18 de abr. de 2010

Salve a louca do Rio Anil

Quem é aquela que ergue os braços e corre em disparada pelas cercanias do novo shopping? A Louca do Rio Anil é só uma menina alegre no meio da multidão, descolada da massa pelo sorriso farto, pelo gesto de explosão da vitória. E não é louca a pequena que se agarra com euforia aos letreiros de loja, às tentações da novidade do bairro, ao burburinho dos artistas de televisão.


A Louca do Rio Anil não tem nome porque o nome mal cabe no feixe de caracteres de uma legenda de coluna social. Sem cerimônia, ela estufa o peito de provinciana bem resolvida e encara a lente do fotógrafo Biaman Prado com a altivez de uma lady sofisticada. Não, a Louca do Rio Anil deixou a vergonha guardada no quarto-e-sala da Cohab e foi dar as boas-vindas às vitrines do Turu.

E como corre a louca! E vibra como quem venceria fácil a batalha de Riachuelo do shopping. Soberana diante da conquista iminente, a menina contraria a lógica sartreana-suburbana e chega ao pódio do consumo ao lado de veteranas na arte da pechincha do Olho d’Água. A Louca do Rio Anil não é fashion, mas tem atitude. Zomba do clichê com elegância de tamanha ingenuidade. Quem são os adoradores de shopping? Serão os mesmos fiéis da internet, esse totem-tabu que escraviza e sevicia?

Sim, são os mesmos protagonistas do escárnio, com seus twitteres e orkuts incandescentes. São as mesmas debutantes do Calhau que dançam valsa com o ator da Globo, que lêem Caras, que tiram fotos ao lado de celebridades. Somos meio idolatria, meio periferia!

Para a Louca do Rio Anil, São Luís é só uma colônia. Uma colônia do Boticário, talvez. E ela, uma colonizada com aroma de pau-brasil, cabelo ao vento, calça jeans desbotada e blusinha tomara-que-caia. Não leva jeito para o saque dos bárbaros. Não tem queda para o vandalismo. Quer apenas um quadrado mais próximo do holofote, o autógrafo de um ex-confinado do BBB, uma compra na prateleira das promoções.

A cidade em transe, e é apenas um novo shopping de portas abertas para o Itapiracó. O que vão dizer na metrópole? O que vão pensar de nós lá fora? Que somos todos a Louca do Rio Anil, carne e osso, corpo e alma, sem medo do vexame, querendo cortar a fita de chegada. Viva a pobreza de espírito!

Somos todos de abril como os poucos índios que ainda restam. A doce Louca do Rio Anil também tem pele amarela como a menina triste da foto do Vietnã. Uma e outra sobreviveram: à inauguração do shopping das coloridas vestes e às cinzas da bomba nua. Assim caminha a aldeia, aqui e acolá.
Por Félix Alberto (Blogue do Félix)
Enviado por Eri Santos Castro.

4 comentários:

Saulo disse...

Excelente texto, parabéns. Soube retratar bem o exagero de uma população cuja educação, cultura e hábitos é pra lá de questionável, tudo isto apimentado pela grande e bombástica combinação de interesses entre o empresariado sedento de lucro, o consumidor ávido e desmedido e o popular curioso e mal educado.

Mauricio disse...

Esse texto só pode ser brincadeira!!!

Anônimo disse...

Muito bom.

Isabela Costa disse...

Não vi nada de extraordinário na foto de jornal.Será que deixou de ser nornmal esbanjar alegria? Tudo pedende de optica. Ao meu vê era apenas uma jovem como outra qualquer no meio da multidão que esperava pelo momento de descontração. O sensacionalismo é que não aceito. Portanto, chame a moça pelo nome, porque louca é um termo muito forte,que desagrada ALGUNS OUVIDOS SENSÍVEL.