De volta ao trabalho
Ou quando as relações pessoais determinam as ações políticas
Deu no Josias de Sousa
No Senado, a convivência costuma levar à cumplicidade. Que acaba por forjar indissolúveis amizades.
O senador José Sarney e o servidor Agaciel Maia cultivam um desses relacionamentos fraternais.
Na noite desta quarta (10), Sarney ofereceu a Agaciel uma demonstração do apreço que nutre por ele.
O presidente do Senado foi à cerimônia de casamento de Rodrigo Cruz com Mayanna Maia, filha de Agaciel e de Sânzia Maia. Sarney foi padrinho da noiva.
Por uma dessas ironias que só o destino sabe tricotar, Sarney inaugurara a quarta-feira distribuindo explicações no Senado.
Vira-se envolvido numa notícia levada às páginas pelos repórteres Leandro Colon e Rosa Costa.
A reportagem informara que, sob a direção-geral de Agaciel Maia, o Senado editara algo como 300 atos administrativos secretos.
Documentos redigidos para prover cargos e reajustes salariais a amigos e parentes de senadores e de servidores graduados do Senado.
Entre os beneficiários estava um neto de Sarney. Chama-se João Fernando Michels Gonçalves Sarney. Trabalhara à sombra no gabinete do maranhense Epitácio Cafeteira.
Em entrevista, Sarney disse que o caso dos atos secretos veio à luz justamente porque o primeiro-secretário Heráclito Fortes nomeara comissão para corrigir o malfeito.
Disse que o Neto, já exonerado, não fora acomodado na folha salarial do Senado a seu pedido. O senador Cafeteira agira por conta própria.
Renan Calheiros, outro senador que nutre por Agaciel uma cúmplice amizade, também foi ao casamento da filha dos Maia.
Ex-presidente do Senado, Renan frequentara também ele, a lista de convidados ao privilégio das nomeações secretas.
Valera-se do expediente dos atos sigilosos para empregar na ex-diretoria-geral de Agaciel uma ex-prefeita do município alagoano de Murici, Marlene Galdino.
Outro político a dar as caras no casamento que movimentou a noite da Capital foi o ministro Edson Lobão (Minas e Energia).
Conhece Agaciel Maia de priscas eras. Antes de tornar-se diretor-geral, Agaciel dirigira a gráfica do Senado.
Nessa ocasião, permitira que as prensas do Senado rodassem peças de campanha eleitoral de quatro políticos:
Humberto Lucena, já morto, e três expoentes do grupo de Sarney: Roseana Sarney, Edison Lobão e Alexandre Costa.
No último mês de março, depois de um mandarinato de 14 anos, Agaciel foi afastado da direção-geral.
Sarney viu-se compelido a exonerá-lo após se descobrir que o pupilo ocultara a posse de mansão de R$ 5 milhões sob o nome do irmão, o deputado João Maia (PR-RN).
Num instante em que o Senado está imerso em crise moral, a festa de casamento da filha de Agaciel desce à crônica social como evidência de que nem tudo está perdido.
Sobrevive em Brasília ao menos um valor essencial à vida. Continuam sólidas as amizades.
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