8 de jul. de 2010

O outono da Primavera Negra

Deu em O Globo

Anúncio da libertação de 52 presos anima famílias e deve melhorar relações de Cuba com UE
Cristina Azevedo
Por sete anos, elas saíram pelas ruas de Havana vestidas de branco, levando palmas e exigindo a libertação de maridos e filhos. Mas, ontem, o clima era de surpresa, expectativa e alegria entre as Damas de Branco, depois de a Arquidiocese de Havana comunicar que o governo se comprometera a libertar os 52 prisioneiros que restam dos 75 detidos na Primavera Negra, em 2003.

Segundo a Igreja, os cinco primeiros deveriam ser soltos nas próximas horas e seguir para a Espanha com o chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos, que acompanhou as negociações. Seis serão transferidos para prisões perto de suas casas, mas todos devem ser soltos em até quatro meses. Com isso, o número de presos políticos na ilha deve cair em um terço.
— Ainda não recebemos informação do governo, sequer sabemos quem serão os cinco primeiros. Como meu marido está doente, creio que sairá logo — contou ao GLOBO, por telefone, muito ansiosa, Magali Broche, mulher de Librado Liñares, quase cego e recém-operado do estômago.

O comunicado que pode pôr um fim à onda repressora de 2003, que condenou dissidentes em julgamentos sumários a penas de até 20 anos de prisão, veio após gestões da Igreja Católica e uma crescente pressão internacional, com a morte em fevereiro do preso político Orlando Zapata e do agravamento da saúde de outro dissidente, Guillermo Fariñas, internado em greve de fome e sede pela libertação dos prisioneiros doentes.

Após uma reunião ontem entre o cardeal de Havana, Jaime Ortega, o presidente Raúl Castro e Moratinos, que foi a Cuba especialmente para a ocasião, "o cardeal foi informado de que nas próximas horas seis presos serão transferidos para suas províncias e mais cinco poderão sair em breve para a Espanha em companhia de suas famílias".

Embora 75 pessoas tenham sido presas em 2003, mais de 20 receberam liberdade condicional para tratamento de saúde. A gestão da Igreja começara em maio com uma reunião entre Raúl e Ortega, e foi vista como positiva por dissidentes, embora o cardeal não tenha conversado com a oposição — a Igreja se mostrou como interlocutora das Damas.

Enviado por Eri Santos Castro.

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