As declarações do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), contrariando previsões, não se desmancharam no ar. Sobreviveram ao carnaval e nesta terça (o3) ele irá usar o grande expediente para fazer um pronunciamento ao país, no Congresso Nacional. Veja partes do artigo do jornalista Eugênio Bucci, no Estadão de hoje.
"Ao declarar à revista Veja, duas semanas atrás, que boa parte de seu partido, o PMDB, "quer mesmo é corrupção", Jarbas Vasconcelos abriu a mais nova temporada de questionamentos em relação aos (muitos) políticos que se refestelam no fisiologismo, no clientelismo, no tráfico de influência, na promiscuidade entre Estado e interesses pessoais e, finalmente, no esporte radical do enriquecimento ilícito. Contrariando as previsões dos que preferiam abafar o escândalo, as declarações do senador sobreviveram ao carnaval e continuam na ordem do dia, o que é bom. Na segunda-feira, outro quadro histórico da mesma sigla, Pedro Simon, veio somar forças com Jarbas Vasconcelos. 'O PMDB está se oferecendo para ver quem paga mais e quem ganha mais", afirmou Simon a Amália Goulart, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte. Inconformado com os "métodos de condução do atual comando do partido', não tergiversou: 'O PMDB fez de tudo para agradar a Fernando Henrique e conseguiu ?carguinhos?. Agora faz a mesma coisa com Lula.' "
"O senador Simon entra em cena como um novo fator de pressão para que assuntos de interesse público sejam de fato debatidos e resolvidos em público - e não arquivados em gabinetes pelos conchavos de agendas ocultas. O que está em jogo é mais do que a sorte de possíveis corruptos: está em jogo a capacidade que temos, como imprensa e como sociedade, de esclarecer mais esse capítulo de miséria ética que tem por protagonista a chamada "classe política" (essa estranha categoria profissional que, em sua maioria, desconhece noções de classe, tanto em sentido marxista como em sentido de boa educação). Está em jogo, enfim, saber se a roupa (pública) suja (por interesses inconfessáveis) será mesmo lavada em público, como deve ser, ou será (de novo) escondida pelos caciques incomodados."
"De todas as formas, eles vêm tentando desqualificar Jarbas Vasconcelos. A cúpula do PMDB julgou que poderia neutralizá-lo com uma nota oficial sumária, lacônica, que, em lugar de rebater as acusações, caracterizava a entrevista do senador pernambucano como um desabafo pessoal."
"Talvez os dirigentes peemedebistas tenham imaginado que a tática do mutismo, emoldurado por suas fisionomias artificialmente compungidas, esvaziaria o debate. Felizmente, erraram: a manobra silente surtiu o exato efeito contrário. Ao não se defender, o partido deu a impressão de que optou por não falar nada porque não tem respostas para nada."
"Por isso é que Pedro Simon entra em cena num momento oportuno: ele pode ajudar a fazer com que o velho partido desista de sua afasia de ocasião. Vamos ver se, desta vez, prevalecerá o respeito pela opinião pública. Qual era a motivação de Pedro Collor quando denunciou o próprio irmão, Fernando Collor? Qual era a motivação de Roberto Jefferson ao dar a entrevista em que popularizou o neologismo "mensalão"? Talvez não fossem as melhores do mundo, mas suas acusações clamavam por esclarecimentos - e disso cuidou a imprensa, cumprindo seu dever."
"Agora, embora as motivações pessoais de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon devam ser levadas em conta, o que importa em primeiro lugar é saber se o que eles dizem é verdade ou é mentira.Por mais altas ou mais baixas que sejam as ambições de quem quer que seja, a opinião pública tem o direito de conhecer o fundo de verdade que há por trás dessa barulheira toda."
"Antes que essa história fique velha, é preciso que ela fique clara. Para isso o jornalismo pode contribuir. A despeito das motivações alheias, basta que ele cultive bem a sua própria: descobrir e publicar a verdade."
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