Quando uma floresta mantida de pé valerá mais que uma tombada?
Na floresta densa, ao contrário do cerrado, a rapina ambiental chega muito antes da agropecuária. Entender esse ponto é fundamental. Quando vem a derrubada, em corte raso, as serrarias já extraíram a melhor madeira de lei. Primeiro, caem as cobiçadas árvores de mogno, ipê e cedro. Depois, deitam o jatobá e a maçaranduba. Tudo escondido.
O crime ecológico, quando detectado pelo satélite do Inpe, estoura na mídia e bate na cara do agricultor, mas apenas resvala nos verdadeiros ladrões da floresta. Aqui, no comércio da valiosa madeira, reside a origem do problema. Ou se enfrenta a lógica dessa economia perversa ou nada restará da floresta amazônica.Esse processo histórico, um conluio entre o poder público e o privado, madeireiros e proprietários rurais, posseiros e assentados de reforma agrária, exige duas formas de controle: primeira, a fiscalização do transporte, vistoriando os caminhões nas rodovias que partem da Região Norte. As cargas são volumosas, notórias. A polícia, armada nas barreiras, não pega ladroagem se não quiser.
Segunda, urge reduzir o uso da madeira de lei na construção civil, substituindo-a por floresta plantada (pinus e eucalipto) na confecção de telhados e que tais. São Paulo consome 15% do rico lenho extraído da Amazônia. Nos tempos de aquecimento global, esse costume, quase uma adoração, pelo uso da madeira de lei, inclusive na movelaria, precisa ser repensado. Gosto antigo, oligárquico.Calma. Para liquidar o assunto falta ainda burilar num dogma: a legislação agrária do País continua confundindo floresta com terra improdutiva. Resultado: para escapar da reforma agrária, ao adquirir uma mata virgem, o proprietário manda derrubar, rápido, tudo o que puder. Vem sendo assim desde os anos 60, com o Estatuto da Terra.
Ora, os tempos mudaram. Terra de onça não pode ser sinônimo de latifúndio. É verdade que, averbando a Reserva Legal à margem da escritura, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fica impedido de considerá-la improdutiva. Nesse caso, a área preservada fica exposta, sem perdão, aos invasores de terra. Triste sina.
A corrente da devastação somente se inverterá quando um pedaço de floresta, mantido em pé, valer mais que tombado. A equação é complexa, dispensa raciocínio fácil. Um dia a sociedade vai premiar, e não castigar, a conservação ambiental.