13 de mai. de 2014

A tripolaridade das eleições presidenciais, por Aldo Fornazieri

A última pesquisa Dataflha (9/05/14), colocou as tendências eleitorais nos seus devidos termos e os que julgavam que Dilma poderia vencer no primeiro turno terão que rever suas posições. Ou seja: mantido o atual quadro de candidaturas, dificilmente não haverá segundo turno. Se a pesquisa for levada a sério, o PT e a presidente poderão rever sua estratégia e assentá-la sobre bases realistas para enfrentar seus adversários e buscar meios e caminhos para sair da defensiva política – condição necessária para evitar riscos maiores na busca da reeleição.
Se os petistas e governistas tiverem a competência para definir uma estratégia ofensiva e se navegarem com firmeza e sem precipitações nos mares revoltos da copa do mundo, Dilma, em que pese os erros na condução econômica e os problemas na Petrobrás, poderá adentrar o mês de agosto navegando nas águas calmas do favoritismo. A principal coisa que petistas e governistas terão que fazer é reduzir a ansiedade do eleitorado por mudanças e mostrar que os ajustes necessários que o Brasil terá pela frente serão feitos com maior segurança se a atual coalizão governamental e se a presidente Dilma permanecerem no comando. Quanto mais insegurança o eleitorado sentir em relação à economia e ao futuro, mais propenderá aos candidatos oposicionistas. Além de gerar segurança em relação a si, Dilma terá que gerar insegurança e desconfiança em relação a Aécio e a Campos.
Quem é Inimigo de Quem
Até agora, Eduardo Campos vinha se conduzindo como linha auxiliar de Aécio Neves. São jantares em restaurantes de luxo, declarações de convergências programáticas, tapinhas nas costas, camaradagens e juras de que estarão juntos no futuro governo. Parece que agora percebeu que será necessário diferenciar-se. O problema é que não basta apenas a diferenciação. Se os campistas forem bons analistas políticos e observarem a conjuntura presente (2014) e o futuro (2018), perceberão que o candidato tucano deve ser encarado como principal inimigo. Analise-se os interesses que estão em jogo em 2014. Tanto as tendências eleitorais, quanto a lógica, indicam que dificilmente Dilma não estará no segundo turno. Mesmo com o forte anseio por mudanças, o fato é que Dilma terá uma coalizão forte, terá o maior tempo de TV, poderá mostrar que as conquistas econômicas, salariais e sociais dos governos petistas continuam de pé, que o emprego e a renda estão em patamares altos etc. Claro que tudo isto dependerá da competência dela e daqueles que irão conduzir sua campanha.
Assim, se o primeiro objetivo de Campos consiste em passar para o segundo turno, terá que travar uma batalha contra Aécio, mostrando ao eleitor por que ele deve ser o escolhido e não o candidato tucano. Isto implica em desfazer camaradagens, desfazer palanques conjuntos e partir para a briga. E no caso de Campos não passar para o segundo turno, mesmo assim atingirá um objetivo secundário, que é o de semear a sua candidatura para 2018. Neste caso, deverá preferir uma vitória de Dilma e não de Aécio. Mesmo vencendo, Dilma não estará mais no páreo em 2018. O  cenário da disputa presidencial, assim, estaria mais aberto sem candidato à reeleição. No caso de uma vitória de Aécio, o cenário estaria mais fechado, sendo que este buscaria a reeleição. Sabe-se que os candidatos que buscam a reeleição têm mais chance de vencer do que os outros.
Dentre os três principais candidatos, Aécio Neves parece ser o jogador mais solitário. Com Dilma não tem jogo: é inimiga e ponto. Mas poderá sofrer a ameaça de Campos. Poderá ter que atacá-lo, mas não a ponto de inviabilizar um eventual apoio no segundo turno. Até agora, Aécio vem se saindo bem em tornar o candidato do PSB em linha auxiliar. Mas como as pesquisas mostram que Campos é o candidato que tem o maior potencial de crescimento e levando em conta o suposto de que Dilma estará no segundo turno, o ex-governador de Pernambuco surge como uma ameaça real.
Dilma, por sua vez, deve preferir Aécio como adversário no segundo turno. Dado o alto percentual de eleitores que querem mudança, Campos poderá encarnar melhor este desejo do que o candidato tucano. Seria um candidato mais perigoso num segundo turno. E dada a lógica de Campos de que deve preferir Dilma à Aécio ela terá mais chance de trazê-lo de volta à antiga aliança no segundo turno.
A Singularidade das Eleições de 2014
O fato é que as eleições presidenciais de 2014 serão marcadas por uma singularidade em relação a todas as outras eleições do período da redemocratização. As eleições de 1989 foram presididas por uma lógica multipolar: Collor, Lula, Brizola, Covas, Ulisses Guimarães, Maluf, Afif Domingos, Aureliano Chaves, Roberto Freire, entre outros, todos lançaram-se à disputa num cenário aberto e numa conjuntura marcada pelo anseio de mudanças. Não é por acaso que os dois candidatos que mais expressavam ideias de mudança – Collor e Lula – disputaram o segundo turno.
De 1994 a 2010, as eleições foram presididas por uma lógica bipolar, sendo os candidatos do PSDB e do  PT os protagonistas dessa polarização. Em 1994, em que pese as candidaturas de Enéias, Quércia, Brizola e outros, a bipolaridade se definiu mesmo antes do início da campanha. No mês de junho daquele ano, as pesquisas apontavam um empate técnico entre Lula e FHC em torno dos 30% das intenções de voto. Em 1998, 2002, 2006 e 2010, a bipolaridade foi mais nítida ainda.
Em 2014, as tendências de momento indicam que poderemos ter eleições presididas por uma tripolaridade, mesmo que se considere Dilma primus inter pares. A tripolaridade é marcada pela existência de três candidaturas competitivas, que expressam alternativas diversas de poder. A competitividade se define pelo fato de que cada uma das três postulações tem alguma chance de vencer. Em sendo o segundo turno uma variável altamente provável, os três candidatos desenvolverão esforços, ainda no primeiro turno, para tornar a disputa bipolar. Levando em conta o que está em jogo, os interesses e as preferências de cada uma das candidaturas, as estratégias tenderão a ser complexas e poderão implicar em mudanças no meio do caminho.
Dilma terá que evitar a bancarrota de um projeto que se proclamava transformador, buscando ganhar tempo com um novo mandato para redefini-lo. A Aécio não bastará restaurar os parâmetros de um projeto que teve força na década de 1990 com a edição do Plano Real. Terá que lutar para evitar a irrelevância do PSDB, não permitindo que o partido se torne nanico. Campos é o que menos tem a perder. Está buscando um lugar ao sol para si e para o seu partido como jogadores relevantes no futuro próximo do Brasil. Se vencer será a glória. Se perder, terá plantando as sementes para 2018.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política. foi dirigente do PRC-Partido Revolucionário comunista e fundador da nova Esquerda do PT.
Enviado por Eri Santos Castro.
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