19 de fev. de 2009

Stédile e o eventual sucesso do golpe de estado via poder judiciário


Conversei ainda a pouco com João Pedro Stédile, líder nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), sobre a eventualidade do golpe da cassação vingar contra o mandato do governador Jackson Lago. Irei resumir esse diálogo em quatro pontos, vejamos:

1) O senador Sarney, nesses 50 anos de representação confiável dos grandes grupos econômicos tem raízes dentro do Estado. Não é porque ele perdeu o governo do Maranhão que sua influência acabou. Pelo contrário, ele a usa para retomar esse governo perdido nas urnas. Ele tenta inverter a ordem, onde os vencidos tornam-se vencedores e os vencedores, vencidos. O que está em curso é um golpe de estado não pelas armas, mas através do judiciário, que entre os três poderes é naturalmente o mais conservador e elitista. O principal papel do poder judiciário formulado por Montesquieu é a manutenção do 'statos quo' e mandar pra cadeia ladrão de galinha.
Se no Maranhão tivesse um representante moderno da burguesia, que respeitasse as leis que ela própria elabora pra si, teria até legitimidade de arguir o mandato de Jackson, pois as eleições burguesas infelizmente não são dissociadas do poder econômico. Agora, quem é Sarney pra falar de abuso de poder econômico e de mídia? Até no mundo animal, o porco não fala de limpeza. Ele não usa disfarces, já na política do Maranhão porco até voa.

2) A disputa política tradicional no Maranhão é reflexo da luta de classes, de um lado os interesses dos trabalhadores do campo e da cidade e dos homens e mulheres fora do mercado de trabalho e consumo e do outro lado os interesses dos possuidores dos meios de produção, os classicamente chamados burgueses. Não se trata de afirmar que Jackson faz um governo socialista ou mesmo de esquerda, mas medidas como tirar o dinheiro público de um banco privado (Bradesco) e colocar no Banco do Brasil; a erradicação do analfabetismo; pular a economia semi-feudal, que escraviza os maranhenses e promover um choque 'capitalista' no estado, gerando uma massa trabalhadores com empregos e outras rendas; impedir um novo ciclo do que tem de pior da política da burguesia, que são suas versões oligárquicas e coronelista... isso por se só já tem um conteúdo revolucionário. Por isso, apoiamos e defendemos o governo popular do Maranhão do governador Jackson.

3) Na hipótese de se confirmar o golpe de estado via o judiciário, os bravos maranhenses e brasileiros não poderão entregar de mão beijada o governo. Da nossa parte os 'Sem Terra' do Brasil inteiro irão participar dessa luta de braços dados com vocês. Faremos barricadas na porta do palácio, interditaremos ferrovias, portos, aeroportos, comunicação... enfim daremos uma aula de democracia para a América Latina e o Mundo. Haverá uma crise institucional, cabendo ao Governo Federal negociar uma saída para a institucionalidade instável. Acredito que a saída será a devolução do Mandato de Jackson.

4) Por último, a forças socialistas que estão no governo Jackson deverão se organizar e melhorar a sua intervenção junto às políticas públicas do estado. Esse governo precisa ser hegemonizado pelas forças comprometidas realmente com a libertação dos maranhenses, pois verifico que quem hegemoniza ainda são os políticos atrasados e conservadores, que só não estão com o Sarney porque Zé Reinaldo os trouxe pra cá, e a gente sabe como. O Jackson tem a vontade de realizar um governo revolucionário, agora o que falta é a nossa companheirada qualificar a sua intervenção no governo e radicalizar essas transformações necessárias e imprescindíveis.

Eu fiquei abismado com a tamanha lucidez , clareza e a quantidade de informação sobre o Maranhão que o líder nacional do MST detém. Cheguei a indagá-lo sobre isso e a sua resposta foi um quase sorriso. Com permissão do líder, que Deus nos abençõe!

Nenhum comentário: