3 de mai. de 2015

Discurso proferido por Drº Leo, representando o então governador Jackson Lago, em ocasião ao 151º aniversário de Pinheiro, em 2007

DISCURSO PROFERIDO, EM 03.09.2007, por Leonaldson Castro, ESTANDO NA PLATÉIA O PREFEITO FILUCA MENDES, EM OCASIÃO DO 151º. ANIVERSÁRIO DE PINHEIRO E DA FORMATURA DA PRIMEIRA TURMA DE LICENCIATURA SUPERIOR DE PROFESSORES DO CONVÊNIO PREFEITURA/UFMA

O maranhense de Pinheiro Drº Leo Castro
  #          (Saudaçoes): Representando o Sr Governador de Estado, Jackson Lago,  e enaltecendo sua condição de arauto da esperança de um novo tempo - Evocações aos presentes

#          (Discurso): Vou-lhes contar uma história: a jornada de um menino em busca de saber exila-se, e muito tempo depois, já homem feito, retorna para acabar de nascer perante à sua Terra. Não encontrei outra senão esta história para celebrar e aclamar este momento único em vossas vidas que, tenho certeza, qualifica-vos, formandos, ao profundo desenvolvimento  servil à Humanidade, a mais nobre das missões humanas – EDUCAR PARA LIBERTAR!
            
 Há 30 anos, rumava eu, menino de 14 aniversários, em direção a um longo exílio. Impiedoso e incondicional exílio, mas necessário. Impiedoso porque ceifava a minha inacabada e telúrica meninice de Pinheiro, minha Terra, a de meus pais e de meus avós, tanto também a de meu avô português, José Santos. Não se resumiu em simples transferência geográfica: nos tempos por vir embutia-se a inexorável mutação daquele ser inarredavelmente inocente e apegado às coisas da sua terra, em um homem premeditadamente municiado para a luta da vida... para continuar existindo ante a morte que morrer um Pinheirense não quer antes que justifique a vida. 

Decerto, adviram sofreguidões, negações, enganos e quase desistências... enfim a dor d’alma, mas a  final o homem existindo por suas próprias escolhas e convicções, eu denodamente vaticinava alcançá-las. E assim o menino deu lugar ao homem precoce e pretenso, sem esperar que o coração amolecesse e não chorar os campos e a Faveira, a casa, a farmácia e o Colégio Pinheirense, os amigos e os professores que me exortaram a saudade, mas sobretudo apontaram essa difícil viagem. Impossível não nominá-los: Dona Vivi e Dona Maricota, me botaram letras à fala e escritas ao papel; Dona Maria Costa e Dona Dilu me receberam maternalmente no Colégio Pinheirense e cuidaram de pingar limao nos meus olhos para o ácido dom de ver´ que me espreitava; Dona Lurdinha Dias, Dona Elvira, Dona Maria de Jesus e Dona Maria Fausta me ensinaram meu primeiro português e minhas primeiras contas, a receber e também a pagar; Dona Maria do Carmo, Dona Regina, Dona Valdete, Dona Cici, esta o horizonte deu-mo; Seu Afonso Guimarães, Frei José, Dr. Raimundo, Professor Antônio Carlos Guterres compensaram a paternidade ausente; e o Pe. Rizzo, materialização do entreguismo incondicional aos de pouca posse, incutiu-me a verdade suprema d´um mundo de todos. Não foram meus orientadores de Mestrado ou PhD, nem mesmo os das Universidades mundo-a-fora, os mais importantes professores para mim, mas vocês todos de Pinheiro, alguns que, infelizmente, minha lembrança já desbotada injustamente nao me permitiu citar, é a quem devo o que sou! Aonde estiverem, saibam da minha mais profunda gratitude e do orgulho por ter sido um de seus alunos. Permitam-me , ainda uma vez mais, pedir-lhes serem eles o exemplo para esta Turma de Formandos. Se vós, Formandos, os seguirdes o exemplo de entreguismo, altivez e superação no divino ofício de ensinar, estais todos fadados ao sucesso e vereis justificadas vossas existências!
            
De volta aos périblos do exílio. Enquanto quase todos experimentam uma única vez apenas a ruptura do elo umbilical, em alguns esse cordão vital é decepado outras segundas vezes. Ocorreram-me múltiplas ruturas. Estes outros cortes  necessários e defenestrados pela lâmina fria da sobrevivência, levaram-me a ser médico, formado pela mesma Universidade que vos graduais agora. No exílio, segui em frente e estou no Rio de Janeiro. Foram 9 anos de pós-graduação sensu latus: Cirurgia Geral, Coloproctologia e Cirurgia Oncológica. Em seqüência vieram o Mestrado e o Doutorado, pela UFRJ. O sofrimento desproporcional e imerecido dos portadores de câncer atingia-me repugnantemente. Eram meu mister e desafio. Precisava saber mais, mas humildemente. Fui para New York, no Memorial Sloan Katering Cancer Center. Sirvo à maior instituição latino-americana dedicada à pesquisa, ensino e tratamento de câncer, o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Publicamos artigos, livros, capítulos; proferimos conferências e aulas mundo afora ... todos devotados ao combate ao câncer. Apresentamos ao mundo científico, no Colégio Americano de Cirurgiões (ACS), técnica cirúrgica inovadora. Houve o reconhecimento das Medicinas americana e européia à cirurgia brasileira.
            
Valeu a pena as dores do exílio. E eis que invoco este humilde exemplo para me solidarizar com cada um de vós no reconhecimento da superação hercúlea requerida para estais aonde estais. Qão dignificante o ofício o de vós. Não haverá Justiça e Democracia sem educação. Educar para libertar: eis a maior de todas as construções políticas. De fato, se os políticos se ativessem às observância e realização deste princípio e não precisaríamos reprová-los, negá-los ou puni-los. Antes, seríamos apacentados ao invés de traídos e extorquidos pelos dissimulados em bem-feitores. É mais que chegada a hora do Povo Brasileiro unirmos-nos para o impedimento das práticas criminosas que oprimem e desesperam a cada um de nós, e em mais abissal desproporção, os mais humildes e despossuídos.
            
Vós, vitoriosos Formandos, por sabeis hoje mais que ontem, estais mais libertos que fostes. E ao dividirem seus saberes nas classes de aula, que é os seus misteres, acredito, estais operando o desígnio de Deus: Libertar, e estais igualmente traduzindo-vos em instrumento político, aquele que Bobbio chama de concepção ética da política e que quer dizer que a política antes de ser ação, deve ser educação e, tanto esta quanto aquela, ambas, devem ser dirigidas por princípios éticos e originados de um esforço consciente e desprendido. O oposto é a política pragmática baseada em interesses pessoais ou de grupo, em critérios de conveniência e de oportunidades, neste caso, obter poder e riqueza torna-se a medida do êxito.
            
Vades aonde precisem de vós, às salas de aula, e vereis cumprido os vossos deveres e vocações: vossas parcelas de contribuição por um mundo mais justo, por um mundo melhor e humano! E assim, valeu ter vivido! Deixai rastros!
             
Sei que não sou o mais capaz de ser vosso paraninfo, mas imerecida convocação honrou-me profundamente e encoraja-me a voltar à nossa Terra para acabar de nascer!
           
Que Deus nos guie!


Dr Leonaldson dos Santos Castro, maranhense de Pinheiro, é oncologista do INCA-Instituto Nacional do Carcer, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia, mestre e doutor pela UFRJ, titulação-Phd com teses defendidas em :University Harvard (EUA), University California (EUA),University Oxford (Inglaterra), University Cambridge (Inglaterra), University Toronto (Canadá), University Zurich ( Suiça), University Munich (Alemanha) e Kyoto University (Japão). Autor de vários livros  e um dos três médicos brasileiros titulares do Colégio Americano de Cirurgiões.

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