Reproduzo artigo de Alberto Dines* sobre acontecimentos recentes no cenário político nacional, além de esclarecedor para o momento, o texto será oportuno para a história. WR reproduz no seu blogue um artigo de Said Barbosa Dib, originalmente publicado no 'Observatório da Imprensa'. O nosso amigo só esqueceu de dizer que o autor do artigo é assessor do senador José Sarney e remanescente como o primeiro da ditadura militar( eis a apologia que faz à Médici no seu blogue“Não uso critérios políticos ou regionalistas, não pago dívidas eleitorais que não precisei contrair, não tenho a vocação do favoritismo e da cortesia no exercício de meu dever e me declaro incompetente na mecânica da composição, do conchavo, da barganha. Compromisso, só os tenho com a minha consciência e com o futuro de meu país”.(Presidente Emílio Garrastazu Médici)- Saïd Barbosa Dïb Historiador e analista político, natural do estado de Goiás, radicado em Brasília. Colaborador de sites e jornais alternativos. Atualmente assessor de imprensa no Senado Federal e responsável pela manutenção de dois blogs: ‘Blog do Said Dib’ e o ‘Amapá no Congresso’) . Realmente entre os dois artigos não há comparação, nem na biografia de seus autores (Ver abaixo quem é Dines).
Há um outro artigo no 'Observatório da Imprensa', cujo título 'As conversas de pai para filho' , que desvenda a operação da PF, no caso Sarney. O texto é assinado por Luiz Weis (Estadão e ex-editor da Veja, IstoÉ, Superinteressante...)
EDMAR & SARNEY
Sobre lagartixas e dinossauros
Por que foi tão fácil liquidar a fatura com o deputado-corregedor Edmar Moreira (DEM-MG)? Em menos de uma semana, o ilustre desconhecido do baixo clero ficou conhecido nacionalmente como "Aos amigos tudo"; além disso, perdeu o cargo de corregedor, perdeu o de 2º vice-presidente da Câmara, vai perder a legenda (Democrata) e ainda corre o risco de perder o mandato.
A explicação para a vertiginosa velocidade padrão Primeiro Mundo está no seguinte cronograma: eleito na segunda-feira (2/2), Edmar Moreira fez as estapafúrdias declarações sobre o "vício insanável da amizade" na terça, O Globo deu chamada na primeira página da quarta-feira, no dia seguinte publicou (ainda na primeira página) a foto do castelo medieval e, na sexta-feira (6/2), o homem estava liquidado.
O Globo foi o autor da façanha. Parabéns efusivos. Mas sem a entrada da TV, Edmar Moreira e seus asseclas não teriam desistido tão facilmente. A TV Globo foi decisiva mas a imagem do castelo falava sozinha.
"Vontade editorial"
Pergunta que não quer calar: o imortal senador José Sarney (PMBB-AP) será abatido com a mesma determinação e facilidade?
A eleição para presidir o Senado (a terceira que ele ganha, em 14 anos) ocorreu na fatídica segunda-feira (2/2), até repercutiu no exterior (foi chamado de "dinossauro" pela mais importante revista de informações do mundo, The Economist), e no domingo (8/2) sofreu um abalo inédito: a Folha de S. Paulo, jornal onde escreve uma coluna semanal há quase duas décadas, publicou a transcrição de um grampo da Polícia Federal que flagrou o senador dando instruções ao filho Fernando, encarregado de gerir o império midiático da família, sobre como enfrentar o adversário Jackson Lago na TV Mirante.
Sarney era até aquele dia um intocável – não propriamente um pária indiano, mas um privilegiado marajá acima de qualquer suspeita ou denúncia. Mas a Folha não poderia recusar o generoso material oferecido pela Polícia Federal envolvendo uma das figuras mais importantes da República. Se o fizesse seria excluída do rodízio de distribuição de "primícias".
A Folha tem sido a campeã na luta contra o "coronelismo eletrônico" (a mafiosa distribuição de concessões de radiodifusão a parlamentares). E esta conversa entre os dois Sarney é talvez a prova mais contundente do "vício das concessões" que avilta o Congresso: o presidente do
Congresso assume-se como dono da emissora e a utiliza em benefício dos seus interesses políticos.
A matéria da Folha provocou um certo frisson nos bastidores das redações: será que o jornalão vai, finalmente, obedecer ao que preconiza o seu manual e livrar-se de um dos colaboradores que mais comprometem a sua imagem?
A edição da Folha no dia seguinte (segunda, 9/2), foi decepcionante: nem uma linha sobre o grampo da PF, como se o jornal nada tivesse noticiado na véspera. O Estado de S.Paulo entrou no assunto com alguma vontade (pág. A-8), dificilmente agüentará sozinho. O Globo ficou de fora. Idem, a TV Globo.
Conclusão: Sarney não é Edmar Moreira. As semelhanças são apenas simbólicas. O império feudal do dinossauro maranhense não tem castelos e sem imagens espetaculares um caso desses fica difícil de explicar para o telespectador médio. A não ser quando há uma "vontade editorial" (expressão usada pelo ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva). Em 2002, quando a PF estourou uma empresa da sua filha e genro em São Luis (MA), as fotos da montanha de dinheiro tiveram efeito limitado – Roseana Sarney saiu do páreo presidencial, mas o caso foi encaminhado à justiça maranhense. Foram inocentados.
Bola-de-neve
Para abalar Sarney só um tsunami de grandes proporções. Sarney é um poderoso chefão, o capo da mídia brasileira. Além de afiliado da Rede Globo é o queridinho dos demais grupos de mídia eletrônica e dos respectivos coronéis interioranos. Foi ele, na condição de presidente da República, com a ajuda entusiasmada de Antonio Carlos Magalhães, seu ministro das Comunicações, quem começou a farta distribuição de concessões de radiodifusão a parlamentares. A pedido das grandes empresas de mídia, sobretudo eletrônicas, Sarney segurou ao longo de 14 anos a criação do Conselho de Comunicação Social. E quando o Conselho foi criado à sua revelia, deu um jeito para fechá-lo dois anos depois.
Sarney abalou-se com a matéria da Economist por vaidade. A imagem de dinossauro estraga a sua figura enfatiotada pelos jaquetões, confronta a imagem que tem de si mesmo. Além disso, não pode esquecer que a sua força começa no próprio quintal, por isso não pode dar trégua ao bando adversário.
Se a reportagem da Economist focalizasse com destaque o império midiático de Sarney ou a vergonhosa questão das concessões, a bola-de-neve poderia enfim rolar. No sexto parágrafo de uma matéria de oito, a aberração fica amenizada.
Edmar Moreira foi esmagado porque é apenas uma lagartixa. Sarney é um dinossauro. Vai sobreviver porque não é único.
*Alberto Dines (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1932) é um jornalista e escritor brasileiro.
Em seus mais de 50 anos de carreira, Dines dirigiu e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal. Leciona jornalismo desde 1963, e, em 1974, foi professor visitante da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Nova York.
Foi editor-chefe do Jornal do Brasil durante 12 anos e diretor da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro. Dirigiu o Grupo Abril em Portugal, onde lançou a revista Exame.
Depois de anos driblando a ditadura à frente do Jornal do Brasil, foi demitido em junho de 2004 justamente por publicar um artigo que contrariava a direção do jornal, ao criticar a relação amistosa de seus donos com o governo do estado do Rio de Janeiro.
Criou o site Observatório da Imprensa, o primeiro periódico de acompanhamento da mídia, que conta atualmente com versões no rádio e na TV.
Escreveu mais de 15 livros, entre eles Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig (1981) e Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu, e outras história da Inquisição em Portugal e no Brasil, Tomo I (1992). O livro sobre Stefan Zweig foi adaptado para o cinema por Sylvio Back em 2002 no filme Lost Zweig. Alberto Dines também fala sobre Stefan Zweig no documentário do mesmo diretor.
Atualmente é pesquisador sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp, onde foi co-fundador, além de coordenar o Observatório da Imprensa on-line e pela televisão.
Há um outro artigo no 'Observatório da Imprensa', cujo título 'As conversas de pai para filho' , que desvenda a operação da PF, no caso Sarney. O texto é assinado por Luiz Weis (Estadão e ex-editor da Veja, IstoÉ, Superinteressante...)
EDMAR & SARNEY
Sobre lagartixas e dinossauros
Por que foi tão fácil liquidar a fatura com o deputado-corregedor Edmar Moreira (DEM-MG)? Em menos de uma semana, o ilustre desconhecido do baixo clero ficou conhecido nacionalmente como "Aos amigos tudo"; além disso, perdeu o cargo de corregedor, perdeu o de 2º vice-presidente da Câmara, vai perder a legenda (Democrata) e ainda corre o risco de perder o mandato.
A explicação para a vertiginosa velocidade padrão Primeiro Mundo está no seguinte cronograma: eleito na segunda-feira (2/2), Edmar Moreira fez as estapafúrdias declarações sobre o "vício insanável da amizade" na terça, O Globo deu chamada na primeira página da quarta-feira, no dia seguinte publicou (ainda na primeira página) a foto do castelo medieval e, na sexta-feira (6/2), o homem estava liquidado.
O Globo foi o autor da façanha. Parabéns efusivos. Mas sem a entrada da TV, Edmar Moreira e seus asseclas não teriam desistido tão facilmente. A TV Globo foi decisiva mas a imagem do castelo falava sozinha.
"Vontade editorial"
Pergunta que não quer calar: o imortal senador José Sarney (PMBB-AP) será abatido com a mesma determinação e facilidade?
A eleição para presidir o Senado (a terceira que ele ganha, em 14 anos) ocorreu na fatídica segunda-feira (2/2), até repercutiu no exterior (foi chamado de "dinossauro" pela mais importante revista de informações do mundo, The Economist), e no domingo (8/2) sofreu um abalo inédito: a Folha de S. Paulo, jornal onde escreve uma coluna semanal há quase duas décadas, publicou a transcrição de um grampo da Polícia Federal que flagrou o senador dando instruções ao filho Fernando, encarregado de gerir o império midiático da família, sobre como enfrentar o adversário Jackson Lago na TV Mirante.
Sarney era até aquele dia um intocável – não propriamente um pária indiano, mas um privilegiado marajá acima de qualquer suspeita ou denúncia. Mas a Folha não poderia recusar o generoso material oferecido pela Polícia Federal envolvendo uma das figuras mais importantes da República. Se o fizesse seria excluída do rodízio de distribuição de "primícias".
A Folha tem sido a campeã na luta contra o "coronelismo eletrônico" (a mafiosa distribuição de concessões de radiodifusão a parlamentares). E esta conversa entre os dois Sarney é talvez a prova mais contundente do "vício das concessões" que avilta o Congresso: o presidente do
Congresso assume-se como dono da emissora e a utiliza em benefício dos seus interesses políticos.
A matéria da Folha provocou um certo frisson nos bastidores das redações: será que o jornalão vai, finalmente, obedecer ao que preconiza o seu manual e livrar-se de um dos colaboradores que mais comprometem a sua imagem?
A edição da Folha no dia seguinte (segunda, 9/2), foi decepcionante: nem uma linha sobre o grampo da PF, como se o jornal nada tivesse noticiado na véspera. O Estado de S.Paulo entrou no assunto com alguma vontade (pág. A-8), dificilmente agüentará sozinho. O Globo ficou de fora. Idem, a TV Globo.
Conclusão: Sarney não é Edmar Moreira. As semelhanças são apenas simbólicas. O império feudal do dinossauro maranhense não tem castelos e sem imagens espetaculares um caso desses fica difícil de explicar para o telespectador médio. A não ser quando há uma "vontade editorial" (expressão usada pelo ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva). Em 2002, quando a PF estourou uma empresa da sua filha e genro em São Luis (MA), as fotos da montanha de dinheiro tiveram efeito limitado – Roseana Sarney saiu do páreo presidencial, mas o caso foi encaminhado à justiça maranhense. Foram inocentados.
Bola-de-neve
Para abalar Sarney só um tsunami de grandes proporções. Sarney é um poderoso chefão, o capo da mídia brasileira. Além de afiliado da Rede Globo é o queridinho dos demais grupos de mídia eletrônica e dos respectivos coronéis interioranos. Foi ele, na condição de presidente da República, com a ajuda entusiasmada de Antonio Carlos Magalhães, seu ministro das Comunicações, quem começou a farta distribuição de concessões de radiodifusão a parlamentares. A pedido das grandes empresas de mídia, sobretudo eletrônicas, Sarney segurou ao longo de 14 anos a criação do Conselho de Comunicação Social. E quando o Conselho foi criado à sua revelia, deu um jeito para fechá-lo dois anos depois.
Sarney abalou-se com a matéria da Economist por vaidade. A imagem de dinossauro estraga a sua figura enfatiotada pelos jaquetões, confronta a imagem que tem de si mesmo. Além disso, não pode esquecer que a sua força começa no próprio quintal, por isso não pode dar trégua ao bando adversário.
Se a reportagem da Economist focalizasse com destaque o império midiático de Sarney ou a vergonhosa questão das concessões, a bola-de-neve poderia enfim rolar. No sexto parágrafo de uma matéria de oito, a aberração fica amenizada.
Edmar Moreira foi esmagado porque é apenas uma lagartixa. Sarney é um dinossauro. Vai sobreviver porque não é único.
*Alberto Dines (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1932) é um jornalista e escritor brasileiro.
Em seus mais de 50 anos de carreira, Dines dirigiu e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal. Leciona jornalismo desde 1963, e, em 1974, foi professor visitante da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Nova York.
Foi editor-chefe do Jornal do Brasil durante 12 anos e diretor da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro. Dirigiu o Grupo Abril em Portugal, onde lançou a revista Exame.
Depois de anos driblando a ditadura à frente do Jornal do Brasil, foi demitido em junho de 2004 justamente por publicar um artigo que contrariava a direção do jornal, ao criticar a relação amistosa de seus donos com o governo do estado do Rio de Janeiro.
Criou o site Observatório da Imprensa, o primeiro periódico de acompanhamento da mídia, que conta atualmente com versões no rádio e na TV.
Escreveu mais de 15 livros, entre eles Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig (1981) e Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu, e outras história da Inquisição em Portugal e no Brasil, Tomo I (1992). O livro sobre Stefan Zweig foi adaptado para o cinema por Sylvio Back em 2002 no filme Lost Zweig. Alberto Dines também fala sobre Stefan Zweig no documentário do mesmo diretor.
Atualmente é pesquisador sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp, onde foi co-fundador, além de coordenar o Observatório da Imprensa on-line e pela televisão.
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