23 de nov. de 2010

Essa é a década do Brasil, enquanto o Maranhão passa longe

Essa é a década do Brasil. Nos próximos seis anos, vamos receber eventos de grande magnitude, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, e isso faz com que uma palavra tome conta de nosso vocabulário cotidiano: legado.
A avaliação sobre o efetivo legado não será feita de forma binária: criamos ou não criamos legado. É consenso que, no cenário que se desenha para o nosso país nos próximos anos, tais eventos vão estimular investimentos que já se fazem necessários há décadas, em setores como infraestrutura, segurança e transporte, refletindo na geração de empregos. É inegável que os holofotes vão se voltar ainda mais para o Brasil. A questão é como podemos extrair o máximo do potencial legado que existe nessa oportunidade.
Sem dúvida, esse é um momento propício para acelerar o desenvolvimento social e econômico de um país. Temos como base o que ocorreu historicamente em outros países-sede. Existem exemplos a serem seguidos e adequados à nossa cultura e realidade (caso da China, em 2008), mas também existem outros tantos exemplos de insucessos (caso da Grécia em 2004).
Especificamente sobre a Copa do Mundo em 2014, é essencial compreender desde já que no Brasil há certas peculiaridades, como o fato de sermos um país de extensão continental, a concentração de renda nas regiões Sul e Sudeste, a falta de mão de obra especializada e a ausência de experiência na organização de grandes eventos. Não podemos adotar soluções do tipo “tamanho único” achando que o que funciona em Porto Alegre funcionará em São Paulo ou em Manaus. A compreensão e o respeito à cultura local são a base de todo esse trabalho.
Capacidade técnica. Para isso, as 12 cidades-sede devem seguir um caderno de encargos da FIFA, que foi assinado no momento da concorrência realizada em 2009, com foco em questões como transporte público, aeroportos, rede hoteleira, segurança pública e desenvolvimento de serviços. A questão é a capacidade técnica que os 12 comitês de cada cidade-sede terão para atender ao padrão exigido pela FIFA ou pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), no caso do Rio de Janeiro.
Se esses comitês forem formados por profissionais com capacidade de planejar e executar tais exigências, excelente. Mas, se forem formados prioritariamente por meio de nomeações políticas, será necessário o suporte de consultores e profissionais especializados, que poderão auxiliar na otimização dos recursos públicos. Afinal de contas, com raríssimas exceções, qual destes 12 comitês locais já organizou uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada?
Assim, cumprir o caderno de encargos exigido pela FIFA ou pelo COI e realizar um belo evento são, sem dúvida, a base de um grande legado. Basta olharmos para os resultados obtidos pela cidade de Pequim após a realização da maior e melhor Olimpíada da História. O uso intenso das instalações esportivas é a prova de que é possível alavancar social e economicamente um país a partir de grandes eventos, considerando o turismo. E é aqui que mora outro grande legado potencial. A questão não é somente o intenso fluxo turístico gerado durante a Copa do Mundo ou a Olimpíada, mas o posicionamento que conseguiremos dar às nossas cidades depois de cada um dos jogos para que elas continuem atraindo visitantes do mundo todo de forma sustentável.
Nesse sentido, se entendermos cada cidade-sede como um produto turístico que tem sua própria marca, seu próprio posicionamento e suas características únicas, devemos estabelecer qual o plano de ação, que tipos de eventos devem ser prospectados pós-Copa, quais as vocações naturais e culturais que devem ser evidenciadas, enfim, precisamos criar um “master plan” para que utilizemos a alavanca e a visibilidade brutal de uma Copa do Mundo em prol da nossa estratégia. Será um grande equívoco achar que sediar uma Copa do Mundo já será suficiente.
Efeitos positivos. Um elemento a nosso favor é que a euforia que vivemos deve se estender até 2016. Mas precisamos ampliar os efeitos positivos desses eventos para que, quando terminem, nossas cidades gozem do tão famoso “legado”. Governos, prefeituras, empresas, ONGs, entidades de classe e mídia precisam compartilhar de uma visão maior para a pós-euforia. Para evitar uma “depressão pós-parto” é preciso planejar o que será feito, não apenas até a realização dos eventos, mas principalmente a partir de 2017.
Sabemos que ainda estamos atrasados em vários aspectos, mas chegou a nossa hora e não podemos errar. Faltam menos de quatro anos para a Copa do Mundo e seis anos para a Olimpíada do Rio de 2016 e precisamos acelerar esse processo com a participação de todos os atores interessados.

Por Duda magalhães- O Estadão

Enviado por Eri Santos Castro.

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