Banco Mundial enriquece com a miséria
Falso paladino da luta contra a pobreza no mundo, o Banco Mundial (BIRD) está se aproveitando do aquecimento global para acumular bilhões e bilhões de dólares e controlar o gerenciamento em países como o Brasil, onde, com a aproximação das eleições gerais de 2010, começou a aplicar nada menos de 7 bilhões de dólares.O BIRD alardeia que combate as alterações climáticas causadoras de problemas energéticos, mas basta uma análise de sua participação em megaprojetos na Ásia e África para constatar que desde os tempos de sua criação vale-se de tremenda máscara de hipocrisia e pratica as mais mirabolantes manobras, como jogadas no recém-criado mercado de carbono, para ganhar mais e mais dinheiro.
Efeito-estufa
Recentemente, foi aprovado o financiamento para a construção de uma nova central termoelétrica em Mundra, Índia. O projeto é do gigantesco Tata Group, que está penetrando no Brasil em negócios de etanol e minérios, além da fabricação de bebidas e automóveis. Com financiamento do BIRD, serão instaladas na Índia cinco centrais a carvão, com potência de 800 MW cada. O projeto é motivo de festa para a Indonésia, com a criação de milhares de empregos no setor de mineração, já que todo o carvão será importado de lá. O que não se fala na Índia é que as emissões geradas pela queima desse carvão serão suficientes para colocar o complexo de Mundra no terceiro lugar entre os maiores contribuidores para o efeito-estufa na Índia. Promessas de uma montanha de créditos de carbono, instituídos com o Protocolo de Kyoto, em 1997, após os debates mundiais sobre o aquecimento global, são o chamariz. A conversa-mole neoliberal apresenta as grandes corporações como os mais pobres, consistindo o "desenvolvimento sustentável" na exploração de combustíveis fósseis.
Na África
O Banco Mundial contribui também para a destruição, na República Democrática do Congo, da maior floresta tropical do mundo depois da Amazônica. Seus ecossistemas incluem savanas, pântanos, bosques e várias centenas de clareiras conhecidas como bais. A extensão dos bais varia de um a 15 hectares e contém depósitos ricos em minerais, que atraem muitas espécies de animais, em particular grandes mamíferos como elefantes, búfalos e gorilas. O Parque Nacional de Odzala, que lá se insere, tem 444 variedades de aves identificadas no Congo, uma das maiores populações de elefantes e os únicos leões que sobrevivem na África Central. Em 2002, entretanto, no rescaldo da pior guerra dos tempos recentes, empresas estrangeiras foram incentivadas pelo Banco Mundial a extrair a madeira desta floresta, supostamente para benefício das populações locais. Um relatório interno do banco informa que, na realidade, os milhares de pigmeus que vivem na selva da República Democrática do Congo (RDC) foram as maiores vítimas desse atentado ecológico, que envolveu até a concessão de aval do BIRD a contratos que envolvem ilegalidades, conflitos sociais e o descaso relativamente a medidas de conservação da natureza. Receitas prometidas às autoridades locais nunca se materializaram, mas registrou-se uma evasão fiscal generalizada. As populações locais foram presenteadas com brindes baratos, tipo camiseta, e as promessas de instalação de novos equipamentos sociais, como escolas ou hospitais, jamais foram cumpridas.
Mercado de carbono
O BIRD, que não faz muito financiava projetos de devastação de florestas no Brasil e na Indonésia, agora se vale de resoluções adotadas em 1997, na reunião das Nações Unidas em Kyoto, para operar como intermediário entre compradores e vendedores de poluição. Suas atividades têm se mostrado altamente predatórias. Naquela assembléia, grande número de países (exceção para o USA) comprometeu-se a desenvolver tecnologias e métodos no sentido de diminuir as emissões de CO2, gás que é o maior responsável pelo efeito estufa. Por iniciativa do Brasil, instituiu-se o MDL (mecanismo de desenvolvimento limpo), que consiste em gerar energia e utilizar energia através de uma matriz que emita menos poluentes, em especial gases de efeito estufa. Com isso estabeleceu-se um mercado de créditos de carbono, no qual o Banco Mundial se intromete em favor dos grandes poluidores. Comprometeu-se, inicialmente, a aplicar recursos apenas em projetos de energias renováveis. A realidade atual, entretanto, é de que menos de 10% dos créditos de carbono aprovados foram gerados por projetos de energias renováveis limpas (solar, eólica e micro-hídrica). Em abril de 2004, um estudo encomendado pelo Banco Mundial, "The Extractive Industries Review", recomendava à instituição que suspendesse imediatamente as aplicações em carvão, e, em 2008, no petróleo. A liberação de recursos deveria ser direcionada para a expansão de energias renováveis, em projetos de eficiência energética e em outros empreendimentos desvinculados da produção de energia da emissão de gases com efeito de estufa. A burocracia do BIRD desprezou os pareceres técnicos e continuou a apoiar a indústria dos combustíveis fósseis: entre 2005 e 2007 os empréstimos para projetos ligados ao carvão, ao petróleo ou ao gás natural ascenderam a 1,5 bilhões de dólares. Muitos destes projetos envolvem abusos dos direitos humanos, como migrações forçadas e utilização de trabalho escravo. Em paralelo, o Banco Mundial tem apoiado projetos nas maiores barragens do mundo sem levar em conta as drásticas consequências ecológicas e sociais inerentes à megalomania. Segundo a "International Rivers Network", em 2004 o BIRD já havia financiado a construção de mais de 550 barragens no mundo, levando à expulsão de mais de 10 milhões de pessoas das suas casas. Agora, o relatório do BIRD alardeia que o mercado de carbono movimentou em 2007 nada menos de 47 bilhões de euros, o dobro do ano anterior, mas há sérias dúvidas quanto ao MDL, pois o USA e a Austrália só entrarão no mercado para valer em 2012, frustrando terrivelmente as esperanças de países pobres como Jamaica, Quênia, Mali e Madagascar, que acreditaram na acumulação de créditos de carbono como única alternativa da miséria em que estão mergulhados. Já a partir de 2008 todos começam a encarar uma lacuna de demanda e no Banco Mundial, que tem de aprovar tudo, não existe a menor pressa em aprovar os mais de 3 mil projetos em exame.
De olho no Brasil
As atividades do Banco Mundial desmontam a imagem falsamente construída de uma instituição solidária, voltada para o combate à pobreza. Ao contrário, evidencia-se como um instrumento neocolonial de dominação dos países menos desenvolvidos, perpetuando a lógica da "globalização" que aumenta as desigualdades e agrava a degradação ecológica. Anuncia-se agora que o BIRD aprovou um pacote de 8,6 bilhões de dólares para o Brasil, nos próximos quatro anos, programando-se uma aplicação de US$ 1,6 bilhões em três projetos da gerência FMI e US$ 7 bilhões para os estados, vale dizer para projetar candidatos nas eleições gerais que ocorrerão daqui a dois anos, e detonar a legislação trabalhista – uma guerra que vem sendo travada a partir de investidas contra o FGTS e o 13º salário.Só para disfarçar, o Banco Mundial propala que a mudança é devida à melhora na situação macroeconômica do Brasil e sua menor vulnerabilidade. Em nível federal, do US$ 1,6 bilhão aprovado, US$ 976 milhões terão como alvo um programa do Estado de Minas Gerais para Aécio Neves melhorar a qualidade e eficiência dos produtos e serviços públicos para consolidação de crescimento e redução de pobreza. O foco principal serão as áreas de saúde, educação e transporte. José Serra, de São Paulo, contará com US$ 550 milhões para melhoria dos serviços e aumento da capacidade de transporte de trens e metrô na região metropolitana na capital paulista. Os restantes US$ 84 milhões vão para o governo federal estender o programa Saúde da Família. O pacote de US$ 7 bilhões que será distribuído ao longo dos próximos quatro anos estão num programa de Estratégia de Parceria com o Brasil que inclui o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) metas de desenvolvimento, como melhoria da qualidade das despesas públicas, redução da diferença entre o PIB per capita do Nordeste e do Brasil e a redução, à metade, da taxa de desmatamento da Amazônia. Se os brasileiros não se cuidarem, o desastre congolês vai se repetir por aqui.
E O MARANHÃO
Os vários projetos em implantação no Estado será objeto de um estudo que estou desenvolvendo, para que no final do ano coloquemos a disposição dos leitores.