Os efeitos de uma semana sem comer, dormindo ao relento, no desconforto de uma algema e o chão que lhe resta para algumas parcas horas de sono, no sobressalto da Rua Von Martius, em frente à sede nacional da TV Globo, surgem apenas no texto do cineasta Pedro Rios Leão, com a greve de fome chegando ao oitavo dia. O moral do rapaz de vinte e poucos anos, que assistiu ao massacre ocorrido em Pinheirinho, na progressista cidade paulista de São José dos Campos, promovido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo e a Guarda Municipal, este não dá sinais de cansaço. A luta pela intervenção federal naquela área, após dias de terror, em que mulheres e crianças foram desalojadas de suas casas e atirados em abrigos improvisados, à força de balas de borracha e munição real, continua até quando Pedro não puder mais.
Em seu telefone celular e com acesso às redes sociais, Pedro segue adiante com o apoio daqueles que valorizam o seu ato de protesto:
“São vocês que me mantêm de pé e me fazem achar que vale a pena me meter nessa m. toda. Ontem acordei mal, menos pela fome, mais pelo fato de querer minha vida de volta. Chorei querendo acordar na minha cama, beber com os amigos, conversar com os amores e sair do massacre que eu estou vivendo desde o dia 23. Ontem, a luta me mostrou que vale a pena, no meu momento de maior desanimo até aqui. Mas eu sonho em voltar para a minha vida, longe, muito longe do centro nervoso desse massacre”, escreveu Pedro Rios em sua página no Facebook.
Ele relata, ainda, que os efeitos físicos da privação absoluta de alimentos começam a dar sinais:
“Não comer é muito mais fácil do que comer pouco. Não sinto mais fome, só saudade da comida. Ainda estou de pé, e muito motivado, mas alguns incômodos (minha garganta, cansaço, e tontura ao levantar) começam a ficar mais fortes”.
Pedro Rios também lembra o que o levou a iniciar o protesto que já mobiliza milhares de brasileiros. Atos em apoio aos moradores de Pinheirinho e de solidariedade ao sacrifício dele pontuam eventos realizados em várias cidades brasileiras. Bicicletaço no Rio, manifestações em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. O apoio que conquista à cada dia, no entanto, não diminuem o seu desejo de retomar o ritmo normal de vida, mas sabe que a manifestação é necessária no cumprimento do objetivo maior, que é a denúncia à violência cometida contra os pobres e a conivência da mídia conservadora.
“Eu queria estar em casa, mas estou preso em uma luta quase involuntária e desesperadora. Antes de sair para São José dos Campos de Concentração, eu cheguei a aparar a barba para ajudar a conversar com a polícia. A realidade caiu em mim como um raio, e eu realmente não planejei o que fazer, apesar de analisar cotidianamente a m. de ter caído no centro de uma tragédia e a minha responsabilidade perante isso. Eu posso ser um idiota, isso sinceramente não me importa, mas não vou carregar um massacre nas costas”, protesta.
Em seu manifesto, Pedro pede que todos se mobilizem contra os verdadeiros alvos da revolta quanto à violência cometida contra os moradores de Pinheirinho:
“Vamos me esquecer e falar de : Geraldo Alckmin, Eduardo Cury, Naji Nahas, Márcia Loureiro, César Peluso, Daniel Dantas, e como fica evidente que certos aparelhos midiáticos fazem a gente de otário por mais de 40 anos. Como a ausência absoluta de qualquer postura decente, de qualquer orgão institucional, deixa claro que não há lei no Brasil”.
Em apoio a Pedro Rios, artistas realizaram uma série de eventos no local onde ele se encontra em greve de fome.
Saiu no Correio do Brasil.
Enviado por Eri Santos Castro.
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