8 de mar. de 2009

Dia da mulher: vou excomungar esse bispo da minha igreja

Estou relendo o caso da menina que sofreu abuso e engravidou . O jornal é da semana passada e a folha traz reportagem de página inteira. Hoje é o Dia Internacional da Mulher, dedico esta insurreição às mulheres da minha vila, da minha cidade, do meu país...

Não consigo me conformar com o que li a respeito deste inacreditável caso da criança de 9 anos, estuprada pelo padrasto, que estava grávida de gemeos. Para salvar a vida da menina, os médicos da Maternidade Cisam, da Universidade de Pernambuco, no Recife, fizeram o que deveriam fazer: ela foi submetida a aborto para interromper a gravidez. O diretor médico da maternidade, Sergio Cabral, que foi o responsável pelo procedimento, explicou com todas as letras: “O risco maior seria a continuidade dessa gravidez. Uma menina de nove anos não tem ainda os orgãos formados. E não é que um advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife, Márcio Miranda, anunciou que vai apresentar uma denúncia de homicídio contra a mãe da vítima por ter autorizado o aborto?Dá para acreditar num absurdo destes?

Como se estivesse falando em nome de Deus, o próprio, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, ainda veio a público justificar a ação do advogado:“Nós, ministros da Igreja Católica, temos obrigação de proclamar a lei de Deus. Nesses casos, os fins não justificam os meios, e a lei humana contraria a lei de Deus, contra a morte”.

Nós, quem, cara pálida? Como católico , batizado e formado em escola de padres, ex-seminarista e ex-assessor de comunicação da Cáritas e da Arquidiocese de São Paulo, não posso concordar que este bispo fale em meu nome e no da minha Igreja. Clama aos céus que o que está em jogo não são as leis, nem dos homens nem da Igreja, mas apenas a vida de uma menina indefesa, ainda mais num país em que a legislação autoriza o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gravidez, sem autorização judicial.

Como o bispo Sobrinho já excomungou a família toda e meio mundo nesta trágica história, eu pergunto: também não tenho o direito de excomungá-lo da minha igreja? Portanto, vou usar a minha autoridade e excomungá-lo. Pronto, ele também está escomungado a partir de agora. E se pergutarem se foi o Papa que o excomungou, digam que foi Eri, o insurgente. E como disse o meu insentivador desta excomunhão, o administrador e comunicólogo Robert Lobato:- E que venha a inquisição!

Quanto mais ele procura defender sua posição, mais o bispo me revolta com o que leio no jornal, chegando a duvidar que as palavras sejam dele mesmo:“A menina engravidou de maneira totalmente injusta, mas devemos salvar vidas. A Igreja sempre condenou e vai continuar condenando o aborto”. Engravidou de maneira totalmente injusta? O que é isso? Por acaso existe estupro justo? Pois se o bispo está mesmo interessado em salvar vidas, deveria dar todo o apoio aos médicos da Maternidade Cisam e à mãe da menina e não ameaçá-los com um processo na Justiça dos homens. Ou deveria ir conversar com Paula Viana, a coordenadora do Grupo Curumim, organização não-governamental de defesa da mulher, que poderia lhe explicar qual vida precisava ser salva:“A cada dia que passava, o risco era maior, a menina se sentia mal e já apresentava outras complicações. Tinha que ser feita uma intervenção médica imediata”.

E pensar que esta mesma Arquidiocese de Olinda e Recife já foi ocupada por um homem como dom Hélder Câmara, o bispo que nos tempos mais sombrios da ditadura militar, arriscava a própria vida para salvar a vida dos outros. Tenho certeza de que esta Igreja que dom Sobrinho diz representar não é a minha Igreja e não é a Igreja de dom Hélder. Alguém está na Igreja errada.

2 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Isso que vi, através da televisão, o que falou esse senhor ‘dom José Cardoso Sobrinho’ se não for brincadeira é doidice: a menina tem 9 anos! E com que seriedade defende sua tese! Quanta bobagem saiu de uma só pessoa...

São coisas deste tipo que fazem com que a Igreja Católica venha perdendo fiéis para outras religiões, seitas, seja o que for.
Que Deus nos acuda!

Belo texto, gostei muito.
Tais

Diácono George Castro disse...

ABORTO E EXCOMUNHÃO
Por Monsenhor Antônio Romulo Zagotto

Recentemente o Arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, declarou excomungados todos aqueles que se envolveram no aborto dos gêmeos no caso da menina de nove anos, estuprada pelo padrasto.

A grita foi geral. Até o nosso presidente da República, em infeliz declaração, depois da infeliz aparição no carnaval jogando camisinha para o povo, disse que a medicina tem razão e a Igreja não. "Eu estou dizendo que a medicina está mais correta que a Igreja, e a medicina fez o que tinha que ser feito, salvar a vida de uma menina de nove anos. Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja católica tenha um comportamento, eu diria, conservador como esse."

O médico excomungado também falou bobagem: "Não é esta Igreja que a gente gosta e não é essa a Igreja que o povo quer!". A leitura de ambos é muito simplista.

Muito bem disse o bispo à Lula, que procurasse uma assessoria de um teólogo quando tivesse que se pronunciar sobre assuntos de religião. A questão da excomunhão está no Código de Direito Canônico: ‘Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae. (CDC, 1398). A expressão latina latae sententiae (Lê-se: late sentencie) significa sentença já promulgada e indica que o transgressor incorre na excomunhão sem que a autoridade competente precise pronunciar-se.

Lula, pare de dar declarações infelizes e se você é católico saiba que ser católico é acatar o que a Igreja Católica propõe como doutrina. A Igreja prega que matar é crime. Tem um mandamento que diz isso. É o quinto: "Não matar!". Ponto final. Quem faz aborto está matando, então incorre em pecado. Como é pecado também estuprar! Que também incorre em excomunhão. Só que uma está na listinha do Direito Canônico e a outra está na listinha da consciência. Quem peca gravemente também está excluído (excomungado) da graça de Deus!

E a Igreja não está aqui para ser boazinha para que a gente goste dela ou não, viu senhor doutor.

Não interessa à Igreja fazer cena para que o povo goste ou não. Ela está firme na doutrina de Deus e não amoldando as coisas para satisfazer esse ou aquele. Fiel à doutrina de Jesus ela não vai ceder um milímetro em defesa das verdades do Evangelho. Não é a Igreja que deve se amoldar ao povo, mas somos nós que devemos nos amoldar à sua doutrina, que não é dela, mas de Jesus.

E a menina de nove anos? Não sou médico. Mas penso que com o avanço da medicina, o acompanhamento sério desta gestação salvaria a mãe e as crianças. Faltou boa vontade. Do médico, do Lula e de todos que estão contra a vida.

Monsenhor Antônio Romulo Zagotto
Sacerdote Diocesano
Vigário Geral da Diocese de Cachoeiro
Pároco Solidário da Catedral de São Pedro



Data Publicação: 09/03/2009
Do site: www.cleofas.com.br