12 de abr. de 2009

Dez regras da grande imprensa ao abordar movimentos sociais

Em artigo no portal Adital, o jornalista Osvaldo da Costa desvenda em dez toques como a grande mídia trata os movimentos sociais. Veja artigo completo (www.adital.org.br).

A mídia e os movimentos sociais
Dez regras da grande imprensa ao abordar movimentos sociais
Convenções básicas (quem não cumprir está sujeito a demissão)

1ª) Toda ocupação de terra deve ser chamada de invasão.
Ao invés de usar o termo adotado pelos movimentos sociais, “ocupação” – manifestação de pressão para o cumprimento da Constituição pelo Estado e denúncia da existência de latifúndios –, é mais eficiente para o objetivo de defesa do princípio da propriedade privada a utilização da palavra “invasão” – tomar para si pela força algo que não lhe pertence...

2ª) Regra do efeito dominó, fale só do maior para bater em todo.
O acordo da grande imprensa é manter somente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na pauta dos noticiários, e evitar sempre que possível falar da existência de outros movimentos sociais.

3ª) Reforma Agrária deve ser tratada como questão de políciaMovimentos sociais e reforma agrária devem, sempre que possível, ser tratados na página policial, no caso de jornais impressos, e no bloco do crime e dos desastres, no caso dos telejornais.
Caso não seja possível enquadrá-los na seção policial ou em espaço próximo, use títulos para editorias que lembrem o belicismo, como “campo minado”. Não importa o que diga sua matéria, os títulos devem falar por ela, mesmo que não tenham relação com o conteúdo. Use tons sensacionalistas e fatalistas.

4ª) Nunca divulgue os artigos progressistas da Constituição Federal.
Os artigos da Constituição Federal que tratam da função social da terra, que integram o código agrário – 184 a 191 – nunca devem ser mencionados em reportagens sobre os movimentos sociais, para evitar a compreensão de que a ação de invasão de terras pode ter algum respaldo legal.

Conjunto de regras para serem selecionadas e aplicadas conforme a conjuntura exigir:

5ª) Levante a bola para o oportunista de plantão
Não é verdade que o papel da imprensa é apurar a verdade dos fatos. Todo aspirante deve saber que a imprensa tem poder para gerar os fatos.

6ª) Nem sempre devemos apurar os dois lados da notícia.
Quando já conseguimos incutir um pré-julgamento na opinião pública sobre o caráter marginal das ações dos movimentos sociais, podemos reforçar essa opinião entrevistando somente o lado agredido pelas ações, as vítimas dos movimentos.

7º) Não deve existir noção de historicidade, nem de causa e conseqüência das reportagens.

8°) Dramatização da repercussão das ações dos movimentos sociais.
Retire o foco das motivações estruturais e causas históricas e centre a abordagem nas conseqüências para os indivíduos donos ou empregados das propriedades invadidas ou atacadas...

9ª) Campanha de desmoralização permanente dos movimentos sociais.
É sempre bom manter semanalmente pautas de desgaste aos movimentos sociais, mesmo que não haja uma ação que renda manchete. Nesses casos, a regra é trabalhar com associação, encaixando uma reportagem que fale sobre um movimento após ou entre matérias que falem, por exemplo, de casos de corrupção no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), venda de terra e desmatamento em assentamentos da Amazônia Legal, etc...

10ª) É fundamental saber manipular a dimensão subjetiva do telespectador ou do leitor.
Não é apenas com a manipulação dos fatos e com a edição das entrevistas que podemos influenciar na interpretação que os nossos consumidores farão. Na TV, a expressão facial e o tom de voz dos repórteres, dos comentaristas e, sobretudo, dos âncoras, é determinante. A adoção do semblante sério e do tom de voz grave deve indicar a importância do tema.

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