Centenas de milhares de maranhenses deixaram as suas casas, nas últimas décadas, para buscarem dias melhores. São pessoas que vão trabalhar nos garimpos, nos canaviais, na construção civil ou mesmo estudar. Quantos maranhenses se foram e nunca mais poderam voltar? A história do mineiro Jean Charles que foi assassinado na Inglaterra lembra o assassinado de um sonho. Esta reportagem está no Estado de Minas, de hoje (21).
Manchete: O assassinato de um sonho
Faz cinco anos que a polícia britânica, em caçada a suposto terrorista, fuzilou um inocente: Jean Charles de Menezes. Durante 40 dias, repórter do Estado de Minas refez em Londres os passos do jovem mineiro. Também visitou Gonzaga (MG), onde familiares de Jean ainda tentam superar a dor da perda. A jornada será contada em série de reportagens que começa hoje.
Londres e Gonzaga (MG) – “Mãe, um dia, a nossa vida vai mudar”. Oito anos depois de ter ouvido a profecia, Maria Otoni de Menezes, de 65 anos, continua morando na casinha de três quartos, lá para os lados do Jorge dos Neca, ou Córrego dos Ratos, na zona rural de Gonzaga, no Vale do Rio Doce, a 306 quilômetros de Belo Horizonte. Ainda hoje ela faz tudo igual, tudo como antes. Cuida da plantação de palmito e cana, logo cedo ordenha a vaca, faz o queijo, reza de dia, reza de noite, em indiferente sossego. O filho Jean Charles errou.
Menino que não resiste ao apelo do desconhecido e deixa sua terra rumo ao estrangeiro não tem opção: paga sempre o mesmo preço – a saudade que leva, a saudade que deixa. Dona Maria já havia se acostumado com a situação. Mas, há cinco anos, quando seu garoto voltou, chegaram com ele câmeras de TV de diferentes partes do mundo. Milhares de pessoas surgiram sabe-se lá de onde. O prefeito, dois ministros, um secretário de Estado, um senador... Daí em diante, tristeza maior tomou conta de dona Maria, e quase tudo virou “motivo de trabulação” (aborrecimento). O filho Jean Charles acertou a profecia. A vida mudou muito. Mas teria sido melhor se ele tivesse errado.
Do Estado de Minas.
Enviado por Eri Santos Castro.
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