19 de jun. de 2009

Só São Marçal salva a UFMA!


O professor Wagner Cabral é um inventor e como tal se constroe. A solução para a UFMA está com São Marçal, veja o porquê:
Uma idéia realmente magnífica. É a conclusão a que se chega depois de cismar e
pensamentear sobre a proposta da Administração Superior de marcar uma audiência pública para 30de junho, dia de São Marçal, visando debater a intempestiva decisão da Pró-Reitoria de Ensino demodificar burocraticamente o horário de aulas sem qualquer discussão para ponderar as implicaçõesda medida no cotidiano de alunos, técnicos e professores. As reações ao autoritarismo da gestão nãose fizeram tardar, incluindo manifestos e decisões contrárias de vários departamentos e dois centrosacadêmicos (CCH e CCSO), passando ainda pela ocupação da Reitoria durante dois dias(movimento de pronto “desqualificado” em nota oficial que repudiava “a ação política partidária”de “estudantes que não possuem legitimidade e nem representatividade acadêmica” – num tomsaudosista da ditadura e condizente com a atual criminalização dos movimentos sociais).
Pressionada, a Administração Superior respondeu em seu melhor estilo, consolidado por dez
anos de arbítrio à frente do Hospital Universitário: batendo na mesa. Além de – diante da
impossibilidade de marcar a audiência para o Dia de São Nunca, à tardinha – impor a mesma, aindasem hora e local definidos, para coincidir com a maior festa popular da capital, a qual representa, namemória social da cidade, um marco da resistência cultural do bumba-meu-boi aos controles erepressões das elites locais. Uma idéia realmente magnífica: Só São Marçal salva a UFMA!
Chegou-se ao cúmulo de negar a existência da decisão! Foi apenas um boato da oposição,
desses chatos de plantão! Numa tirada típica do “Ministério da Verdade” (Miniver - cuja
especialidade era produzir mentiras) de 1984 (George Orwell), a Assessoria de Comunicação
lançou nota afirmando “que não há veracidade nas informações disseminadas sobre a
regulamentação de novos horários de aula. Não há resolução, nem qualquer portaria que
regulamente a questão”. Na mesma tônica, um memorando da Pró-Reitoria de Ensino desdizia o
dito pelo não dito, falando num esotérico planejamento “alternativo”, relacionado ao alinhamento
de Vênus com Saturno. Isso depois de toda a comunidade já haver recebido um ofício sobre a
mudança (imposta sem base legal), a qual também constava da pauta do CONSEPE! Na novilínguada Proencom, todo nonsense e disparate faz sentido!
De minha parte, não somente concordo com a magnífica idéia, como quero contribuir com a
mesma, lançando uma cruzada para consagrar São Marçal como Santo Padroeiro e Protetor da
Universidade Federal do Maranhão. Explico-me amparado na história do santo.
Religioso dos primórdios da cristianização da França (século III), a lenda conta que o santo
seria portador de um cajado muito poderoso, recebido das mãos do próprio São Pedro, com o qualoperava milagres, tais como ressuscitar mortos e apagar incêndios. A devoção a São Marçal sedifundiu por Portugal depois do trágico terremoto de Lisboa (1755), que combinou tremores,
desabamentos, tsunamis e incêndios para destruir a cidade e matar milhares de pessoas (com relatosque variam entre 30 mil e até 100 mil mortos). Na reconstrução da capital, tornou-se um hábitodecorar as casas com imagens religiosas para invocar proteção contra novas catástrofes, destacandoseos azulejos de Bom Jesus dos Navegantes, São Marçal e Santo Antônio (Padroeiro de Lisboa).
Não tardou para a crença chegar à colônia maranhense, acompanhando navegadores e
colonos que para cá se transferiam quando da implantação do sistema agro-exportador escravista(com suas fazendas de algodão e arroz), que criou as fortunas a partir das quais se edificou o casariocolonial, construído também sob a proteção dos santos. No momento seguinte, a lenda de SãoMarçal, associada aos festejos juninos e a São Pedro, se mesclou com as tradições culturais dossetores dominados, num processo de sincretismo religioso que acabou por transformá-lo em íconeda resistência cultural do bumba-meu-boi, homenageado na grande festa celebrada no João Paulodesde a década de 1920. Eis, em rápidas pinceladas, a trajetória de reinvenções e hibridismos dosanto francês, que se tornou um símbolo de proteção e resistência popular no Maranhão.
Dessa forma, na atual conjuntura de nossa universidade, atingida, de um lado, pelas
exigências produtivistas do governo federal (REUNI) e, do outro, por uma gestão autoritária que jáse anuncia em crise, nada mais justo que adotar a idéia magnífica: Só São Marçal salva a UFMA!
Só o Miniver, Ascom ou Proencom podem desdizer!
Assim, se a idéia valer mais que a palavra empenhada da atual gestão, o passo seguinte é
organizar a cruzada pró-São Marçal. Eis algumas propostas iniciais:
• Novena de São Marçal, todos os dias, ao meio-dia, na Área de Vivência.
• Altar de São Marçal a ser instalado na futura (?) Casa do Estudante.
• Tambor de São Marçal, com a lavagem das escadarias da Reitoria.
• Azulejos e cartazes nos prédios para protegê-los do “mau olhado”.
• Lenços, fitinhas, santinhos, patuás e chapéus de palha, para uso individual.
• Inclusão de todas as crenças existentes, com a realização de culto ecumênico.
• Noite e arraial de São Marçal: Pela Democracia na Universidade!
• Oratório, para atender as pessoas enquanto pagam promessa na fila do RU.
A cruzada está aberta a sugestões, inclusive com a reinvenção de práticas políticas. Pois
imaginem uma gloriosa Procissão de São Marçal, percorrendo os corredores ao som de matracas epandeirões, distribuindo santinhos aos devotos, entoando toadas de protesto e convocando a
comunidade pra Guarnicê! Já mandei fazer minha matraca com pau de dar em doido e cipó de
aroeira – te cuida, “contrário”!
Mas outras idéias magníficas também são bem-vindas: uma sessão de “descarrego”, uma
comissão de ética, o testamento de Judas, o Pancadão ou Bonde do Marçal, um cacuriá pra assar
cana, uma luarada no Palácio Cristo Rei, teatro de marionetes (não somos nós?)... Todas as
atividades concluindo, obviamente, com a Oração de São Marçal:
• Suplicamos, meu santim, tua proteção contras as catástrofes que se anunciam em nossa
universidade: do REUNI, do fim do vestibular, do fim da Dedicação Exclusiva, da
mudança de horários – todas as mudanças impostas de cima pra baixo.
• Alumiai nossos déspotas esclarecidos do tempo do Pedro II, que ainda pensam, à maneira
iluminista, em levar a “civilização” para os grotões e formar estudantes a partir da
equação de mercado: Cursos = Recur$o$.
• Livrai a universidade do dilema Tostines, característico da crise da Administração Superior.
Pois ninguém sabe da gestão, nem mesmo nossos amados burocratas, “se é salgada
porque é autoritária, ou se é autoritária porque é salgada?”.
• Guardai e curai o progressivo Mal de Alzheimer que atinge nossos diletos dirigentes (talvez
seja de família!), fazendo-os não se lembrar de nada, chegando mesmo a mudar o lema da
instituição: “A vida é esquecimento! Que aos tolos ilude e engana”.
• Ajudai a evitar a criação de cursos - Cérbero (com 3 ou 4 cabeças) no interior, baseados na
“inovadora” lógica inversa, que desde já parece anunciar aos futuros alunos: “Abandonai
toda esperança aqueles que entram neste lugar!”.
• Dizei, meu padim, como lançar mão de teu cajado todo-poderoso e turbinado para ressuscitar
a democracia na universidade, que diz avançar apenas para regredir aos tempos de Cabral,
o famoso Rei Tô, de triste memória.
• Olhai, meu padroeiro, por todos os teus devotos, de todos os credos e confissões políticoreligiosas,
para que aprendam, nas diferenças de opinião, a construir alternativas, afinal,
“é pra reunir, vamu guarnicê!” Te alevanta Noite Linda!
No calor do CCH, campus do Bacanga, na cidade de São Luiz do Maranhão, aos dezessete
dias do mês de junho do Ano de Nosso Senhor de 2009, Ano I do novo calendário marçalino.
De seu eterno devoto,
Wagner Cabral da Costa
Contador de estórias
Postado por eri Santos Castro.

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