“Nenhuma decisão desse grupo valerá para as eleições de 2014. Todas as decisões que aqui tomarmos vão valer para 2018. Se valerá em 2016 nós ainda vamos discutir. Ao discutir um ou dois temas poderemos fazer uma experiência nas eleições municipais e ver se continua (na eleição presidencial)". Essa foi a primeira declaração do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), na Comissão de Reforma Política instalada na Câmara dos Deputados.
Vacarezza tornou-se presidente da Comissão por indicação de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Presidente da Câmara, contrariando a indicação de Henrique Fontana, decidida bancada do PT. Fontana, deputado com larga tradição e legitimidade no tema da reforma política, se retirou da comissão em agravo a decisão de Vacarezza de aceitar – e obviamente articular – a indicação PMDBista. O PT o substituiu por Ricardo Berzoini.
Minha opinião é de há no PT uma - talvez a única - opinião consensual em torno do seu papel desde que ganhamos o governo em 2003: deveríamos, sobretudo a partir da presença nos movimentos organizados, disputar os rumos do governo. Essa assertiva pode ter sido pura demagogia de alguns e também pode ter variado na sua intensidade. Mas ela esteve na totalidade das formulações partidárias dos últimos dez anos.
E desde lá, nós, petistas, repetimos isso incansavelmente. Mas a verdade é que pouco conseguimos fazer isso. Houve vitórias importantes via pressão externa, por exemplo, a política de salário mínimo, a pressão pelo investimento de 10% do PIB em educação ou pela mudança da política econômica. No entanto, o poder de controlar a agenda política sempre esteve com o governo.
As “manifestações de junho" podem ser compreendidas como a representação pública da nossa incapacidade em criar condições políticas capazes de pressionar o governo para agendas antiliberais. Dez anos depois, a multidão tomou as ruas por fora do PT – assim como dos outros partidos de esquerda, sejam da situação ou da oposição - e dos movimentos sociais organizados.
A primeira resposta do PT foi a equivocada declaração do presidente Rui Falcão de que faríamos uma onda vermelha nas cidades. A segunda resposta, já depois da agenda ter sido coloca pelo governo, tratou-se de uma nota confusa do Diretório Nacional com pouco impacto na militância petista e na dinâmica em curso no país. Ambas expressaram total incompreensão do que acontecia nas ruas.
A resposta mais acertada veio do governo. E veio pela esquerda. Foram 5 pactos. Quatro marteladas na esquerda, com ampliação de serviços públicos e reforma política, e uma sinalização a estabilidade conservadora com o pacto pela responsabilidade fiscal.
Os esperançosos, como eu, esperaram que poderia ser o momento do PT se agregar ao caldo da multidão e cumprir o seu papel - a priori consensual - e pressionar pelas agendas progressistas. Como escreveu Juarez Guimarães, era o momento de disputar a revolução democrática nas ruas.
Se não fizesse isso pelas ruas, esperava que o fizesse, pelo menos, na arena que se especializou e que sua maioria política preferiu lutar nos últimos anos: a institucionalidade.
A indicação do deputado Vacarezza, e sua previsível declaração, é um sinal – inicial - de nossa derrota política diante do acirramento da luta política no País. Seu extenso rol de atrocidades, que vão de mensagens amorosas ao governador Sergio Cabral, até relações espúrias com setores do empresariado brasileiro - vide sua atuação na pauta dos transgênicos e seu largo financiamento privado de campanha - servem como indício do que estava e está por vir. O significado de sua indicação é de que nem na arena institucional a principal pauta apresentada pelo governo como resposta às manifestações será disputada.
É fundamental frisar que Vacarezza não é fruto de uma ação isolada, ou um “ponto fora da curva” da maioria petista. É produto e produtor de uma maioria partidária que se norteia exclusivamente por sua reprodução política na institucionalidade do Estado.
Faz parte dos mesmos setores que recortaram as deliberações em defesa de um Partido de massas aprovadas no 4o Congresso do PT, em prol da manutenção de um jogo interno cada vez mais controlado pela presença do capital.
Assim não o fosse, o presidente do PT, Rui Falcão, ou a liderança do Partido na Câmara, José Guimarães, teriam cobrado de forma séria a indicação de Vacarezza e, não somente, lamentado a “desistência” de Henrique Fontana. Eles não “lamentaram” quando o PT do Maranhão decidiu não apoiar Sarney, ou quando deputados petistas decidiram não votar a reforma da previdência. Agiram lá, e se calam agora. Se assim não o fosse, já teria sido aberta uma comissão de ética ao deputado por desrespeitar as deliberações de sua bancada.
A embriaguez pelo poder desses setores os faz acreditar que sua tarefa é derrotar a multidão e as agendas progressistas que tomaram as ruas em prol da manutenção de sua base de apoio no congresso. Afinal, as ruas ameaçam sua permanência no Estado.
A contradição é tamanha que se utilizam da presença da direita nas ruas para justificar a necessidade de derrotá-las. Ao fim e ao cabo, tentam uniformizar à direita uma multidão claramente heterogênea e, a princípio, movida por uma profusão de sentimentos de mudança que podem ser canalizados – como tentou Dilma - em demandas antiliberais em defesa do público.
Rompe-se o aparente consenso em torno do papel do Partido na disputa da sociedade. O projeto expresso na indicação de Vacarezza é deveras preocupante. Seu objetivo é descolar o PT de propulsor, para reator das mudanças. Para além de não disputar as ruas, querem colocar o PT contra elas.
Ainda acredito que esse caldo de luta política pode impactar o PT. Em 2005, por exemplo, a crise política que nos abateu, resultou na criação da Mensagem ao Partido. Não tivessem alguns decidido, precocemente, abandonar o barco, Raul Pont poderia ter sido eleito Presidente Nacional do PT. A batalha ainda vale a pena, mas a vida está, a cada dia, mais dura no seu interior.
*Tiago Ventura foi vice-presidente da UNE(2009-2011) e é mestrando em Ciência Política no IESP-UERJ.
Por Tiago Ventura *
“Nenhuma decisão desse grupo valerá para as eleições de 2014. Todas as decisões que aqui tomarmos vão valer para 2018. Se valerá em 2016 nós ainda vamos discutir. Ao discutir um ou dois temas poderemos fazer uma experiência nas eleições municipais e ver se continua (na eleição presidencial)". Essa foi a primeira declaração do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), na Comissão de Reforma Política instalada na Câmara dos Deputados.
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Enviado por Eri Santos Castro.
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