19 de abr. de 2010

Cara de um, bigode do outro

José Sarney e Nelson Justus são o resumo de como funciona o jogo do Poder Legislativo brasileiro. Mandam muito e são pouco contestados. Têm biografias respeitadíssimas entre os colegas e um índice de popularidade que acaba das portas do Senado e da Assembleia Legislativa para fora.
No Brasil, presidentes de parlamentos como os dois podem quase tudo no xadrez interno das Casas que comandam. Dão a palavra a quem interessa, controlam a pauta de votações, têm direito a um exército de funcionários comissionados. Do alto de suas cadeiras confortáveis que lembram tronos, também podem discursar sobre qualquer assunto sem serem contestados.
Essa última prerrogativa foi usada recentemente por ambos e pelo mesmo motivo. No auge do escândalo dos atos secretos do Senado, em 16 de junho de 2009, Sarney fez um longo discurso no qual jogou a culpa no passado para defender-se. Na quarta-feira passada, foi a vez de Justus adotar a mesma estratégia para explicar (ou não) o que está sendo feito quanto ao escândalo dos diários secretos divulgados por reportagens da Gazeta do Povo e da RPC-TV.
Não é preciso raciocinar muito para ler as declarações e ver que as teses são muito, muito, parecidas. A diferença é que, no Senado, Sarney enfrentou certa resistência de uma ala de parlamentares para permanecer no cargo. No Paraná, Justus segue incólume, sem contestação dos demais deputados estaduais.
Abaixo, seguem alguns trechos dos discursos feitos pelos dois. Refletir sobre o que foi dito é um ótimo exercício para entender – ou pelo menos tentar compreender um pouco – o estranho mundo das excelências.

Herança maldita

“Que aconteceram erros no passado, nenhum de nós aqui duvida. E esses erros vêm ao longo de décadas. Não começou ontem nem anteontem. Esses erros vêm se acumulando. E nós quando assumimos, assumimos um compromisso de consertá-los. E vínhamos fazendo esse conserto.”
Nélson Justus

“A crise não é minha, é do Senado. (...) Nenhum desses atos de que falam se referem à nossa gestão. Então, apure-se. Quem for responsável seja punido, e serei eu que estarei à frente para punir. Se eu estiver errado em alguma coisa, também, entre todos os outros que passaram aqui, todos nós, porque todos nós somos responsáveis.”

José Sarney
Erros e correções

“Fico às vezes pensando: onde é que nós erramos? Será que se nós não tivéssemos iniciado esse processo de modernização e de transparência na Casa, tudo isso teria acontecido?”

Nélson Justus
“Estou aqui há quatro meses como Presidente da Casa. O que praticamos é, só e exclusivamente, buscar corrigir erros, buscar tomar providências necessárias ao resgate do conceito da Casa. Isso evidentemente não se pode fazer do dia para noite.”
José Sarney

Biografia

“Posso garantir aos senhores que nos meus 62 anos, que no meu quinto mandato e em 25 anos de vida pública, nunca passei por um momento como esse. Enfrento esse desafio e tenho certeza que a história vai reservar um momento a essa Casa.”
Nélson Justus
“Não posso ser julgado assim. É uma injustiça julgar um homem como eu, com tantos anos de vida publica, vida austera, família bem composta, que preza a dignidade na carreira, que nunca um colega não teve gesto de cordialidade, nunca neguei voto no sentido avançarmos na melhoria da Casa”.
José Sarney

Da Gazeta do Povo, Paraná.
Enviado por Eri Santos Castro.

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