Caro Eri,
Nunca é bom fazer uma avaliação da situação, seja nacional ou internacional, em base às analises e/ou informações veiculadas por um jornal como O Globo, cuja viés e cujas práticas editoriais eu não necessito descrever para você nem para nenhum cidadão brasileiro medianamente informado.
Regresso ao Rio amanhã, depois de passar uma semana no Uruguai, onde votei - na Frente Ampla, como fiz desde o primeiro voto que emiti. (Sou brasileira naturalizada, mas a cidadania uruguaia nunca se perde; e eu, pessoalmente, faço questão de cumprir com os meus deveres cidadãos em ambas as minhas pátrias, o Brasil e o Uruguai).
É verdade que na eleição de domingo não saiu tudo como teriamos desejado, mas dizer que a direita teve uma tríplice vitória é realmente um grave equívoco que só uma informação muito tendenciosa e preconceituosa pode justificar.
Amanhã posso lhe dar mais detalhes de cada ítem da eleição, hoje só vou responder grosso modo o que disse O Globo:
1) A Frente Ampla conquistou a maioria parlamentar (maioria no Senado e na Câmara de Deputados), fato definitório da possibilidade de continuar a impulsionar mudanças. Só isso é uma grande vitória de um governo como o de Tabaré Vázquez (que termina o seu mandato com índices de popularidade de 60 por cento!)
2) A Frente Ampla obteve 49,8% dos votos válidos! Mas a lei determina que para ganhar no primeiro turno deve haver 50 mais um % -maioria absoluta - dos votos emitidos (somados aí brancos e nulos!!).
Ou seja, os votos da Frente Ampla estão muito próximos da maioria necessária para uma vitória no dia 29 de novembro, no segundo turno. (Onde simplesmente ganha o candidato mais votado, sem importar o percentual).
3) O Partido Nacional e o Partido colocado juntos receberam 50.000 mil votos que a Frente Ampla sozinha.
4) Dos 19 departamentos do país, a Frente Ampla ganhou em 11 (eram oito em 2004) e o Partido Colorado não ganhou em nenhum.
5) O plebiscito da Lei de Caducidade não foi uma proposta da Frente Ampla e o presidente Tabaré Vázquez estava contra. Foi uma iniciativa da sociedade civil e fundamentalmente dos familiares de desaparecidos. Mesmo sem apoio explícito da Frente - que só veio se pronunciar a favor nas últimas semanas da campanha, se chegou a um 48% dos votos. E, no Uruguai, estão presos todos os ditadores: sejam eles civis (como Juan Maria Bordaberry) o militares (como o general Gregorio Alvarez).O plebiscito atingiria a "raia miúda" dos torturadores, não os principais responsãveis, que já foram julgados e condenados. E, a Corte Suprema de Justiça já disse (antes do plebiscito) que há casos que - fosse qual fosse o resultado - não estão contemplados - por diversos motivos - na lei de caducidade, e que ela continuará a julgar e se for o caso, condenar, todos os casos que julgue passíveis de sanção sem ferir o espirito da lei.
Cordialmente,
Beatriz Bissio
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