Ao contrário de textos do FT críticos à política econômica do governo, este nao é objeto de exaustiva repercussao na mídia br e seus comentaristas. Regra número 1: a mídia repercute apenas notícias negativas, numa seleçao minuciosa que nao admite exceçoes.
O artigo do FT sublinhava o que já é de amplo conhecimento: a Copa foi um triunfo. A extraordinária surpresa se deveu menos aos fatos, em si, e mais à campanha feroz movida pela imprensa. Num dos momentos apoteóticos dessa campanha, Jabor disse que o Brasil mostraria sua incompetência em organizar um evento de tal magnitude. Mesmo jornalistas de outra natureza que nao a de Jabor se deixaram contaminar pelo sentimento apocalíptico. Poucas semanas antes da estreia do Brasil, depois de visitar o Itaquerao num jogo do Corinthians, Juca Kfouri previu, na ESPN, o caos.
O FT falou naquilo que todos sabem: os brasileiros sao um povo encantador. O francês rosna para você. O inglês ignora você. O brasileiro sorri e dá um tapa nas suas costas. Para os jornalistas estrangeiros, e os turistas, cobrir a Copa nas cidades com praias foi uma experiência única – “A Copa tem que ser sempre no Brasil” – foi uma frase várias vezes repetida.
Também para os jogadores estrangeiros o Brasil foi, em geral, uma festa. Viralizou um vídeo em que futebolistas alemaes torciam num hotel, ao lado de brasileiros, na disputa de pênaltis entre Brasil e Chile.
O ganho em termos de imagem para o Brasil é inestimável. A “publicidade” gratuita que a mídia internacional deu ao país com seus textos e vídeos nao tem preço. Nao é que o Brasil tenha passado por uma metamorfose súbita na Copa. É que a mídia, já faz um bom tempo, retrata um país que nao existe.
É a Banânia, uma terra da qual devemos todos nos envergonhar. Segundo a mídia, somos corruptos, somos infames, somos linchadores, somos violentos, somos canalhas, somos ignorantes. Falta alguma coisa? Ah, sim: somos feios.
O Brasil monstruoso da mídia nao é, evidentemente, uma obra do acaso. O objetivo é convencer os incautos de que, com outra administraçao, viraremos um paraíso, mais ou menos como o Brasil que a Globo mostrava na ditadura militar.
O país tem desafios monumentais para se tornar uma sociedade avançada, é certo. Os extremos de opulência e miséria ainda sao intoleráveis, a despeito da reduçao da desigualdade verificada nos últimos anos. Um “choque de igualdade” tem que percorrer o país. Mas nao somos a Banânia da mídia.
Melhor: a Banânia está representada apenas numa área. Na própria imprensa. A mídia brasileira é, em si, a Banânia que, ardilosamente, ela finge que o Brasil é.
Texto do Paulo Nogueira no Diario do Centro do Mundo, via Bluebus, confira aqui!
Enviado por Eri Santos Castro.
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