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26 de jul. de 2013

Veríssimo detona os ex-esquerdistas

Conversões, por Luis Fernando Veríssimo.
Sugestão de pauta: Luis Pedro. 
Enviado por Eri Santos Castro.
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Ninguém é mais direitista do que um ex-esquerdista. Talvez porque a desilusão com 
as promessas nunca realizadas da esquerda se misture com a necessidade do novo
 direitista de exorcizar seu passado, de se autopunir pela sua ingenuidade. 

Para repudiar o que era, o ex-esquerdista precisa arrasar o que era. Como está
 também arrasando o seu passado, a sua juventude e o tempo que perdeu 
acreditando em coisas como igualdade, solidariedade e a redenção da 
humanidade, não admira que sua crítica à esquerda seja tão ácida. 

Está lamentando a si mesmo, o que só aumenta sua raiva. O adágio, tão repetido, 
segundo o qual quem não é de esquerda até uma certa idade não tem 
coração e quem não é de direita depois não tem cérebro, equipara a migração 
da esquerda para a direita como uma conquista da sabedoria. Idealismo, crença
 em justiça social etc. seriam coisas que iríamos largando pelo caminho rumo
 à maturidade, junto com outras baboseiras juvenis. 

Não se tem notícia de uma migração ao contrário, de direitistas que voltam 
a ser esquerdistas, até como uma forma de recuperar a juventude. 
E esquerdistas que continuam esquerdistas apesar de já terem idade
 para se darem conta do engano são alvos prioritários do escárnio dos convertidos. 
Ainda têm coração, os inocentes. 

Os neoconservadores que levaram a política externa americana a sucessivos
desastres nos últimos anos têm este nome porque muitos deles 
foram trotskistas na juventude. 
Abandonaram o internacionalismo trotskista e inauguraram o
 ultranacionalismo do “século americano”, e continuam influentes, mesmo sob o
 governo do Obama. 

Os ex-trotskistas odeiam o que foram um dia, e seu conservadorismo ativo 
é uma forma de expiação. Caso notório de conversão foi a do escritor John dos Passos, 
ex-comunista e autor de alguns livros memoráveis de crítica social, que acabou 
seus dias quase como uma caricatura de direitista americano, com bandeira 
na frente da casa e tudo. 

Para quem ainda se considera de esquerda, apesar das desilusões e de um 
coração combalido, o rancor dos convertidos tem seu lado positivo. 
Mostra que a esquerda ainda existe, logo chateia. Ou chateia, logo existe.