3 de jul. de 2010

A diferença na política da seleção brasileira e argentina


Tudo na vida é polis, portanto é política. A seleção brasileira sempre foi , no seu conjunto, de direita. Nossos ídolos -Pelé, Zico, Romário, Ronaldo...sempre remam a favor da manutenção do 'status quo', do estado atual das coisas. A figuração pública dessa gente é associada ao preconceito de raça, gênero... (não é à toa que eles preferem as louras), e ao patrimonialismo. 

Já a seleção argentina da era Maradona traz um conteúdo de insubmissão. Não obstante a falsa rixa entre brasileiros e argentinos, torcerei, nesta Copa, para os 'hermanos argentinos'. Veja essa matéria do Estadão, encaminhada por Márcio Jardim.


Treinador se inspira em Eduardo Galeano, Che & cia.

"Em campo, talento e entrosamento no ataque. Fora, um ideário de combate contra a submissão. Diego Maradona trouxe para dentro da concentração da Argentina livros de autores como o uruguaio Eduardo Galeano para inspirar seus jogadores e, em várias ocasiões, usa frases e exemplos da vida de Ernesto Che Guevara para criar um espírito de luta no grupo.

Antes de fazer as malas, Maradona pediu que a comissão técnica preparasse uma pequena biblioteca para a Copa e distribuiu livros aos jogadores na concentração. Nela, incluiu obras de Galeano sobre Che, livros do espanhol Fernando Savater e do também uruguaio Pablo Vierci, além da biografia do compositor Atahualpa Yupanqui.

O uruguaio Galeano, que tem entre suas obras um livro sobre futebol e denunciou a exploração na América Latina, elogiou os jogadores argentinos. "O melhor livro de futebol é o que os jogadores escrevem com os pés", declarou Galeano ao Estado, de Montevidéu, por e-mail.

Ele diz que não nasceu com o pé certo para a bola. "Não tive mais remédio que escrever o futebol com a mão", disse. "Não sei se meu consolo íntimo poderá servir de algo para os jogadores de verdade. Só peço que leiam como uma homenagem aos que jogando sentem alegria e a oferecem." Para ele, Messi é o melhor do mundo. "Ele joga como um molequinho."

Antes de deixar a Argentina em direção à África do Sul, o polêmico técnico já havia declarado que a seleção iria para a Copa com "Maradona, Messi e Che Guevara, que também é argentino". Na concentração, escolheu uma série de frases do revolucionário para motivar o grupo.

Ontem, no estádio Soccer City, bandeiras traziam as imagens juntas de Maradona e Che Guevara. Por mais
que a Fifa tente deixar a política de fora do futebol, no mundo de Maradona isso é praticamente impossível.

Nesta semana, o técnico e Messi fizeram uma pausa nos treinos para receber as avós da Plaza de Mayo, grupo que por anos protestou contra a ditadura argentina.

Enviado por Eri Santos Castro.

2 comentários:

Prof. Marcos Paulo disse...

É lamentável que eles não foram a frente.
Mas, parabenizo Dom Diego pois sua seleção lutou até o fim, demonstrou raça, foi mais aguerrido.
Marcos Paulo

Unknown disse...

Companheiro Eri, peço que divulgue esse nosso pequeno artigo.Abraço.

Artigo: Por que odiar Argentina e amar europeus na Copa?

Por Carlos Hermes

Essa Copa do Mundo nos trouxe a necessidade de algumas reflexões. A Primeira é: qual a explicação lógica e real para os brasileiros odiarem tanto o futebol da Argentina? Segunda: até que ponto o ódio ao time, não se traduz inconscientemente em ódio ao país e aos cidadãos hermanos? E terceiro: a quem interessa usar o futebol para colocar em confronto duas das nações de economia emergentes na América latina?

Em busca de respostas às minhas inquietações tentei lançar um olhar antropológico sobre o comportamento do torcedor brasileiro, tendo como campo de observação o jogo das quartas de finais entre Argentinos e Alemães. Para tanto, agi como um etnógrafo que busca interpretar os traços culturais e as atitudes comportamentais de novas tribos se infiltrando entre seus membros, assim, escolhi o ambiente ideal: o Armazém Paraíba de Imperatriz lotado de consumidores torcedores que se dividiam entre as pechinchas e o jogo que passava em uma das enormes TVs à espera de compradores.

Incrível como a cada gol dos Alemães os consumidores, latinoamericanos com pouco dinheiro no bolso, iam ao delírio em gritos vibrantes como se fossem cidadãos da Alemanha. Do meu lado uma vendedora resmungava: Bem feito Maradona, quem mandou falar mal do Brasil?! E assim, os gestos se repetiam a cada gol dos germanos.

Fiquei preocupado em ver que Nicolau Maquiavel poderia estar certo ao dizer que a massa popular é de fácil manipulação por se guiar pela emoção e não pela razão, que é levada facilmente pelas aparências das coisas e nesse caso, ficou claro o imensurável fascínio que a mídia, leia-se: Rede Globo, exerce sobre o que pensa o que sente e como age o povo brasileiro.

O torcedor não quer saber do que está implícito na exaltação europeia por parte da mídia que controla o inconsciente coletivo usando de todo seu poder monopolista para nos fazer olhar os Argentinos como vilões da trama e que os holandeses(quem não se lembra dos heróicos laranja mecânica?), os italianos, alemães e franceses são os bons mocinhos.

Ao torcedor não interessa se fomos colonizados de forma arbitrária por esses países imperialistas no século XVI e que com sua ganância colonizou também a África no século XIX, provocando um genocídio entre os negros e deixando um lastro de miséria, epidemias e guerra civil.

Você pode estar dizendo: cara, mas isso é só futebol, que exagero! Esse é o cerne da problemática, o “torcedor massa” só consegue enxergar o futebol, quando há uma forte conexão entre os bastidores do capital e a política futebolística, que têm como interesse comum consolidar a dominação ideológica do onisciente e onipresente mercado, ratificando o que Karl Marx já dizia no século XIX: “A arma do opressor é a na mente do oprimido”.

Claro que como torcedor também tenho as minhas queixas da seleção argentina quando se trata da rixa com nosso futebol, contudo, na ausência do Brasil e diante do eurocentrismo do mercado do futebol, não tenha dúvidas, prevalecerá a minha raiz latinoamericana. E agora que além de nós já saíram, Paraguai e Argentina, só nos resta dizer: dá-lhe Uruguai!!

Carlos Hermes F. Cruz é historiador, pesquisador, especialista em Metodologia do Ensino Superior, professor da rede estadual de ensino de Imperatriz e do Programa Darcy Ribeiro da Uema.