19 de jan. de 2009

Sílvio Tendler: a Folha é direitista berlusconiana




Prezados,


Apressado come cru.


Fui brindado pela Folha com o adjetivo de "esquerdista" por ter enviado carta ao ministro da Justiça pedindo que sua decisão fosse favorável à permanência de Battisti entre nós. Meu gesto foi de caráter humanitário. Se isso é ser esquerdista então está bem, aceito honrado.


A Folha ainda escreveu que comemorei a decisão. Ora apenas cordialmente respondi a uma chamada de uma repórter que me ligou para confirmar se tinha escrito a carta ao ministro. Confirmei, disse que assumia meu ato com convicção e que iria escrever ao ministro cumprimentando-o pela decisão. Se isso é comemorar, tudo bem. Então tive uma atitude que me projeta na esquerda festiva (esquerdista que comemora é isso?).


Até aqui tudo bem, é o meu que está na reta, mas continuemos neste exercício de lógica. A Folha comemorou à sua maneira o gesto do ministro, com um editorial de reprimenda à atitude do governo (sim, do governo, o presidente da República endossou o gesto do ministro).


Mas, já que a Folha não quis colocar seus repórteres em campo para apurar na Itália as repercussões do gesto brasileiro, poderia ao menos ter esperado para assistir ao Jornal Nacional de ontem (16/01), na insuspeita Globo, quando a repórter Ilze Scamparini fez o trabalho que os editorialistas da Folha não quiseram fazer e ouviu políticos italianos. O único que se manifestou favorável à extradição foi um ministro do governo Berlusconi que ameaçou o Brasil com retaliações.


O Jornal Nacional entrevistou um jurista dos Comunistas Refundadores que elogiou o gesto Brasileiro e o Jornal informou, ainda, que Francisco Cossiga (ex-ministro e que assinou a lei anti-terror) declarou ser a favor de uma anistia e que era contra o retorno de Battisti à Itália. Portanto, desconfio que: 1 - a Folha anda mal informada sobre minha pessoa; e 2 - muito mal informada sobre o caso Battisti.


E, uma vez que, por ilação, conclui que sou esquerdista, também posso concluir que a Folha é jornal direitista berlusconiano.

Abraços, Silvio Tendler


P.S.: 1)Sílvio Tendler foi o supervisor do filme 'Jackson Lago: o timoneiro da nau libertária'.


2)Sobre a Folha há muito que seu conteúdo é repleto de nhem-nhem-nhem, onde os seus puxa-sacos trocaram o cérebro pelo cartão de visita e por preconceitos seculares vestidos com roupagem pseudo-modernas.Os jornalões são todos de direita. Apoiados pelo DEM/PSDB/PPS/STF/VEJA/GLOBO/ISTOÉ/ESTADÃO/Jungmann,Itagiba,Heráclito, DEmóstenes e outros muitos. O Brasil que se dane é a filosofia deles. Por trás disso está a figura de José Erra. Deus é brasileiro.Em 2010 com Sua ajuda teremos José Era.
Esse comportamento só reforça a minha admiração pelo grande cineasta Silvio Tendler. A propósito, essas jogadas da Folha demais jornais dariam um bom documentário sobre o comportamento da mídia brasileira. Que tal tentarmos construir um roteiro coletivo do filme via internet, à maneira dos verbetes da Wikipedia? Com muitas idéias e várias cabeças, só faltaria a câmera na mão.

3)Silvio Tendler, Carioca de 1950, cineclubista, em 1970 saiu do Brasil para o Chile, e de lá foi para a França estudar cinema no Institut des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC), em Paris. Fez cursos do cineasta Jean Rouch e foi assistente de direção de Chris Marker no filmeLa spirale (1973/75). Em 1976, já de volta ao Brasil, começou a reunir material para o documentárioOs anos JK, uma trajetória política (1980), um de seus filmes mais importantes, prêmio de melhor montagem no Festival de Gramado e ganhador do troféu Margarida de Prata, da CNBB. Após este filme, dirigiu propaganda política para partidos de esquerda e foi chamado para dirigir programas para a TV Manchete. Em 1981 dirigiuO mundo mágico dos Trapalhões, um documentário em longa-metragem. Realizou em seguida Jango (1984), premiado nos festivais de Gramado e Havana. Em 1999 finalizou Castro Alves. Tendler leciona na cadeira de comunicação social da PUC-Rio. Em 2004 lançou o documentário de longa-metragemGlauber, o filme – Labirinto do Brasil e já iniciou a preparação de mais quatro:Milton Santos ou O mundo global visto de cá,Utopia e barbárie,Verger por Verger eTer 18 anos em 1968 – este último, um projeto em parceira com a editora Garamond e que envolve, além do filme, um livro.