Prof. Dr. João Coelho Filho
Chefe do DEMATI - UEMA
Coordenador de Gestão - PIBID/UEMA
Professor DEMATI/UEMA, PROFMAT/UFMA e PECS/UEMA
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É razoável
conceber que a Universidade - academia do saber, laboratório de criação,
celeiro de pensadores – em sua prática cotidiana, deve exercitar diuturnamente
a transparência e expressar clareza nas ações, na medida em que as pessoas que
transitam no meio acadêmico são formadoras de opinião e tem clara percepção da
realidade. A essência da Universidade contempla a diversidade e debate de
ideias e pressupõe o contraditório, como condições fundamentais para seu
crescimento e funcionamento saudável e plural.
Na prática,
isso não vem acontecendo na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) nos
últimos 20 anos, e essa situação tem se tornado insustentável sob o ponto de
vista ético e democrático. Parece-nos inadiável expor à Comunidade Acadêmica da
UEMA e à Sociedade Maranhense, que é sua mantenedora, a situação atual do
processo de escolha dos “dirigentes superiores” (Reitor e Vice), primeiramente
denunciando que a antecipação muito precoce das eleições para Reitor e
Vice-Reitor da UEMA, em 2014, é um ato antidemocrático e eivado de flagrante casuísmo.
O Estatuto da
UEMA e o Regimento da Reitoria, tratam a questão das eleições somente de forma
superficial. O próprio processo eleitoral no esquema de lista tríplice, aliado
ao peso desigual dos votantes, nos parece macular a plena liberdade de
expressão e de participação dos eleitores, no caso estudantes de graduação e
pós-graduação, técnico-administrativos e docentes, ao contrário do que acontece
com as eleições na sociedade para escolha de prefeitos e governadores, por
exemplo.
Durante 10
anos de mandato do atual Reitor e oito anos do Vice-Reitor, a legislação (Estatuto
e Regimento) da UEMA não fora revisada, reformada e atualizada, embora solenemente
prometida. A necessária convocação da Estatuinte reivindicada pela comunidade universitária
não foi levada a efeito. Para ilustrar, no último pleito realizado em 2010 para
escolha do Reitor, a falta de clareza das Normas levou o CONSUN – Conselho
Universitário da UEMA, a aprovar um parecer que autorizou o atual Reitor a
participar de um inimaginável terceiro mandato eletivo, fato que foi amplamente
questionado na justiça e divulgado nas mídias, fragilizando o processo de
escolha dos dirigentes da Instituição.
Em relação ao
processo eleitoral da UEMA, ao CONSUN compete convocar a comunidade
universitária para as eleições até 60 dias antes do término do mandato do
Reitor e homologar a lista tríplice de candidatos a Reitor e Vice, conforme
consta no Estatuto da UEMA. Por sua vez, a referida convocação pelo CONSUN deve
ser realizada com antecedência de 45 dias da data marcada para a realização das
eleições, conforme estipula o Regimento da Reitoria. Destaca-se que ainda hoje
o CONSUN e os demais Conselhos Superiores – CEPE (ensino, pesquisa e extensão)
e CAD (administração) - funcionam e decidem sem representação estudantil –
maior segmento e razão de ser da Instituição.
Importante
salientar que o mandato do Reitor e Vice é de quatro anos e a eleição destes é
coincidente com a eleição do Governador, a cada quatro anos. Considerando que é
o Governador do Estado (o Estatuto e o Regimento não deixam claro se o atual ou
futuro) que faz a nomeação de um dos três candidatos mais votados da lista a
Reitor e Vice, permite ao mandatário de plantão da UEMA (Reitor) interessado em
manter seu grupo no “poder”, a convocar, em reunião do CONSUN, as eleições de
forma tão precoce. Isso implica restar um tempo muito curto para que os demais
candidatos possam realizar campanha e divulgar suas idéias e propostas, no
universo de uma UEMA grande e dispersa territorialmente em 22 campi. Entendemos
que o pleito deveria ser realizado, pelo menos, 90 dias após convocação do
CONSUN e no limite dos 60 dias antes do término do mandato do reitorado atual.
Nesse caso, as condições seriam relativamente mais equilibradas entre os
candidatos, especialmente, o tempo para campanha e debates, enquanto a nomeação
do futuro Reitor e Vice seria prerrogativa do próximo governador também eleito,
e com o qual o Reitor terá que dialogar pelas causas e desafios da Instituição.
Em relação ao patente desequilíbrio, é oportuno destacar que o candidato do
grupo mandatário é o atual Vice-Reitor, que está em “campanha” há 8 anos,
exercendo forte influência nos diferentes segmentos da instituição por força do
cargo, das promessas e do “poder da caneta”. Pairam nebulosas também as reais
listas dos votantes na UEMA, sempre questionadas pelos outros candidatos, além
das várias centenas de cargos comissionados com “direito a voto”. A própria
Pauta do CONSUN do dia 03/07/2014, coloca o assunto “convocação das eleições”
no item “O que ocorrer”, dando a impressão de que o assunto não teria
importância para mais ninguém. Em 2010, as eleições foram convocadas para o dia
24 de novembro e este ano para o dia 25 de agosto de 2014, de forma
injustificável. A perplexidade se acentua em razão de que, com essa prematura
convocação da eleição, metade do tempo disponível para campanha (52 dias)
ocorrer no recesso de aulas dos alunos, docentes e técnicos, tirando o direito
destes de terem acesso às propostas e ideais dos demais candidatos e dificultar
que os demais candidatos façam campanha ampla em todos os campi. Não há dúvidas de que as eleições para Reitor
na UEMA requerem a presença de observadores externos.
Nos últimos 20 anos, tem havido alternância de gestores na UEMA, mas não na prática da política universitária, que aponte para novo modus operandi e crescimento científico e social sustentado. A UEMA vive uma crise de gestão e de temeridade na definição de um caminho seguro de desenvolvimento. Conforme atesta Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP, “a liderança de um dirigente universitário se mede pela capacidade na agregação de competências e formulação de um projeto para a academia”. Não um projeto político, mas um projeto de desenvolvimento institucional. No período considerado acima, os gestores da UEMA têm conduzido a Instituição na mesma cartilha voltada para expansão territorial (abertura de campi deficitários ao sabor dos interesses políticos), do uso político (palanque para pretensos candidatos a deputado), do clientelismo, da centralização administrativa, da falta de autonomia financeira, do grande fosso salarial entre docentes e técnico-administrativos, da não aprovação de um plano de carreiras e salários específico para os técnico-administrativos, engessamento da carreira docente, carência de projetos estruturantes, inversão de prioridades nas questões de ensino, tímida evolução da pós-graduação stricto sensu, falta de política de assistência aos discentes e da falta de transparência na aplicação de recursos do orçamento e de convênios. É bom lembrar que a UEMA custa ao contribuinte maranhense cerca de R$ 250 milhões por ano, somente do orçamento do Estado.
Como resultado, a UEMA tem amargado as piores
posições nos rankings de classificação de desempenho acadêmico no Brasil e na
América Latina. Em 2013, a UEMA ficou na sétima pior posição no ranking da
Folha no universo das IES nacionais e foi classificada como a quinta pior no ranking da QS University (Quacquarelli Symonds/Reino Unido) de uma lista de 300
instituições avaliadas da América Latina.
Diante desse
cenário, que nos perturba e ao mesmo tempo nos desafia, parece-nos fundamental
uma reflexão crítica daqueles que fazem e vivem a Universidade e, ao mesmo
tempo, um olhar mais aguçado da sociedade e das instituições organizadas do
Estado, preocupados com o futuro desse patrimônio que pertence a todos os
maranhenses.
Dr. José Ribamar Gusmão Araujo – Prof.
Depto. Fitotecnia e Fitossanidade – CCA/UEMA
Dr. João Coelho Silva Filho - Prof.
Depto. Matemática e Informática – CECEN/UEMA
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