é apenas uma do seu ciclo de promessas  à esposa, ele escreve a seguinte frase: “estou fumando o último cigarro como prêmio por  ter estado sem fumar até agora”. Fazia um mês que Svevo não fumava.  Creio que esta é uma boa metáfora para a relação dos países com as  chamadas agências de risco, que são empresas privadas que orientam a especulação, o rentismo e os ataques às moedas dos países endividados, estimulando um vício infinito a respeito dos seus prognósticos.  Compartilhar do debate sobre isso não é  dissentir do Governo nem desrespeitar a liderança da Presidenta, mas é ajudar a formar uma massa crítica para, na globalização financeira, ajudar o país a formar uma massa crítica a respeito desta tutela”.

Tarso também comentou a recente passagem da presidenta Dilma pelo Estado e algumas cobranças que recebeu por não ter abordado publicamente o tema da dívida:

“Disse reiteradamente e foi largamente publicado, que não abordaria este assunto com a Presidenta, pois isso poderia soar como uma interpelação e um desrespeito a sua liderança e que esta matéria não é uma matéria exclusivamente do nosso Estado, mas é uma questão importante da Federação. A Presidenta, quando lida com este assunto, está pensando nas relações do país com as pressões internacionais, está pensando na política de juros, está pensando nas contas públicas como conjunto, por isso ela deve falar quando quiser e orientar a sua equipe segundo a visão abrangente que tem do país. Eu, quando lido com este assunto, lido com o destino específico do Rio Grande dentro da Federação e naturalmente  olho o “fenômeno” de outro lugar. A paisagem muda de cor, muda de luz, muda sua aparência, segundo o lugar que você  a observa. O meu entendimento é que o Brasil tem 360 bilhões de dólares de reserva e que  a reestruturação da dívida, sem aumentá-la, não muda nossa situação fiscal. Por isso vou continuar liderando, com outros colegas Governadores,  a luta para a aprovação do Projeto de Lei Complementar que a reestrutura”.

Segundo o governador, as conversas com Dilma, durante sua estada no Rio Grande do Sul na semana passada, trataram de temas como o crescimento industrial do Estado, a visita da presidenta ao Papa, as obras da União e da Copa, a base de apoio dos governos federal e estadual no RS e o cenário internacional. Tarso assegurou que, em nenhum momento, Dilma fez qualquer solicitação para que ele parasse as articulações para a votação do projeto de reestruturação da dívida e tampouco “fez qualquer correção aos meus juízos sobre as agências de risco ou mesmo sobre o que ocorreu no Senado, com a presença do ministro Guido”.

Ter pontos de vista diferentes sobre uma questão financeira específica, assinalou ainda,  “não significa conflito nem desarranjo nas relações políticas”. E acrescentou:

“De mais a mais,  todos estamos conscientes que a nossa estratégia geral  visa é a  reeleição da Presidenta, para que o Brasil continue mudando para melhor e possa, o Governo, enfrentar no próximo mandato, os novos desafios que o movimento social vem propondo de maneira bem acelerada, principalmente a questão da saúde e do transporte coletivo nas grandes regiões metropolitanas”.

Tarso abordou também a questão de sua candidatura ou não à reeleição, garantindo que não está fazendo qualquer tipo de imposição para anunciar sua decisão:

“O que a crônica política  chamou de condições, para a minha candidatura, como se eu estivesse fazendo uma imposição, são, na verdade,  pré-requisitos de viabilidade  eleitoral, pois reiteradamente tenho colocado que, o que  se trata é de dar coerência programática e força eleitoral para a continuidade do nosso projeto, aqui no Rio Grande do Sul”.

E destacou os ganhos que o Estado já teve pelo alinhamento político com o governo federal:

“Isso tem sido ótimo para o Rio Grande do Sul, não só pelo volume de obras da União, mas também pelos financiamentos obtidos pelo nosso Governo, acordados  diretamente com a Presidenta e, em segundo lugar,  por que sem a reestruturação da dívida  não poderemos obter novos financiamentos, principalmente para infraestrutura e, ao não obtê-los,  o nosso segundo governo não teria a mesma força para impulsionar o crescimento do Estado, com distribuição de renda”.

Sobre a decisão de concorrer ou não concorrer, afirmou:

“Não modifiquei um milímetro a minha opinião sobre isso nem sobre a viabilidade de apresentar o meu nome, sem estas condições. Tenho advertido ao Partido, pela sua direção nacional, que o Rio Grande não pode ser analisado como outro Estado qualquer,  no que toca aos processos eleitorais. O que fará maioria para Dilma, aqui, é o seu Governo, é a atenção que ela está dando ao Rio Grande, é o seu bom Governo. É a ação militante da esquerda, do PT, do centro progressista e democrático.  É claro que,  quanto mais partidos estiveram apoiando-a,  melhor será para a soma de votos. Mas não é, substancialmente,  o apoio de siglas que transfere votos aqui no estado”.

Tarso observou que na eleição de 2010 teve apoio só do PT, PSB e PC do B.
“Ganhei a eleição no primeiro turno, praticamente com quem, na época, era identificado com a esquerda pura”. E definiu o seu governo como um Governo de esquerda que, como tal, tem algumas tarefas bem definidas na atual conjuntura nacional e internacional: democratizar a relação Estado-sociedade com um novo sistema de participação popular cidadã, promover o desenvolvimento com geração de renda e emprego, desenvolver políticas públicas que, no âmbito do território, possam inclusive sinalizar um novo passo para o projeto nacional.

Para isso, acrescentou, “é preciso ter recursos para investir em políticas sociais de combate à pobreza, formação profissional, impulsionar os investimentos privados através da democratização dos incentivos, subsidiar o avanço científico-tecnológico,  aumentar a renda dos assalariados do Estado e das empresas privadas, assim fortalecendo novos sujeitos sociais no âmbito da revolução democrática”. “Se não puder se fazer isso não vale a pena governar. Como eu acho que vale a pena governar e se pode fazer coisas muito boas para fortalecer a democracia, que está em crise em, todo o mundo, vou continuar brigando para criar estas condições”, anunciou.

Conversa de candidato? O governador disse que sabe que muita gente não acredita que ele não tem nenhuma ambição pessoal de reeleição. Sobre isso, afirmou:

“É claro que um militante político como eu, de esquerda, que aprendeu muito,  principalmente nos últimos 35 anos, que valoriza a ocupação de mandatos para levar a termo as suas lutas, pode e deve concorrer as eleições. Mas esta ‘concorrência’ deve estar vinculada a avanços, a construção de coisas novas, especialmente para melhorar a vida dos que o velho Florestan Fernandes chamava dos de baixo.  Isso, hoje,  se faz por reformas e por políticas públicas de coesão social, crescimento e emprego”.

Tarso disse ainda que não conhece nenhuma força política, hoje, que concorra nas eleições periódicas, que não seja reformista, por mais radical e artificial que seja a sua linguagem, mesmo que no interior dos seus organismos a democracia seja tratada apenas como uma questão tática.  “Ninguém ousa dizer que quer destruir o Estado Democrático de Direito, uma conquista fundamental do povo brasileiro, que é o ponto de partida de uma democracia de conteúdo, de uma democracia substantiva, que, para nós, pelo menos de uma grande parte do PT, se chama socialismo”.

Por fim, o governador admitiu que grupos de esquerda mais radicais podem trazer alguma contribuição para a esquerda que está em governos:

“O  revolucionarismo romântico, que seguidamente aparece nos processos históricos, principalmente através de grupos que tem muita estética, pouco conteúdo e nenhum programa capaz de seduzir e organizar os trabalhadores, é um elemento vital de democratização da democracia. Ele normalmente acorda os acomodados e corrige governos que tendem a perder a imaginação e o rumo”.

5 de nov. de 2013

Tarso Genro vem aí


O governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro está programando uma visita ao Maranhão. Poderá desembarcar, em São Luís, no início do mês de dezembro, para uma conferência sobre democracia direta e a experiência do 'Gabinete Digital', do seu governo.

Mais de dois milhões de pessoas já participaram de audiências publicas com o governador Tarso, decidindo sobre diversas políticas públicas. A Iniciativa é do Sindicato das Empresas de Turismo do Maranhão, CUT-Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical e da Comissão pró-Instituto Cidade Criativa com o apoio da UFMA

4 de nov. de 2013

20 de ago. de 2013

Comissão da Verdade se prepara para exumação do corpo de Jango

A Comissão Nacional da Verdade inicia nesta quarta-feira os preparativos para a exumação do corpo do ex-presidente da República João Goulart, em São Borja, no Rio Grande do Sul. Há suspeita de que Jango tenha sido morto por agentes das ditaduras do Brasil, Argentina e Uruguai. Oficialmente, o político sofreu um infarto em 1976.
Com a BandNews.
Enviado por Eri Santos Castro.
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17 de jul. de 2013

TARSO GENRO: Por uma esquerda à altura da crise da República


Por uma esquerda à altura da crise da República
Quinta-feira, 27 de junho, Porto Alegre, frente do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Nove horas da noite. Na Praça da Matriz, mais de quatro mil manifestantes fazem seu protesto legítimo em perfeita harmonia, inclusive com as forças da Brigada Militar, que garantem a segurança para a cidadania manifestar-se livremente. Um cordão de isolamento de policiais militares, protegidos por escudos, garante a integridade do Palácio.
Durante uma hora e meia os policiais aguentam impávidos e disciplinados, por ordem originária do próprio Governador, uma chuva de pedras, garrafas e paus, jogadas por aproximadamente 150 mascarados, postados no lado esquerdo do Praça, fundidos no meio de uns 200 manifestantes, que não impedem suas ações violentas e provocativas, mas inibem uma resposta da Polícia, cuja reação poderia atingir pessoas que, inocentemente ou não, não estavam envolvidas na “ação direta”.
No céu, um helicóptero com letreiros eletrônicos voeja rente à Praça, com dizeres contra a existência dos Partidos e afirma que, desta forma –sem os partidos- o Brasil “tem jeito”. Quem promoveu este voo? Quem o pagou? Como ele se conecta com as manifestações?
Dentro do Palácio um “governo de partidos”, eleito no primeiro turno, que governa com mecanismos de participação popular combinados de forma inédita, tais como o Orçamento Participativo, o Gabinete Digital, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social , a Consulta Popular. Esta, por exemplo, é um procedimento de votação eletrônica ( 1 milhão e 100 mil votos no anos passado) que, através de perguntas diretas à população, promove a liberação hierarquizada de recursos (este ano, mais de duzentos milhões de reais) para investimentos, principalmente em pequenas obras e nas áreas da saúde e da educação.
Seguramente, neste evento emblemático temos três protagonistas claros da crise: a cidadania manifestando-se na defesa de direitos; grupos “sem rosto” que servem de massa de manobra para provocações, como ocorre historicamente nestas conjunturas (cujos objetivos são obscuros, mas funcionam como desestabilizadores da democracia política); e a direita conspirativa, que trabalha nas “sombras” –no caso, “no ar”- dando sequência ao trabalho feito pela mídia dominante, que nos últimos anos dissolveu o prestígio dos partidos, dos políticos em geral e de todas as instituições democráticas da República.
As causas mais visíveis da insatisfação popular, certamente estão nas péssimas condições do transporte coletivo e do sistema de saúde pública nas grandes regiões metropolitanas. Ou seja, na verdade faltou Estado, seja como prestador, seja como organizador-controlador, o que se combinou com a ascensão de milhões de jovens ao mundo do trabalho e às universidades públicas e não públicas (estas, através do Prouni), sufocando, não só a mobilidade destas grandes regiões, mas também a capacidade da estruturas públicas prestarem serviços de mediana qualidade. De outra parte, os apelos da sociedade consumista oferecem promessas espetaculares que apenas uma parte da população pode acessar, transformando o desejo sonegado de muitos em frustração, crime e violência irracional.
Não se pode omitir que sobre estas condições ocorreu um processo geral de hipnose fascista, que não tem precedentes na História do país. E esta “hipnose” concentrou seu convencimento, não na denúncia das desigualdades e da riqueza concentrada, mas na denúncia da “corrupção”, como se ela fosse uma propriedade e uma qualidade dos políticos atuais e dos governos atuais.
Não foi promovido o combate à corrupção como mazela de um Estado reprodutor de desigualdades e protetor de privilégios corporativos e de classe, pois isso suporia reconhecer que tanto nos partidos, no serviço público, como nas empresas, em todas instituições (até mesmo na mídia), há uma grande maioria de pessoas que não tolera a corrupção e que não a aceita, por princípios morais e políticos. A campanha foi feita de modo a incriminar de maneira plena a esfera da política, os partidos e, particularmente, os dois governos que colocaram os pobres e os trabalhadores como protagonistas da cena pública.
Ao fazer uma incriminação generalizada colocando, de um lado, a grande imprensa como a virtude moral do país, e, de outro lado, os partidos e os agentes públicos como a fontes da corrupção, o que ocorreu foi a degradação dos instrumentos democráticos para combater a própria corrupção, restando a grande mídia como fonte de toda a moralidade republicana, com poderes totalitários para dizer quem presta e quem não presta, quem merece confiança e quem não merece. Assim, quando um Juiz Privado, a mídia, transforma-se em monopólio do Juízo Público, estamos entrando numa crise da República: a marginalidade violenta e os fascistas clássicos e pós-modernos, que emergem nesta situação, não precisam mais se conter e sentem-se autorizados ideologicamente a saquear e a incendiar.
É preciso compreender, porém, que o que está ocorrendo no país não é mera invenção midiática. É óbvio que os partidos de esquerda e as instituições “dissolvidas” por esta manipulação sobre a corrupção não são inocentes. Seus vícios, seu acomodamento ideológico, seu afastamento das questões mais intensas que desqualificam a vida cotidiana do povo, facilitaram esta agenda da direita que, como se vê, sorri satisfeita com toda a crise e pretende transformá-la em cavalo de batalha eleitoral. Nossos partidos precisam captar esta energia criadora que vem das ruas e transformá-la em políticas democráticas de largo alcance.
Nestas circunstâncias, a crise da democracia transmudou-se em crise da República. Isso não quer dizer, no entanto, que o pacto democrático não possa ser recuperado, tanto pela “via conservadora”, como pela “via da radicalização da democracia”. Na primeira hipótese, pela “via conservadora”, basta que os poderes voltem a funcionar em relativa harmonia, para simular que “as coisas começaram a melhorar”. Se eles voltarem a operar nesta relativa harmonia, os clamores populares poderão deixar de ser valorizados pelos meios de comunicação e a situação poderá se acalmar, mas a democracia não será revalorizada e a República não será reformada. Nem serão criadas novas instituições que permitam fortalecer a intervenção do povo no processo político e, em consequência, as “crises” virão ainda mais fortes no futuro.
A essência da crise atual, portanto, é que os poderes republicanos e as suas instituições políticas não tem mais chances de recuperar sua plena legitimidade para dar eficiência à democracia - capacidade de resposta às justas demandas populares -, sem novas formas de participação nas decisões públicas e sem novas fontes de legitimação do poder. O Congresso tem mecanismos burocráticos de funcionamento que permitem, frequentemente, que interesses escusos impeçam votações e que minorias sem programa e sem princípios dominem a cena parlamentar, desprestigiando todo o corpo representativo. É preciso um sopro “direto” do povo para que ele se atualize e se sensibilize com os problemas reais que o país atravessa.
Falo aqui de uma assembleia constituinte (revisora) específica, convocada conforme a Constituição, por Emenda Constitucional, para conectar as instituições políticas da República com o povo, que é o poder constituinte real. Seu objetivo é integrar, de forma direta, a atual energia política despertada pelas grandes manifestações de massas, com delegados eleitos especialmente para fazer a Reforma Política.
Estes representantes, eleitos para este fim específico, impossibilitados de concorrerem nas próximas eleições, (admitido um percentual de representantes “sem partido”), pressionados democraticamente pela sociedade em movimento poderiam, através de mudanças substancias nas normas constitucionais que versam sobre os Partidos, financiamento das campanhas e Direito Eleitoral, “democratizar a democracia”, como diz Boaventura Souza Santos. E assim expandir os marcos da participação direta do povo, já previstos na atual Constituição Federal, combinando-a com a representação estável e previsível dos processos eleitorais tradicionais.
O que está ocorrendo durante as manifestações é também a sequência de uma lenta e eficaz lavagem cerebral midiática, acolhida amplamente nas “redes sociais”, cujo objetivo está sintetizado na visão de que “o gigante acordou”, “vamos construir um novo Brasil” e “vamos varrer com a corrupção”. Tais sínteses traduzem uma mentira meticulosamente construída, pois os avanços democráticos que o país vem sofrendo, inclusive na luta contra a corrupção, datam da Constituição de 88 e, no plano social, dos dois governos do Presidente Lula, ampliados inclusive no atual governo.
Estas “palavras de ordem”, induzidas dos porões da direita extrema, levam as novas gerações a uma romantização do futuro, com graves frustrações de médio prazo. Embora a crise das regiões metropolitanas -motivação imediata das inconformidades em pauta- venha de erros e omissões dos atuais e anteriores governos (especialmente no que refere ao transporte urbano e a saúde), nenhuma destas questões será resolvida em profundidade nos próximos dez anos. São bilhões a serem investidos e repassados aos estados e às prefeituras, que precisam enfrentar as agruras da crise mundial e a promoção de uma Reforma Tributária, que principalmente desonere os pobres e as novas classes médias e, em contrapartida, onere as grandes fortunas e as transações do capital especulativo e rentista.
O fato é que as grandes mobilizações populares abriram caminhos que estão em disputa no campo da política. Os partidos de esquerda, se estiveram à altura da crise atual, se forem mesmo de esquerda e democráticos, devem adotar uma estratégia unitária de revalorização da ação política e dos partidos, combinando-a com a criação de novos canais de democracia direta e de participação popular, articulados com a democracia representativa. Ou seremos vencidos pelo conservadorismo, que poderá nos levar às novas formas de totalitarismo pós-moderno, que tanto controlará as mentes, a pauta, como ditará o que é lícito ou ilícito, numa democracia ainda mais elitista do que a presente.
(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul



Quinta-feira, 27 de junho, Porto Alegre, frente do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Nove horas da noite. Na Praça da Matriz, mais de quatro mil manifestantes fazem seu protesto legítimo em perfeita harmonia, inclusive com as forças da Brigada Militar, que garantem a segurança para a cidadania manifestar-se livremente. Um cordão de isolamento de policiais militares, protegidos por escudos, garante a integridade do Palácio.
Durante uma hora e meia os policiais aguentam impávidos e disciplinados, por ordem originária do próprio Governador, uma chuva de pedras, garrafas e paus, jogadas por aproximadamente 150 mascarados, postados no lado esquerdo do Praça, fundidos no meio de uns 200 manifestantes, que não impedem suas ações violentas e provocativas, mas inibem uma resposta da Polícia, cuja reação poderia atingir pessoas que, inocentemente ou não, não estavam envolvidas na “ação direta”.

No céu, um helicóptero com letreiros eletrônicos voeja rente à Praça, com dizeres contra a existência dos Partidos e afirma que, desta forma –sem os partidos- o Brasil “tem jeito”. Quem promoveu este voo? Quem o pagou? Como ele se conecta com as manifestações?

Dentro do Palácio um “governo de partidos”, eleito no primeiro turno, que governa com mecanismos de participação popular combinados de forma inédita, tais como o Orçamento Participativo, o Gabinete Digital, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social , a Consulta Popular. Esta, por exemplo, é um procedimento de votação eletrônica ( 1 milhão e 100 mil votos no anos passado) que, através de perguntas diretas à população, promove a liberação hierarquizada de recursos (este ano, mais de duzentos milhões de reais) para investimentos, principalmente em pequenas obras e nas áreas da saúde e da educação.

Seguramente, neste evento emblemático temos três protagonistas claros da crise: a cidadania manifestando-se na defesa de direitos; grupos “sem rosto” que servem de massa de manobra para provocações, como ocorre historicamente nestas conjunturas (cujos objetivos são obscuros, mas funcionam como desestabilizadores da democracia política); e a direita conspirativa, que trabalha nas “sombras” –no caso, “no ar”- dando sequência ao trabalho feito pela mídia dominante, que nos últimos anos dissolveu o prestígio dos partidos, dos políticos em geral e de todas as instituições democráticas da República.

As causas mais visíveis da insatisfação popular, certamente estão nas péssimas condições do transporte coletivo e do sistema de saúde pública nas grandes regiões metropolitanas. Ou seja, na verdade faltou Estado, seja como prestador, seja como organizador-controlador, o que se combinou com a ascensão de milhões de jovens ao mundo do trabalho e às universidades públicas e não públicas (estas, através do Prouni), sufocando, não só a mobilidade destas grandes regiões, mas também a capacidade da estruturas públicas prestarem serviços de mediana qualidade. De outra parte, os apelos da sociedade consumista oferecem promessas espetaculares que apenas uma parte da população pode acessar, transformando o desejo sonegado de muitos em frustração, crime e violência irracional.


Veja artigo completo aqui!

(*) Tarso Genro é Governador do Estado do Rio Grande do Sul.

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14 de jul. de 2013

“PT precisa ouvir as ruas e enfrentar acomodação e burocratização interna”




O PT está refletindo sobre o que aconteceu no país? Não é hora de o PT também se reavaliar, oxigenar sua relação com a sociedade, sair de um nível de acomodação, institucionalização e burocratização que vive hoje?” – questiona Marcelo Danéris, integrante da Executiva Estadual do PT-RS, Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul e defensor da ideia de um plebiscito interno no partido.

  • Porto Alegre - O sistema político-partidário brasileiro vem sendo fortemente questionado pelas mobilizações de rua que mudaram a conjuntura do país a partir de junho. Como partido que governa o país há mais de dez anos, o PT não escapa desse questionamento. Mas o partido está mesmo ouvindo as vozes das ruas e, a partir do que escuta, está disposto a fazer alguma mudança mais profunda em seu atual modo de funcionamento? 

No final de novembro, o PT realiza seu Processo de Eleições Diretas (PED) para renovar suas direções em todos os níveis. O PED pode significar um espaço de mudança dentro do PT? Identificando a existência de uma “zona de conforto” dentro do partido, mesmo com tudo o que aconteceu em junho, a tendência Esquerda Democrática, do Rio Grande do Sul, apresentou a proposta de realização de um plebiscito interno no PT como forma de enfrentar o que considera ser um quadro de acomodação e burocratização do partido.

O PT está refletindo sobre o que aconteceu no país? Não é hora de o PT também se reavaliar, oxigenar sua relação com a sociedade, sair de um nível de acomodação, institucionalização e burocratização que vive hoje?” – questiona Marcelo Danéris, integrante da Executiva Estadual do PT-RS e Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul (CDES-RS). Em entrevista, Danéris fala sobre a origem e o sentido dessa proposta e defende a necessidade urgente do partido reformar-se internamente para enfrentar a crise de representatividade que atingiu todo o sistema político.

Qual é a origem dessa ideia de realizar um plebiscito interno no PT?

Marcelo Danéris: A origem dessa ideia está ligada à atual conjuntura que vivemos. Os acontecimentos de junho revelam um fenômeno que não é privilégio do Brasil. Há alguns elementos centrais que devem ser considerados aí. Em primeiro lugar, a crise do modelo econômico neoliberal em nível internacional que, paradoxalmente, acaba intensificando em alguns países os remédios que justamente conduziram à crise: redução do Estado, privatização, supressão de direitos previdenciários, trabalhistas e sociais, redução do salário mínimo e assim por diante. Os partidos de esquerda tradicionais da Europa traíram programaticamente as bandeiras de contraposição a um modelo econômico excludente e elitista.

Neste cenário, a população foi para as ruas em vários países da Europa defender seus direitos e manifestar-se contra a aplicação dos remédios que justamente alimentaram a crise. O resultado dessas mobilizações até aqui não é dos mais positivos, pois houve uma vitória da direita, que mantém os remédios citados acima, o que reforça uma segunda crise, a da representatividade política. O discurso do grande capital, do grande poder econômico e de seus braços midiáticos transferem a responsabilidade da crise da economia para a política. É óbvio que as duas coisas estão ligadas, mas esse discurso procura reduzir a crise a uma suposta incapacidade de gestão por parte do sistema político e dos partidos. Assim, a crítica que deveria ser dirigida a um modelo econômico é transferida para a política, como se fossem coisas dissociadas. 

Outro elemento juntou-se à crise da representatividade: a criminalização da política, algo que é trabalhado metodicamente no Brasil. Segundo esse discurso, tudo que vem da política é ruim, sujo e corrupto. Qual é a motivação que um jovem tem hoje, no mundo inteiro, para se filiar a um partido político ou fazer parte mais ativa de um processo eleitoral? Se os partidos (e os próprios governos) são criminalizados e acusados de responsabilidade pela crise econômica, que motivação pode ter? Então, temos no mesmo ambiente uma crise econômica, uma crise da representação política e a criminalização da política como um todo. No Brasil, essa criminalização é muito mais evidente, inclusive.

Na sua avaliação, o que as mobilizações no Brasil têm a ver com esse quadro geral?

Marcelo Danéris: As pessoas começaram a organizar suas demandas a partir de mobilizações sociais que se encontraram nas ruas. E esses grupos não estavam, necessariamente, saindo junto para as ruas. Tomemos o exemplo do que ocorreu em Porto Alegre. Houve um grupo que saiu às ruas para garantir mobilidade, para defender ciclovias, uma luta da Massa Crítica que é um movimento mundial. Outras pessoas se mobilizaram pela questão ambiental na defesa das árvores do Gasômetro. Um terceiro movimento é o da Defesa Pública da Alegria, que questiona a venda de espaços públicos para o setor privado. O Tatu-Bola, no Largo Glenio Peres, acabou se tornando o símbolo dessa crítica. Depois veio com força a mobilização contra o aumento das passagens de ônibus. É certo que há manifestantes que participam de mais de um desses grupos, mas eles não são necessariamente os mesmos. Mas todos eles se encontram nas ruas e não em alguma instância do sistema político tradicional, que está completamente esgotado e superado.

Esses movimentos não se encontram nos partidos, pois estes não são hoje um canal capaz de dar vazão às suas reivindicações, seus sonhos e ideais. Infelizmente, o PT também não é, apesar de ser originário das ruas e das lutas democráticas. O PT é hoje um partido que se burocratizou, se financeirizou, virou um partido tradicional. Está deixando de ser um grande partido para virar um partido grande. Então, esses novos movimentos que estão nas ruas não encontram espaço dentro dessas estruturas quase feudais de grupos de interesse subordinados a mandatos e ao calendário eleitoral. Onde encontram esse espaço? Nas ruas.

Há um terceiro elemento que virou uma ferramenta altamente adequada para toda essa situação: as redes sociais. Muita gente da esquerda dizia que a internet, da forma como estava sendo feita, o Facebook, o Twitter e outras ferramentas levariam a uma individualização extrema, onde as pessoas não precisariam ter mais relações sociais diretamente e fariam isso através da tela de um computador. Seria o exemplo mais bem acabado do individualismo neoliberal. Pois bem, essas redes sociais acabaram virando uma ferramenta de mobilização social, mostrando o erro de avaliação de muita gente da esquerda. As redes sociais se transformaram na ferramenta que organiza a insatisfação e leva as pessoas para a rua. Ela não é a ferramenta que transforma, mas mobiliza e organiza.

E o PT foi pego de surpresa em meio a todo esse processo...

Marcelo Danéris: Ouvi o Marcelo Branco dizer uma coisa que para mim sintetiza muito bem o que aconteceu: os jovens foram para as ruas e subitamente os partidos envelheceram. É impressionante como os partidos envelheceram rapidamente. Quando os jovens saíram para as ruas isso ficou ainda mais evidente e escancarado. E aqui no Brasil, isso aconteceu mesmo com todas as políticas inclusivas implementadas nos últimos anos. Apesar de muitos avanços, esse modelo não conseguiu dar saltos de qualidade no transporte público, na mobilidade urbana e no acesso a vários serviços públicos. Gostaria só de apontar também a disputa que os setores mais conservadores fizeram (e seguem fazendo) pelo significado dessas mobilizações, tentando capturá-las para criar um nível de instabilidade política tendo como alvo principal o governo federal. E é preciso assinalar também que os resultados de todos esses movimentos, até aqui, é preocupante. Eles não resultaram em governos mais progressistas ou mais à esquerda. Ao contrário.

A nossa resposta a isso no caso brasileiro é a defesa de uma Constituinte Exclusiva para fazer a Reforma Política, entregando, como diz o governador Tarso Genro, à fonte constituinte originária, o povo, a tarefa de se pronunciar sobre o seu sistema político e eleitoral. Essa proposta foi barrada pelos setores conservadores. Nós defendemos que a sociedade seja escutada, que um plebiscito seja feito com o objetivo de reformar e ressignificar todo o nosso sistema político. Do jeito que está não é possível ficar. E há um segundo elemento que muita gente parece que não está querendo ver: os partidos estão em xeque, seu formato e modo de funcionamento. Falando do meu partido, o que essas mobilizações e movimentos que estão nas ruas podem fazer por dentro do PT?

Há uma zona de conforto que faz com que muita gente pense assim: do jeito que está estou elegendo os meus, às vezes eu subo, às vezes caio um pouco, mas nada demais. Há uma acomodação evidente aí, que está completamente desconectada do que aconteceu em junho. A pergunta que nós estamos fazendo dentro do partido é: o que o PT fará com isso, já que ele tem um PED (Processo de Eleições Diretas) no final de novembro? O PT está refletindo sobre o que aconteceu no país? Não é hora de o PT também se reavaliar, oxigenar sua relação com a sociedade, sair de um nível de acomodação, institucionalização e burocratização que vive hoje? Nós entendemos que sim.

Esse plebiscito interno trataria de que temas exatamente?

A nossa sugestão é ouvir os nossos mais de um milhão de filiados no país inteiro. Queremos que eles respondam algumas questões: o filiado do PT acha que o partido precisa fazer uma reforma política interna em seu estatuto? Acha que deve haver uma convocação exclusiva para realizar essa reforma, elegendo filiados unicamente para fazer essa tarefa? Esses filiados não poderiam ter mandato nem cargos de direção, o que permitira que, no caso do Rio Grande do Sul, nomes históricos como Olívio Dutra e Flavio Koutzii, e mais nomes da juventude do partido fossem indicados para isso.

Há um terceiro elemento, que tem tensionado muito o partido internamente, que é o poder econômico. O mesmo poder econômico que grassa para fora grassa para dentro. Quem tem mais estrutura, mais mandatos, mais dinheiro desequilibra as eleições internas, fazendo delas um processo injusto e desproporcional. Nós queremos perguntar internamente: você é a favor do financiamento único das campanhas? O partido paga as campanhas e nenhuma candidatura tem o direito de fazer finanças próprias. O estatuto prevê isso hoje, é verdade, mas é uma previsão sem consequência, sem fiscalização. É letra morta. Hoje aqui no Rio Grande do Sul nós temos candidaturas que já têm panfleto, material rodando, pesquisas rodando, estruturas de militantes paralelas às estruturas do partido, filiações em massa e garantia de que todas as mensalidades serão pagas até o dia do PED.

Outra proposta que estamos levantando para discussão é a realização de primárias no PT para a escolha de candidaturas majoritárias. A sociedade está reivindicando protagonismo e o partido precisa dar uma resposta a essa demanda, na nossa avaliação. Os não-filiados não votariam diretamente no candidato, mas em delegados que definirão as candidaturas. O filtro do militante partidário, eleito por uma primária, controlaria tentativas de entrismo por parte de outros partidos. Acreditamos que esse instrumento oxigenaria o PT, trazendo a sociedade para o debate sobre programas e candidaturas. 

Junto com isso, defendemos também a integração das redes sociais em processos de consultas e eleições. Teríamos que ver como fazer isso, há várias alternativas. O partido poderia estar usando as redes sociais agora, por exemplo, para fazer uma consulta sobre a reforma política no país inteiro. Nós queremos Constituinte, plebiscito, mas qual é a consulta que o PT, como partido, está fazendo hoje à sociedade?

Quando ele seria realizado?

Nossa proposta é realizá-lo até o dia 1º de outubro, sem alterar as datas do PED (final de novembro). Se aprovado o financiamento único das campanhas, por exemplo, que é quase um referendo ao que está previsto hoje no estatuto, teria que se garantir o cumprimento efetivo dessa regra para a eleição interna. Se fosse aprovada a constituinte exclusiva interna, no PED elegeríamos filiados para esse fim. E assim por diante.

E como é que tem sido a receptividade dessa proposta dentro do partido?

O partido repete, infelizmente, agora, a mesma acomodação que o Congresso revela em relação à Reforma Política. A ideia é não mudar, apesar de tudo o que aconteceu, do recado que vem das ruas e da nova conjuntura instalada no país. Há desde uma acomodação burocrática até uma acomodação de interesses em torno do PED que foi validado antes dessa nova realidade. O PT precisa encarar seus próprios fantasmas, tirar seus esqueletos do armário e reconhecer: “sim, nós também estamos sendo criticados”. Essas críticas evidenciaram que o partido não está preparado para enfrentar a atual conjuntura. 

E o PT faz o que com isso? Por interesses de maiorias já constituídas dentro do partido ou por uma leitura burocrática da realidade, resolve não promover grandes mudanças. Há uma cortina de silêncio em torno da proposta que fizemos. Parece haver um acordo tácito: ninguém fala sobre isso para não criar polêmica e deixa essa ideia morrer de silêncio. Mas nós vamos falar e vamos passar a campanha inteira do PED falando sobre tudo isso.
Da assessoria Mensagem ao PT.
Enviado por Eri Santos Castro.
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5 de jun. de 2013

"Democracia inovadora": ONU premia modelo de participação cidadã do RS


Isso é que é Governar para todos

O Estado do Rio Grande do Sul ganhou prêmio da ONU por estimular a participação cidadã e adotar mecanismos inovadores nos processos de decisões públicas. Segundo João Motta, Secretário de Planejamento, gestão e Participação Cidadã, atual governo fez uma releitura das experiências históricas no RS. "Jamais uma experiência dessas poderia ser implantada se a população não aceitasse, não participasse", destaca o governador Tarso Genro.

O Rio Grande do Sul obteve o primeiro lugar na categoria três do “Prêmio Nações Unidas ao Serviço Público”, para a região da América Latina e Caribe dirigida a melhorar a participação cidadã nos processos de decisões públicas, através de mecanismos inovadores. A entrega acontecerá entre os dias 24 e 27 de junho, em Manama, no Bahrein, onde a conferência de abertura discutirá o tema “transformação e inovação governamental: criando um futuro melhor para todos”.

O governador Tarso Genro, que no início do seu mandato definiu como prioridade a retomada do desenvolvimento econômico e social, tendo como base as reivindicações da sociedade civil a nível local e regional, comemorou a distinção da ONU:

“- Essa deferência da ONU considerando essa experiência inovadora de interesse mundial é uma honra para o povo gaúcho, porque jamais uma experiência dessas poderia ser implantada se a população não aceitasse, não participasse. Esta forma de participação inovadora reaproxima o governante do povo e daquela base que lhe dá legitimidade para governar. Com esse sistema de participação popular o cidadão comum interfere na conduta do Executivo, corrige rumos, define projetos e interfere na própria composição do orçamento. Portanto, dá um rigor muito maior à democracia”.

É preciso esclarecer que os projetos que se candidatam na ONU passam por uma avaliação de especialistas em administração pública das Nações Unidas e ele é considerado mundialmente como o mais prestigiado reconhecimento internacional a excelência no serviço público. São premiadas as contribuições criativas de instituições do serviço público que promovem a melhoria e eficiência, destacando o papel e o profissionalismo da gestão pública. 

Integrar em rede
O Rio Grande do Sul tem um histórico de iniciativas inovadoras envolvendo a participação da sociedade e seus movimentos organizados, desde a implantação do Orçamento Participativo na gestão Olívio Dutra, em Porto Alegre, e o início das atividades do Fórum Social Mundial, em 2001. Antes disso, já baseado na Constituição de 1988, que abriu canais de participação com a população, foram criados em 1991 os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), que atualmente formam a base da regionalização do Sistema Estadual de Participação Popular e Cidadã. São 28 COREDES no estado.

Como esclarece João Motta, Secretário de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã, o atual governo fez uma releitura das experiências históricas no RS, atualizando o tema em consonância com as mudanças globais, não somente da democracia representativa, mas também da tecnologia digital e a implantação de redes de diferentes níveis de informação e aglutinação. O cidadão democrático, eleitor, também quer saber como será aplicado o dinheiro nos projetos anunciados. Se possível, quer acompanhar o andamento da execução, estabelecendo as prioridades.

“- A ideia do Sistema, diz João Motta, é usar recursos modernos, como a tecnologia digital e a formação de redes, como um elemento inovador. Existe um esvaziamento da representação política tradicional, e uma distância entre a cidadania e a execução de orçamentos. Se nós não fizéssemos uma releitura desse processo não conseguiríamos criar um novo Sistema”.

Mais uma citação teórica, para depois entrarmos na parte prática do Sistema e as dificuldades de organização. Democracia quanto mais participativa, mais trabalho dá. 

“- As democracias em crise demonstram, destaca Tarso Genro, que se nós nos ativermos a exercer a representação política sem uma relação dialógica com a sociedade, que permita através de mecanismos de transparência e de participação que as comunidades interfiram sobre a conduta dos governantes, nós teremos Estados cada vez mais autoritários e governos cada vez mais deslegitimados”.

Uma longa batalha

O Sistema, para abreviar a nomenclatura, combina a democracia representativa – estável e indeclinável -, com a participação direta da cidadania, não só nos mecanismos de gestão, mas também nas estruturas de decisão política. O governador Tarso Genro escreveu isso no ato de instalação do Plano Plurianual (PPA) – 2012-2015-, em 15 de junho de 2011. E foi uma longa batalha, até chegar ao Prêmio da ONU.

Começando pela elaboração do PPA. Em oito meses foram realizados nove seminários, envolvendo seis mil lideranças, de 350 instituições debatendo o plano de desenvolvimento econômico e social e estabelecendo prioridades. O resultado foram 12 mil manifestações, que se traduziram em 23 áreas e 86 programas do PPA.

Também é necessário informar sobre a situação do Rio Grande do Sul. A Fundação de Economia e Estatística (FEE) fez um estudo de 1981 a 2009 sobre a economia do estado. Ela cresce nesse período 75,6%, uma média anual de 2%, porém, em 11 anos o crescimento foi negativo. O PIB cresceu 25,3%, e a renda per capita do estado atingiu R$18.596,00. O RS tem mais de 10 milhões de habitantes, cerca de oito milhões de eleitores, teve uma expansão média do PIB de 0,8%, precisaria de 90 anos para dobrar a renda da população, mantidos os atuais níveis de crescimento. A economia ainda é fortemente marcada pelo agronegócio (soja e pecuária), tem uma agroindústria que mantém a população do interior ativa.

Mas, 55% da população se concentram na região metropolitana de Porto Alegre. Municípios da fronteira oeste, por exemplo, a região da campanha e da pecuária, tem perdido população. Em 10 anos, os municípios de Uruguaiana e Alegrete perderam 25 mil habitantes, entre 2000 e 2010, num universo de pouco mais de 500 mil habitantes. Os polos industriais estão localizados nos municípios vizinhos da capital, em torno da estrada Tabaí-Canoas, em Santa Cruz e Lajeado, ou então em Caxias, Passo Fundo, Horizontina e Erechim. Em 1994, o PIB do RS representava 8,9% do PIB nacional. Hoje representa 6,6%. O estado ainda é a quarta economia do Brasil, entretanto à distância para a quinta (Paraná), está diminuindo.

A máquina não é transparente

Implantar o sistema para retomar o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis não é uma questão retórica. As prioridades regionais são diferentes, existem áreas de profunda desigualdade social e os recursos são escassos. Para definir o funcionamento do sistema foram realizados três Seminários Internacionais, com a participação média de 500 especialistas, muitos de outros países. Em março de 2013, a abertura do Seminário ficou a cargo do professor Pedro Hespanha, da Universidade de Coimbra, que debateu o tema “A crise da representação política, a Democracia Participativa e os Novos Movimentos Sociais”, com Ricardo Henriques (UFF) e o cientista político e ativista, Sérgio Gonzales Salgado, do Movimento 15M, de Barcelona. 

Também participou o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele ressaltou o histórico de participação do RS, da importância de incluir os movimentos sociais na gestão da administração pública:

“- Foi a presença dos movimentos sociais em Brasília e em todo o país que fez com que o governo compreendesse que era preciso crescer repartindo o bolo. Precisamos romper a lógica de isolamento do governo e da mera democracia representativa. A máquina não foi feita para ser transparente e não foi feita para ser colocada a serviço da maioria”.

Foram realizadas várias oficinas fora do país, Espanha, Portugal, França, e também em Washington, na sede do Banco Mundial, como explica João Motta:

“- Nós discutimos as propostas e, principalmente, a metodologia do Sistema, profundamente. Ele foi muito criticado por especialistas, que ajudaram moldar a estrutura. Por isso, criamos um conceito muito consistente, que agora implantamos no Portal da Participação”.

Segundo a diretora para o Brasil do Banco Mundial, Deborah L. Wetzel, o ineditismo do RS precisa ser estudado e ampliado. O estado é uma exceção, disseram os especialistas do Banco Mundial, quando se trata de participação cidadã, porque em várias partes do mundo, onde se implantaram estas iniciativas existe um sério problema de envolvimento dos cidadãos. 

Isso não acontece no Rio Grande do Sul, onde as duas últimas votações de prioridades para o orçamento reuniram mais de um milhão de pessoas, sendo 120 a 130 mil votantes pela internet. A grande maioria vai colocar o voto nas velhas urnas da Justiça Eleitoral, que foram reaproveitadas pelo Sistema. 

Então a fórmula inovadora do RS envolve local, regional, presencial, digital. Como enfatiza João Motta, sempre ampliando espaços, para radicalizar a democracia.

A estrutura do sistema

O sistema é formado por quatro instâncias: decisões orçamentárias, controle social, diálogos sociais e participação digital, com destaque para o gabinete digital, um canal aberto para a população e o governador. Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES) estão divididos em 28 regiões, englobando os 496 municípios. A decisão das demandas e das prioridades, no nível microrregional é tomada pelos moradores, através dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento (COMUDES). São eleitos três delegados por COREDE para o Fórum Estadual, que define as prioridades para o orçamento do ano. Na representação municipal é eleito um delegado a cada 30 representantes – numa assembleia de 300 pessoas, são eleitos 10 delegados. No total participam das negociações finais mais de mil delegados.

Existe um cronograma anual. Em abril ocorrem as assembleias públicas regionais nos 28 COREDES e a escolha de 10 temas de interesse. Em maio acontecem as assembleias públicas municipais e microrregionais, em 494 municípios. Depois de eleitos os delegados do orçamento, em junho são realizados os fóruns regionais de delegados e a montagem das cédulas de demandas. São definidos os delegados para o Fórum Estadual de Participação.

Em 2013, nos dias 6 e 7 de agosto acontecerá a Votação das Prioridades. O voto é aberto para qualquer cidadão, não é obrigatório, e inclui eleição em dias úteis – no caso desse ano, terça e quarta-feira. Na gestão 2004-2008, primeiros três anos em que a votação foi criada sob o nome de Consulta Popular, a média de participantes chegou a 660,7 mil. Na gestão passada, 2007-2010, a média alcançou 754,7 mil votantes. Em 2011, a votação envolveu 1,134milhão de cidadãos. No ano passado foram 1,028 milhão de votantes. A expectativa da próxima é de manter o patamar de um milhão. As reuniões regionais e municipais têm alcançado um público médio acima dos outros anos. Nas duas primeiras votações as assembleias reuniram 60 e 70 mil pessoas, nos debates sobre os temas, as demandas e a definição de prioridades. Em 2012, foram realizadas 542 assembleias municipais em 494 municípios.

Além dos COREDES, outro canal de participação são os Conselhos Setoriais de Direito, onde no RS são reconhecidos 23, específicos para diversos temas, desde a criança e o adolescente, comunidade negra, povos indígenas, até os institucionais, como cultura, saúde, meio ambiente, esporte e lazer. Em dois anos, ocorreram 20 conferências temáticas.

Sempre falam a mesma coisa

Lagoão é o nome de um município que fica na região Altos da Serra de Botucaraí. Pois foi lá, em 2011, que estava marcada a terceira interiorização do governo gaúcho. Mensalmente, durante um dia, o governo transfere a sede da capital para uma cidade do interior. Até agora foram 25 interiorizações. Era um dia chuvoso, muitos secretários perderam o rumo, ou atolaram, mas não conseguiram chegar à sede do município. Por um motivo simples: não havia estrada. Na recepção da comitiva oficial, três mil pessoas aguardavam ansiosamente a chegada das autoridades. O refrão dos moradores era um só: sempre falam a mesma coisa, e não acontece nada. 

Tarso Genro tomou uma decisão: precisamos deliberar. Não saio daqui sem uma decisão, exatamente a definição de deliberar, resolver depois de exame ou discussão, ou então consultar a si mesmo ou outrem, como diz o dicionário do Aurélio. Tomaram a decisão de investir nas estradas do município. Hoje, João Motta, que estava presente, lembra que aquela situação ajudou a tomar a decisão de implantar o Sistema. Não tinha como não dar uma reposta para três mil pessoas, que esperam há muitos anos por uma intervenção do estado. Aprovaram R$25 milhões nos projetos para Lagoão.

A instância do Sistema é deliberativa, se a pauta da população está organizada, e é apresentada na interiorização, o governador aprova. O Sistema tem um comitê gestor paritário governo e sociedade, com a coordenação executiva da Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Toda a estrutura é agilizada ainda mais pelo Gabinete Digital, dividido em três questões básicas: o governador pergunta – duas edições, 3.400 propostas recebidas mais 360 mil votos; o governador escuta – seis edições, mais de 10 mil interações; governador responde, nove edições, mais de 500 perguntas respondidas e mais de 100 questões resolvidas.

O gabinete do vice-governador também está integrado ao Sistema, pelo Programa de Combate às Desigualdades Regionais, onde foram definidas nove regiões para trabalhar. Em sete o programa foi instalado. Em 2013, completarão o quadro. Em todos os encontros o processo é o mesmo, definir prioridades de ação e encaminhar o projeto. Na mesma linha foi criada a Secretaria do Gabinete dos Prefeitos, com objetivo de articular as prefeituras para se habilitar em projetos, na captação de recursos, fortalecer as relações federativas, contribuir na formação e desenvolvimento da gestão municipal. 

Em 2013, foram disponibilizados para o Sistema R$218 milhões, serão aplicados em diferentes áreas, como saúde, educação, segurança pública, conforme o aprovado na Votação das Prioridades. No ano passado foram R$165 milhões. O Rio Grande do Sul é o terceiro estado que mais acessou as verbas do PAC, cerca de R$30 bilhões, em obras de infraestrutura, aeroportos regionais, estradas, pontes e portos.
Por Najar Tubino, na Carta Maior e da assessoria.
Enviado por Eri Santos Castro.
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