A mentira da meritocracia
Li isto e fiquei espantado. A mentira da meritocracia é repetida à exaustão, juntamente com a velha lenga - lenga do trabalho enquanto valor (e a propósito, recomendo o fabuloso O Direito à Preguiça de Paul La Fargue).
Em que cidade uma família refugiada, isso mesmo REFUGIADA, do campo consegue um teto, trabalho, saúde e educação, depender de si própria?No fundo em que local uma família vinda do interior consegueria vencer?
É fantástico que haja quem se consegue prender com a mentira capitalista que é possível. É, de fato, possível. Mas com que preço? Quantas famílias ficaram no caminho da saúde e educação privatizada e inacessível a milhões? Quantas pessoas continuam escravizadas em um emprego precário ou mesmo desempregadas? E quantas pessoas ainda morrem de fome, dengue, malária... enquanto os banqueiros lucram somas vergonhosas?
O que é mais intrigante é que isto chega a ser básico, mas tem que ser verbalizado: por que é que capacidade de indignação da maioria dos políticos suporta tudo isso?Não ligam aos muitos que todos os dias são humilhados e vivem em condições miseráveis? Ligar a muitos não é melhor do que ligar a poucos? Não é mais justo?
Mas há mais. Os meritocratas falham redondamente filosoficamente, porque o livre arbítrio, como o provou Schopenhauer (no seu Contestação ao Livre Arbítrio) e outros, não existe. E a partir daí, é difícil chegar à meritocracia. Depois, falam como se o jogo não estivesse viciado à partida. As famílias refugiadas do campo partem da mesma posição que os filhos dos ricos?
A meritocracia e este culto quase eugenista de "longa vida aos das boas escolhas" é a forma bonita, dentro da matriz judaico- cristã, de nos lembrarem que quem muito trabalha e muito sofre, merece ser recompensado. E se não for nesta vida, é na outra (o que faz com que ou seja uma ou outra, porque os ricos não chegam ao reino dos céus, não é verdade?).
Importa desmistificar e combater estas idéias que encorajam as pessoas a sonharem por uma loteria em vez de quererem um mundo menos injusto, com menos diferenças, sem estas histórias da carochinha.