Com estas três cadeiras eu faria um baile, eu que sou o duplo e a minha solidão. Pediria ao tempo um intervalo e abriria, em sonho ou em chuva, as mãos para uma poesia nova e desencadeadora. Eu e eu e a minha solidão.Um caderno já desfeito pelo tempo, temo-o bem.
Contranbandeava assim o assassínio das minhas letras, rádio ligado na sala, a casa vazia, os talheres sobre as cadeiras, era isso, o meu enfim sós com tanta gente ainda por morrer. Podia, mesmo assim, traulitar quatro acordes retirados de um cancioneiro asturiano ou percorrer a pé todas as ruas do meu do recanto dos vinhais. É tradicional, é tradicional, como um jingle publicitário em random durante a noite de ano novo.
Mas a arrogância e a militância e toda a nossa ânsia, o fim do nosso mundo assim que chegasse a meia-noite, o telefone que toca mesmo sem rede, a minha companhia é azul, a tua vermelha, todas as coisas feitas a pensar nos daltónicos. Um baile, enfim, um baile, troquei-te por ela, fiquei com a casa, não vou contigo ao cinema, uma mulher saída da corporação dos bombeiros, era tão bonito o amor em dias de fogo no pinhal.
Imagino até já um certo silêncio pelas dobras das páginas, um engolir em seco das manobras dos nossos sapatos engraxados, o solitário desdém dos pais quando não percebem que a tecnologia tem avanços que o próprio evoluir das coisas não reconhece. Eras tu e a minha casa, o baile e um nome que ainda não sei escrever, eu e eu e a minha solidão, tudo em duplicado, copo vazio caído, tudo em duplicado, ainda tanta gente.
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