1987. Participo num sítio, nos arredores da cidade de São Paulo, do III Congresso do PRC- Partido Revolucionário Comunista, como delegado de uma célula de quatro militantes, do Maranhão (Eu, Pedro Dualibe, Isael Gomes e Wal Oliveira). Nesse Congresso erámos pouco mais de 60 camaradas, entre eles Tarso Genro, Genoíno, Ronald de Oliveira, Chico Mendes, Marcos Rolim... Os trabalhos eram dirigidos pelo porta-voz do partido, o cearense Ozeas Duarte.
A tese vencedora do III Congresso foi a dissolução do PRC. Junto com os camaradas do Acre, Pará, Minas, Amazonas e Ceará, votei contra o fim do PRC. Foram oito dias de discussões. O discurso final coube ao velho camarada Ozeas. Saí daquele sítio arrazado. Junto com o fim do PRC, Euclides- meu nome na organização clandestina- morreria.
Antes de voltar para o Maranhão, passei alguns dias num hotelzinho barato do Centro Velho de São Paulo, aguardando definições sobre os rumos que tomarímos dentro do PT. A partir do PRC foram criadas duas tendências de atuação interna ao PT. A Nova Esquerda que aderir e a tendência maxista.
Durante três dias que aguardava contato do pessoal, só saía para almoçar, comprar jornal... e assistir ao bangue-bangue do cinema que ficava logo embaixo.
Tudo mudara repentinamente demais na minha vida. Então, o western revolucionário de Sergio Sollima me distraía das inquietações e ajudava a suportar a inusitada solidão, além de revigorar meus ideais, servindo quase como uma reafirmação de valores.
O Dia da Desforra é sobre um peão mexicano (Thomas Milian) que participa do levante camponês de Juarez e, quando este é derrotado, torna-se um homem permanentemente em fuga e, por falta de alternativa, um pequeno marginal.
Por haver visto um ricaço estuprar e matar uma menina, atiram-lhe a culpa, marcando-o para morrer. E um ex-xerife (Lee Van Cleef) lhe move longa perseguição, até perceber a verdade.
Como é honesto, recusa-se a limpar a sujeira dos poderosos. Toma, isto sim, o partido do injustiçado, produzindo o desfecho catártico antecipado no título.
O filme virou cult. Tem ótimo roteiro, ação empolgante e dá muitos toques sobre a desigualdade social, a opressão imposta aos humildes e a instrumentalização da lei pelos interesses dominantes.
É um arraso o tema principal da (belíssima!) trilha de Ennio Morricone, "Run, Man, Run", falando sobre a existência de um lugar onde os homens não se matam e veem um ao outro como irmãos; um lugar onde o eterno fugitivo vai poder viver sem medo e, afinal, será livre...
Mas, até encontrar esta terra, deverá continuar correndo, a fronte voltada para o sol, contra tudo e contra todos, até chegar à liberdade, até chegar aonde eles nunca, nunca, nunca terão de novo prisões para ele.
"Run, Man, Run" sempre toca em mim. Foi a música que me veio à cabeça ao pensar nas agruras do companheiro Cesare Battisti, que tanto correu de país em país, tanto amargou a privação injusta da liberdade e agora, finalmente, está chegando aonde nunca mais haverá cárceres à sua espera.
Enviado por Eri Santos Castro.
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