Há uma perplexidade na civilização. É uma grande pergunta coletiva:
afinal, o que está acontecendo? Depois de milênios de acúmulo de
riquezas e experiências, a humanidade parece ter chegado ao máximo, ou
seja, ao limite.
Zygmunt Bauman sintetizou o paradoxo ao observar que acreditamos com a mesma força em duas ideias contraditórias: que temos toda a liberdade possível, mas, ao mesmo tempo, somos impotentes para fazer mudar as estruturas do mundo.
De fato, parece incrível que em poucas horas se possa juntar 1 milhão de assinaturas em favor de uma causa e, ainda mais incrível, que não haja qualquer efeito. Surpreende a facilidade com que índios e outras comunidades surgem na mídia, pintados em protesto, apoiados por uma opinião pública solidária e comovida, e a facilidade maior ainda com que os tratores passam sobre suas terras, rios e florestas.
O paradoxo da civilização nos leva à ausência de sentido.
A crise econômica só perde em abrangência e gravidade para a crise ambiental: todos (ricos e pobres) são ameaçados pelas secas, enchentes e furacões. Nada mais revelador que as fotos de pessoas usando máscaras contra a fumaça numa das cidades mais prósperas e poderosas da China.
Nada, porém, se compara à estagnação do sistema político, uma repetição neurótica da mesmice, um misto de propaganda enganosa e escândalos de corrupção (que já não escandalizam). O poder pelo poder domina tudo, o dinheiro pelo dinheiro avassala a todos. Esse é o centro da realidade, e tudo o mais é borda, periferia.
Mas é justamente aí que o paradoxo se dissolve, sem se resolver. Em todo o mundo, milhões de pessoas se afastam do centro estagnado e criam novas superfícies para nelas inscrever e dar suporte aos novos ideais identificatórios que possibilitam novos processos e novas estruturas nesse tempo de emergência (nos dois sentidos da palavra).
Nos movimentos de novo tipo no Egito, na Espanha, no Chile e no Canadá, nas percepções virais da internet, nas mobilizações sem líderes nem organizadores, nas mudanças que surpreendem o mundo, a mesma característica: as bordas descolam-se do que era antes o centro da realidade, abandonam a estagnação, movem-se para criar um mundo multicêntrico e diverso.
Não é uma ruptura, mas uma mutação que preserva conquistas anteriores. A linguagem usual é insuficiente para explicar, pois a mutação ocorreu também nos processos cognitivos. A boa notícia é que os novos movimentos, em que cada um é autor e protagonista de sua fala e ação, já começam a reunir um número de pessoas dispostas a mudar o mundo. Não é rápido nem indolor, mas já está acontecendo e esse é o momento em que a perplexidade pode dar lugar a uma nova esperança.
Zygmunt Bauman sintetizou o paradoxo ao observar que acreditamos com a mesma força em duas ideias contraditórias: que temos toda a liberdade possível, mas, ao mesmo tempo, somos impotentes para fazer mudar as estruturas do mundo.
De fato, parece incrível que em poucas horas se possa juntar 1 milhão de assinaturas em favor de uma causa e, ainda mais incrível, que não haja qualquer efeito. Surpreende a facilidade com que índios e outras comunidades surgem na mídia, pintados em protesto, apoiados por uma opinião pública solidária e comovida, e a facilidade maior ainda com que os tratores passam sobre suas terras, rios e florestas.
O paradoxo da civilização nos leva à ausência de sentido.
A crise econômica só perde em abrangência e gravidade para a crise ambiental: todos (ricos e pobres) são ameaçados pelas secas, enchentes e furacões. Nada mais revelador que as fotos de pessoas usando máscaras contra a fumaça numa das cidades mais prósperas e poderosas da China.
Nada, porém, se compara à estagnação do sistema político, uma repetição neurótica da mesmice, um misto de propaganda enganosa e escândalos de corrupção (que já não escandalizam). O poder pelo poder domina tudo, o dinheiro pelo dinheiro avassala a todos. Esse é o centro da realidade, e tudo o mais é borda, periferia.
Mas é justamente aí que o paradoxo se dissolve, sem se resolver. Em todo o mundo, milhões de pessoas se afastam do centro estagnado e criam novas superfícies para nelas inscrever e dar suporte aos novos ideais identificatórios que possibilitam novos processos e novas estruturas nesse tempo de emergência (nos dois sentidos da palavra).
Nos movimentos de novo tipo no Egito, na Espanha, no Chile e no Canadá, nas percepções virais da internet, nas mobilizações sem líderes nem organizadores, nas mudanças que surpreendem o mundo, a mesma característica: as bordas descolam-se do que era antes o centro da realidade, abandonam a estagnação, movem-se para criar um mundo multicêntrico e diverso.
Não é uma ruptura, mas uma mutação que preserva conquistas anteriores. A linguagem usual é insuficiente para explicar, pois a mutação ocorreu também nos processos cognitivos. A boa notícia é que os novos movimentos, em que cada um é autor e protagonista de sua fala e ação, já começam a reunir um número de pessoas dispostas a mudar o mundo. Não é rápido nem indolor, mas já está acontecendo e esse é o momento em que a perplexidade pode dar lugar a uma nova esperança.
Por Marina Silva.
Enviado por Eri Santos Castro.
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