15 de set. de 2013

OPINIÃO: Sobre um país em movimento, juventude e futebol


Professor Arnaldo, apoia a tese do PT com Flávio Dino
O pais do futebol, em que tudo acaba em samba e muitas
vezes em “pizza”, vive um momento “mágico-real”, e a 
certeza dos desmandos de outrora – que antes contavam
com a complascência das massas e sua degradante 
sonolência – cede espaço, agora, a manifestações 
e protestos organizados pela juventude em centenas 
de cidades brasileiras.

A aceitação passiva das massas ganhava corpo no Brasil e 
acomodava-se em nome da tão famigerada estabilidade 
econômica. Era preciso mostrar ao mundo que  “o Brasil é
um país viável e sem riscos para investidores estrangeiros”.

Por outro lado, o circo do futebol fortalecia a ideia de que 
precisávamos construir ou reformar estádios em todo 
o país para sediarmos a copa de 2014. Deveríamos exibir
a pungência futebolística brasileira simbolicamente expressa 
em dribles e espetáculos gigantescos capazes de demostrar aos
 olhos do mundo a força da brasilidade entre as quatro linhas.

Este era o aspecto simbólico que ocultava, todavia, o que 
estava por trás das câmeras, nas obras 
(segundo denuncias) superfaturadas e nos interesses 
escusos de empreiteiras motivadas por verbas estratosféricas,
 no valor de 28 bilhões de reais.

Tão propício quanto o circo, para completá-lo com lances 
cavalares de alienação, seria o pão. Mas o brasileiro fugiu 
ao binômio “pão e circo” e foi às ruas protestar por 
mais saúde, educação, segurança pública, pelo fim da corrupção
e pela diminuição das tarifas dos transportes públicos. 
Ressalte-se, no entanto, que este último ponto foi apenas 
o estopim de uma situação insuportável: a omissão do 
Estado brasileiro quanto à promoção de políticas
públicas que proporcionem qualidade de vida e promovam 
a cidadania. Diante da rebeldia com causa do povo 
brasileiro, nem mesmo o circo da bola, com sua magia,
foi capaz de driblar a realidade. E, numa analogia critica,
faixas e cartazes passam a exigir escolas e hospitais 
com “o padrão FIFA”.

Não se pretende com isso desconsiderar a importância 
do futebol e sua influência cultural para o brasileiro. 
Sabe-se que o futebol tem uma relação muito próxima 
com o gingado, com a dança, com as habilidades expressivas
do corpo e daí, portanto, a forte vivência de nossa 
gente com este esporte. A obra “Raízes do Brasil”, de Sergio
Buarque de Holanda, aponta como as manifestações 
artísticas se fazem sentir com bastante intensidade num
país resultante da forte miscigenação racial como a 
nossa. Não há dúvidas: o futebol é uma arte aprazível
aos olhos do brasileiro.

Não nos causaria espanto, porém, afirmar que uma 
motivação de natureza psicológica também justifica 
a paixão do brasileiro pelo futebol e sua quase cegueira secular
face aos problemas do país. É que, na ausência de políticas 
inclusivas no Brasil, a grande massa tornou-se excluída 
econômica e socialmente. E depois de uma semana de
trabalho e dificuldades para driblar o cotidiano, o brasileiro
vai aos estádios e espera marcar, no plano da fantasia do 
futebol, os gols que não consegue fazer nos lances da vida real.

Durante noventa minutos o inconsciente coletivo é abastecido
pelo alimento fantástico da ilusão: seja nos estádios, seja em 
casa, via televisão – direcionada não a promover o espetáculo
em si –, mas também a atender à grande jogada de 
empresas e anunciantes e, não raro, a interesses de cartolas.

Desta forma, a ilusão transfigura a realidade e a dificuldade 
se traveste em fantasia, com “gols de placa” e apoteoses de 
alegria. Foi assim que durante tantas vezes a nossa pátria 
mãe gentil dormiu um sono profundo e não percebeu que,
enquanto dormia, era subtraída em tenebrosas transações.

Talvez estejamos, agora, amadurecendo a nossa cidadania. 

Acreditamos que nada será como antes. E preferimos ratificar 
a dialética afirmada pelo filósofo Heráclito, séculos antes de 
Cristo: “o homem não toma banho duas vezes no mesmo rio 
da mesma maneira”. É bom lembrar o que dizia o velho Marx 
“a história não se repete a não ser em forma de farsa."

Aproveitemos – agora – a oportunidade de construirmos a 
mudança e não nos acomodemos com a certeza de que 
findado o crepúsculo, surgirá a aurora. Pois o exercício da 
cidadania exige participação. Afinal, só se aprende 
a caminhar, caminhando! Não conheço nenhum grande nadador
que se tornou campeão apenas lendo um manual de natação. 

É preciso mergulhar na piscina, como é preciso lutar, transformar,
ir às ruas.

É assim que a doce utopia da brava juventude brasileira 
deixará de ser, até mesmo aos olhares mais reacionários,
simples quimera e se transformará na energia de ativação
capaz de mobilizar multidões e tirar da hibernação a força 
revolucionária do povo brasileiro, libertando-o da latência, 
da letargia e da miopia acomodadoras de outrora.

Salve o povo brasileiro! Salve a nossa juventude! Vamos às ruas!

Por Arnaldo Gomes de Sousa.  
Professor de Língua Portuguesa,
Acadêmico dos últimos períodos do Curso de Direito, 
filiado ao PT e ex-prefeito de Altamira.

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