27 de mar. de 2013

Crítica e Utopia: um livro de Nelson Levy, por Cristovam Buarque


Se não fosse por qualquer outra razão, este pequeno, profundo e instigante livro teria cumprido seu papel ao dedicar espaço para mostrar a diferença entre a “eu-topos”, a região da felicidade e da perfeição e o “ou-topos”, a região nenhum lugar; e o debate entre os impossibilitas que veem a utopia como definição do mundo impossível, e os “possibilistas” que a veem como o sonho a ser realizado.
Segundo ele, More teria chamado utopia a seu mundo ideal, não para dizê-lo como um mundo em lugar algum, mas um mundo possível de ser atingido em algum lugar. A diferença entre possibilistas e impossibilistas é também a diferença entre os que veem a utopia localizada em algum lugar ou em algum futuro.

Na Renascença que acabava de descobrir a América, é possível que Morus visse a utopia como fenômeno geográfico, mas logo depois ela passou a ser vista como um fenômeno histórico para o futuro. A partir da revolução industrial, a arrogância humana passou a ver utopia como a evolução temporal e, ainda mais, como um tempo natural, que os homens estariam “condenados” a atingir. Alguns até marcavam a data: o ano 2000.

A realidade mostrou que estamos adiando a realização do paraíso e passamos a dividir o mundo entre os portadores de utopias erradas, os socialistas, e os demais, todos incrédulos de utopias; ou ainda pior, aqueles que pensando que a tragédia humana já é o coroamento da utopia, o fim da história.


Em 188 páginas, o livro de Nelson Levy nos dá uma visão completa e escrita de forma muito agradável deste debate, aprofundando as diversas visões de autores importantes sobre a utopia. É um livro necessário no mundo de hoje, onde os impossibilistas, os incrédulos e os arrogantes, uns poucos que ainda acreditam na possibilidade de um mundo melhor e lutam por isso.

Cristovam Buarque, senador pelo PDT do Distrito Federal e ex-reitor da Universidade de Brasília, resenhará aqui um livro publicado no exterior ou um filme.
Enviado por Eri Santos Castro.
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