27 de jun. de 2013

Os 40 anos da ditadura uruguaia, por Beatriz Bissio


Hoje faz 40 anos do dia em que o Uruguai mergulhou na ditadura – uma ditadura cívico-militar. Como corolário de um processo de cerceamento das liberdades que vinha desde muito antes, na madrugada de 27 de junho de 1973, o próprio Presidente constitucional, Juan María Bordaberry, dissolveu o Congresso, por decreto, com apoio dos Ministros da Defensa e do Interior. Também por decreto foram declarados ilegais os partidos e grupos políticos de esquerda – o Partido Comunista (PC), o Partido Socialista (PS), o Movimento 26 de março, o Movimento Revolucionário Oriental (MRO), entre outros. 
A resposta do povo foi contundente: a Central Única dos Trabalhadores decretou greve geral e ocupação dos locais de trabalho e a palavra de ordem foi acatada em uma altíssima proporção, atingindo a resistência popular proporções verdadeiramente contundentes: o país parou. Só ao custo de muita repressão consegui o regime dobrar a resistência, depois de quase um mês!
Nessa época eu era estudante de Engenharia Química mas, apaixonada pelo jornalismo, fazia estágio no jornal “Ahora”, da coligação de esquerda Frente Ampla, dirigido de facto, pelo jornalista brasileiro exilado no Uruguai Neiva Moreira. Com todos os colegas do jornal – dos jornalistas aos operários das máquinas da parte gráfica – ocupamos o jornal durante todo o período da greve, com a polícia jogando bombas e atirando, levando preso qualquer um que tentasse sair do jornal para comprar mantimentos; o país estava em ebulição, prisões em massa... Um dos primeiros a ser preso foi o general Líber Seregni, fundador e presidente da Frente Ampla, que passou onze anos no cárcere...
Muita luta, muito sangue derramado, muitos homens e mulheres encarcerados, exilados, torturados, assassinados... Finalmente, em 25 de novembro de 1984, as primeiras eleições – com os partidos e dirigentes políticos de esquerda proscritos. 
Em 1º de março de 1985 assumiu o governo o dirigente “colorado” (um dos partidos tradicionais, de centro-direita) Julio María Sanguinetti. Passaram-se 20 anos até a vitória da Frente Ampla, com Tabaré Vazquez como candidato, nas eleições presidenciais. E a luta continua...

Nas fotos, a capa do jornal “Ahora” na edição extra do próprio dia do golpe e uma edição do jornal "El Popular", do Partido Comunista, comemorativa da Greve Geral de 1973.

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