O enigma Flávio Dino
No
cenário de 2012 um personagem parece fora de enquadramento, deslocado
do campo visual, postado à margem do tabuleiro político em sentido
longitudinal. Como uma espécie de talismã que assiste em silêncio ao
deslocamento das peças, aguardando, quem sabe, o momento oportuno para
entrar em cena. Para alguns é carta fora da sucessão municipal. Para
outros o distanciamento é só aparente. Parte do próprio jogo.
Desde
que as urnas de 2008 ungiram Castelo prefeito de São Luís, dando-lhe um
destacado segundo lugar, com mais de 30% dos votos válidos, Flávio Dino
fechou-se em copas sobre as questões que envolvem a capital. Salvo
raríssimas exceções, evitou palpitar sobre o governo tucano, preferindo
ajustar as suas lentes e os seus interesses para um território mais
amplo, há quase meio século dominado por uma dinastia.
Na
disputa por esse feudo, amargou nova derrota eleitoral em 2010, mas
novamente saiu do pleito com ar de vitorioso. Chegou à frente do
lendário Jackson Lago, obtendo quase um terço dos votos válidos em
primeiro turno. A empolgação queimou-lhe o sangue, rompeu os diques da
humildade, que já eram frágeis. Ao final da contenda, declarou-se
herdeiro do espólio da oposição, ícone da nova resistência.
Resgato
esses fatos para calçar a análise que pretendo fazer sobre os
movimentos de Flávio Dino na direção de 2012. Desde que o mundo é mundo o
homem se lançou numa trajetória de disputa por espaço político,
procurando sempre avançar sobre o território de seus adversários, numa
luta às vezes sangrenta que resultou em cidades destruídas, impérios
usurpados, populações dizimadas. Tudo em nome do poder.
O
poder é como o canto da sereia. Toca os ouvidos, encanta a alma. Uma
vez preso em suas armadilhas, refém para sempre. Difícil abrir mão dele.
José Sarney que o diga. Subiu ao pedestal em 1965, ao ser coroado
governador do Maranhão. Já ultrapassou a casa dos 80 anos, mas continua
firme, dando as cartas na política do Estado, soprando ao pé da orelha
de presidentes da República. Tem inscrição garantida na História.
A
ascensão de Flávio Dino é de dar inveja. Seis anos atrás era apenas um
bem-sucedido juiz federal. Nas eleições de 2006 elegeu-se deputado
federal com larga margem de votos. Exerceu o mandato com brilhantismo.
Compôs o alto clero da Câmara dos Deputados. Após 2008, tornou-se talvez
a liderança mais luminosa de São Luís e a viga-mestra da oposição no
Estado, responsável pela oxigenação das forças que se contrapõem ao
grupo Sarney.
É
com essas credenciais que ele observa o processo da sucessão de
Castelo. Participar de eleições é fundamental para ampliar espaços e
consolidar posições. Até o cidadão mais distraído sabe que o alvo de
Flávio Dino é o Palácio dos Leões. Assim como é quase consenso que esse
vôo sugere um pouso estratégico na Prefeitura de São Luís.
Ao
lado de Castelo, Dino é protagonista de 2012, talvez o nome mais temido
da sucessão, inclusive e principalmente pelo próprio prefeito. Em
artigo neste JP, o classifiquei como uma espécie de sombra da gestão
tucana, que poderia crescer e ganhar solidez ou minguar e até
desaparecer do espectro da capital, dependendo do desempenho da
administração municipal. Disse também que as condições de Castelo eram
tão boas que ele podia se dar ao luxo de escolher o tipo de adversário
com o qual disputar a reeleição.
Parece
que se decidiu pelo mais perigoso. Com suas trapalhadas e erros
estratégicos sucessivos, Castelo está chamando Flávio Dino para as
urnas. A tese do quanto pior melhor se aplica à perfeição nesta disputa.
Ainda que não torça para isso, Dino sabe que as suas chances em 2012
são inversamente proporcionais ao êxito tucano no comando municipal.
Quanto mais Castelo fizer bobagem e cair no descrédito da população,
mais o comunista se fortalece e ganha terreno nessa disputa. Porque ele é
a referência do eleitor, o anti Castelo.
Muita
coisa conspira a favor de uma candidatura de esquerda, mas afirmar,
categoricamente, que Flávio Dino vai para o confronto é temerário,
porque a estrutura do jogo político está em permanente mutação. No
entanto, poderia dizer que hoje ele tem mais motivos para entrar em 2012
do que para ficar de fora. Entrando e ganhando, assume a condição de
pólo na sucessão de Roseana Sarney. Não entrando, deixa o horizonte de
2014 nublado.
A
eleição para o governo do Estado ainda é um cenário distante e
complicado para Flávio Dino. Nada garante que o grupo Sarney chegará
exaurido em 2014. Ao contrário, a tendência é de fortalecimento. Dino
poderá ter pela frente um experiente e perigoso Edson Lobão ou um
ascendente Luis Fernando, embalado numa visão política moderna, discurso
atraente e gestões progressistas no comando do município de São José de
Ribamar. Tudo isso sem falar na força quase mitológica da máquina
estadual.
Para Flávio Dino, ganhar a prefeitura da capital é dar musculatura ao projeto de 2014. Muitos
podem dizer que essa é uma hipótese arriscada, porque projetaria o
cheiro de estelionato e daria munição aos adversários para acusá-lo de
prefeito-tampão. O mesmo aconteceu com José Serra em São Paulo. A
pressão foi tão forte que ele se obrigou a assinar um documento em
cartório, se comprometendo a governar a cidade por quatro anos. Apenas
um ano e meio depois, mandou o documento para o lixo, foi para a disputa
e tornou-se governador.
Nesse
contexto a escolha do companheiro de chapa ganha relevo, porque pode
funcionar como um amortecedor. Nada impede, por exemplo, que o PC do B
se alie ao PSB, formando uma dobradinha entre Flávio Dino e Roberto
Rocha, ambos com visão política e propostas de governo convergentes.
Assim, na hipótese de vitória e no momento oportuno, Dino poderia passar
o bastão a Rocha, sem comprometer o projeto de São Luís.
Enfim,
nesta fase de inclusão das peças no tabuleiro político e de movimento
dos partidos a caminho das coligações, as análises se dão num campo
puramente especulativo. Mas independente de tempo e de circunstância,
uma verdade emerge desse processo límpida, incontestável para Flávio
Dino. Ausentar-se de 2012,
quando o eleitor reclama a sua presença e o enxerga como tábua de
salvação é incorrer no grave pecado da omissão. Além de abrir um espaço
perigoso para que um terceiro nome cresça nessa disputa e embole de vez o
horizonte de 2014. E Flávio Dino, como se sabe, pode ser muita coisa,
menos burro.
Por Nonato Reis, no seu blogue. Veja aqui!
Editado por Eri Santos Castro.
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