A fascistização da sociedade vai avançando imperceptivelmente, naturalmente"),
a coluna deste de ontem (25) de Fernando de Barros e Silva é daquelas que
lavam a alma de quem ainda não se deixou mesmerizar pela repulsiva
cobertura midiática da violência no Rio de Janeiro.
Reproduzo na íntegra e subscrevo cada palavra:
Reproduzo na íntegra e subscrevo cada palavra:
Editado por Eri Santos Castro.TROPA DA MÍDIA
"Há um triunfalismo exorbitante na cobertura jornalística dos acontecimentos gravíssimos no Rio de Janeiro. Na sua primeira página de ontem, o jornal 'O Globo' estampou, em letras garrafais: 'O Dia D da guerra ao tráfico'.
A comparação, ou 'semelhança simbólica', entre a ocupação da Vila Cruzeiro, no ano passado, e o desembarque das tropas aliadas na Normandia, impondo a derrota aos nazistas, é um despropósito, um disparate histórico, além de factual.
Vale lembrar: no dia 21 de abril de 2008, o Bope pendurou na parte mais alta da mesma Vila Cruzeiro a sua bandeira preta com a caveira no centro. A tropa de elite da polícia comemorava uma semana de ocupação na favela. Falava-se então na apreensão de 'três mil sacolés de cocaína e 480 pedras de crack'. Já vimos, pois, esse filme antes.
O que aconteceu desde então? As coisas agora são diferentes? Parece que sim. A começar pelo emprego de armamentos de guerra e de efetivos das Forças Armadas no cerco ao tráfico. Os bandidos também mudaram de patamar: passaram a patrocinar ações típicas da guerrilha e do terrorismo pela cidade.
Até prova em contrário, esses parecem ser sintomas do agravamento de um problema, e não da sua solução. Curiosamente, o governador do Rio mostra ter mais noção disso do que a mídia.
Por toda parte - TVs, jornais, internet -, há uma tendência compulsiva para transformar a realidade em enredo de 'Tropa de Elite 3', o filme do acerto de contas final. A dramatização meio oficialista e meio ficcional do conflito parece se beneficiar de uma fúria coletiva e sem ressalvas dirigida aos morros, como quem diz: sobe, invade, explode, arregaça, extermina!
É quase possível ouvir no ar o lamento pela ausência de traficantes metralhados diante das câmeras. Até o momento em que escrevo, foram incendiados 99 veículos e mortas 44 pessoas. Quantas eram marginais? Quantas eram só pobres-diabos? E que diferença isso faz?"
Compartilhe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário