Recebi ontem à noite, pelo telefone, uma notícia desagradabilíssima: uma amiga sofreu um acidente de moto na madrugada da segunda-feira. Teve as duas pernas quebradas, o pulmão perfurado, parte do couro cabeludo arrancado, várias escoriações pelo corpo e agora está em coma, respirando por aparelhos, com um coágulo no cérebro. No hospital público em que ela internada, informaram que o estado é grave. Mais grave ainda: não há neurologista na unidade de tratamento.
Ao ser comunicado da tragédia, uma pergunta me veio logo à mente: será que ela estava de capacete? Estava, sim. Segundo testemunhas, um motorista saiu de uma garagem sem olhar o fluxo e cortou o caminho da moto em que minha amiga estava. O corpo dela foi lançado muitos metros à frente. Inerte.
Lembro-me de ter ouvido um comentário do humorista Jô Soares sobre o perigo de andar de motocicleta. Após ter sofrido um grave acidente, no qual fraturou vários ossos, inclusive os dois braços, Jô Soares disparou um tiro certeiro: quem sobe em uma moto tem que saber que, mais dia menos dia, vai cair. E se todo mundo vai cair, é melhor cair na real antes: andar de moto é muito perigoso!
Não só quem anda de moto, mas também quem circula de bicicleta, tem que saber disso: os veículos de duas rodas são instáveis e não protegem o corpo do usuário. Motoqueiros e ciclistas são os elos mais fracos de uma corrente chamada trânsito urbano. Por isso, devem ter a atenção multiplicada por mil. Um deslize e lá se vira estatística. Vejamos algumas: no Amazonas, em 2011, 90,3% dos acidentes de trânsito envolveram motociclistas; em 2010, quase 500 motociclistas morreram no Piauí; 45% dos casos de fraturas na clavícula ocorrem com motociclistas; em 2008, os acidentes de moto geraram 214 mil internações e 18 mil mortes no Brasil, de lá pra cá o número de acidentes só vem crescendo; 95% das mortes de motociclistas são causadas por traumatismo craniano; em 2010, 478 motociclistas morreram em São Paulo; 23 motociclistas morrem por hora no Brasil; em São Paulo, 80 ciclistas morrem atropelados por ano; na última sexta-feira (2), 5 ciclistas foram atropelados em Belém, Brasília e São Paulo.
É óbvio que o número de mortes de ciclistas no Brasil é bem menor que o de motoqueiros. Segundo o Mapa da Violência 2011, do Instituto Sangari, enquanto a taxa de óbitos em acidentes envolvendo motocicletas é de 4,7 por 100 mil, a mesma taxa nos acidentes envolvendo bicicletas é de 0,9%. Isso ocorre por vários motivos: os ciclistas andam em velocidades mais baixas, o que aumenta o tempo de reação em caso de perigo iminente; geralmente circulam pelas bordas das pistas e não na mesma faixa que os veículos mais pesados. Alguém poderia chamar atenção para o fato de os usuários de moto utilizarem capacete, enquanto a maioria dos ciclistas não usa. É verdade. Os ciclistas urbanos, principalmente aqueles que possuem uma renda familiar mais baixa, não costumam utilizar equipamentos de segurança, como capacete e luvas. Nesses casos, mesmo em baixa velocidade, uma queda de bicicleta pode causar estragos. Eu mesmo já levei algumas e sei que outras virão. Vou tentar reduzir a probabilidade e manter sempre um alerta em minha mente: eu sou mais fraco, por isso tenho que me defender.
Estou torcendo muito para que minha amiga não vire uma estatística fatal. Creio que ela fez a sua parte, ao usar capacete e não cometer imprudências. Mas é preciso também que outras pessoas façam suas partes e dirijam com atenção, com respeito e com humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário