Apartheid paulista tem até muro
No noroeste da Grande São Paulo, a quarta maior renda per capita do Brasil convive com um dos mais elevados índices de desiguadade social.
O muro que separa o luxuoso condomínio residencial Alphaville dos demais bairros de Santana de Parnaíba (SP) é o retrato mais preciso da desigualdade no Brasil. Do lado de dentro, mora o quinto mais rico da população, com renda per capita de R$ 3.037. Fora, estão as demais camadas, inclusive o quinto mais pobre, com renda per capita de R$ 28 e situado dentro da faixa da indigência, que corresponde à renda de R$ 37,75.
O abismo entre a camada mais rica e as demais rende a Santana de Parnaíba o 35º lugar no ranking do maior nível de desigualdade — com base no Índice de Gini — entre todos os 5.507 minicípios computados no Censo 2000 do IBGE, e também o primeiro lugar entre as 645 cidades do Estado de São Paulo. Por outro lado, é de Santana de Parnaíba o quarto lugar entre as cidades brasileiras de maior renda per capita média (R$ 762,65), atrás de Águas de São Pedro (R$ 954,65) e São Caetano do Sul (R$ 834,00), ambas de São Paulo, e Niterói (R$ 809,18), do Estado do Rio de Janeiro.
A disparidade entre esses indicadores é o que explica o que poderiam ser consideradas contradições entre outros índices. Um exemplo é o fato de Santana de Parnaíba ocupar o 23º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de todas as 5.507 cidades brasileiras — e o sexto no Estado de São Paulo —, ao mesmo tempo em que esse é, em todo o Brasil, o município onde os ricos são mais ricos, isto é, concentram mais renda.