
Sarney: Eternamente Poderoso está no Jornal Pessoal do Eri Castro. Serviu e se serviu dos últimos 12 presidentes, de Castelo a Dilma, sempre no poder.
Saiu na Veja
Hoje (01), o senador José Sarney será eleito pela quarta vez para comandar o Congresso Nacional. Eleito é modo de dizer. O mais influente político do PMDB não disputará de verdade o voto dos colegas. Com exceção do PSOL, ele será aclamado pelos partidos. Nada mau para quem foi pressionado a renunciar ao mesmo posto em 2009, na esteira da crise dos atos secretos, e cujos aliados e parentes são investigados por irregularidades, que vão de tráfico de influência na administração federal a desvio de verbas públicas. A nova eleição do maranhense tem a bênção da presidente Dilma Rousseff - a l2ª chefe de estado apoiada pelo senador desde que ele ingressou na política, há 55 anos. Sarney sempre esteve ao lado dos presidentes de turno - do reformista João Goulart aos generais da ditadura, transitando entre direita e esquerda com desenvoltura. Aos 80 anos, tem longevidade política que não se explica apenas pelo apego ao poder, nem se esgota nos escândalos que rondaram sua biografia.
“O Sarney nunca disse ‘não’ a um presidente da República. Sua ideologia é a da proximidade com o poder, desfrutando dele. Esse tipo de militância resulta em prestígio e influência”, diz o cientista político Octaciano Nogueira, professor da Universidade de Brasília. Em mais de meio século de atuação, Sarney instalou aliados em postos estratégicos da máquina pública, nomeou integrantes de tribunais superiores e acumulou conhecimento e informações privilegiadas, principalmente sobre fragilidades biográficas de colegas e adversários, uma munição sempre poderosa em processos de negociação política. A profusão de cargos explica a carreira exitosa de Sarney. Mas há outros fatores a cultivá-la. O ex-presidente da República é lhano no trato. Além disso, não considera ninguém como inimigo no plano federal. No máximo, admite ter adversários ainda assim momentâneos. Antes de chegarem ao Planalto, Lula e os petistas tachavam Sarney de corrupto e ladrão, um ícone de tudo aquilo de que o Brasil precisava se livrar. No governo, os dois atuaram como parceiros, a ponto de o senador ter sido o único político a acompanhar Lula de Brasília até a porta de sua casa, em São Bernardo do Campo.
Essa metamorfose é reflexo direto da capacidade de acomodar interesses que José Sarney exerce com maestria. No auge da crise do mensalão, quando Lula chegou a vislumbrar a possibilidade de enfrentar um processo de impeachment, a aliança com o senador, fechada ainda durante a campanha de 2002, ajudou a salvar seu mandato. Sarney, usando sua influência, procurou líderes da oposição para tentar demovê-los da ideia de pedir o impedimento de Lula. Na ocasião, um dos mais dispostos a defender à tese era o peemedebista Pedro Simon. Atendendo a um pedido de Sarney, Simon deixou a ideia de lado, ao menos publicamente. Missão cumprida com sucesso. A retribuição de Lula viria no escândalo dos atos secretos, quando o presidente orientou sua equipe e todos os parlamentares do partido a defender a permanência de Sarney na presidência do Congresso. Foi nessa época que o governo difundiu a versão de que a renúncia do senador só beneficiaria a oposição. Foi nessa mesma época que Lula disse a Sarney e Collor que os três eram vítimas de injustiças da imprensa. Dilma Rousseff, como ministra da Casa Civil, acompanhou de peno o embate e passou a admirar e, principalmente, vislumbrar os benefícios da proximidade com o senador.
Antes, os petistas apenas o tolerava. Hoje, fazem reverência a ele. Ninguém ousa questionar a legitimidade de ele assumir o comando do Congresso pela segunda vez consecutiva. O PT alega que o regimento garante à maior bancada o direito de indicar o presidente. Por isso, não haveria razão para questionar o nome de Sarney. O partido se contentou em indicar o vice-presidente. “Para o resto do país, o Sarney aparece como um democrata. Para o Maranhão e o Amapá, é um tirano. Não permite a divergência de ideias e projetos” diz o senador eleito João Capiberibe, adversário do peemedebista no Amapá. Em 2004, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato dele e da esposa, a deputada Janete Capiberibe, por compra de dois votos na eleição de 2002 - cada um por 26 reais. A acusação partiu de um aliado de Sarney, Gilvam Borges, que herdou o mandato de Capiberibe. No ano passado, um funcionário de uma empresa de Borges afirmou ter dado dinheiro às testemunhas em troca da denúncia.
Eleito em 2010, Capiberibe não sabe se assumirá a cadeira no Senado. Ele afirma que a influência de José Sarney está na origem e nos desdobramentos dos processos que enfrenta. Com base na Lei da Ficha Limpa, sua posse foi barrada por liminar do TSE. “Já fui cassado duas vezes pela influência de Sarney. De onde vem esse poder de cassar mandatos?” Até aliados do presidente do Congresso enfatizam as conexões de Sarney no Poder Judiciário. As empresas da família Sarney são alvo de investigações da Polícia Federal desde 2007. Nenhum dos cinco inquéritos abertos para investigar suspeitas de tráfico de influência, corrupção e lavagem de dinheiro chegou ao fim. A sequência de escândalos não, explica o fenômeno Sarney. A chave do enigma é sua capacidade de evitar que os escândalos o engulam. Longe do poder seria digerido tom facilidade por eles. Não é só à política, à vida também, lembra o poeta Ferreira Gullar, falta uma porta.
“O Sarney nunca disse ‘não’ a um presidente da República. Sua ideologia é a da proximidade com o poder, desfrutando dele. Esse tipo de militância resulta em prestígio e influência”, diz o cientista político Octaciano Nogueira, professor da Universidade de Brasília. Em mais de meio século de atuação, Sarney instalou aliados em postos estratégicos da máquina pública, nomeou integrantes de tribunais superiores e acumulou conhecimento e informações privilegiadas, principalmente sobre fragilidades biográficas de colegas e adversários, uma munição sempre poderosa em processos de negociação política. A profusão de cargos explica a carreira exitosa de Sarney. Mas há outros fatores a cultivá-la. O ex-presidente da República é lhano no trato. Além disso, não considera ninguém como inimigo no plano federal. No máximo, admite ter adversários ainda assim momentâneos. Antes de chegarem ao Planalto, Lula e os petistas tachavam Sarney de corrupto e ladrão, um ícone de tudo aquilo de que o Brasil precisava se livrar. No governo, os dois atuaram como parceiros, a ponto de o senador ter sido o único político a acompanhar Lula de Brasília até a porta de sua casa, em São Bernardo do Campo.
Essa metamorfose é reflexo direto da capacidade de acomodar interesses que José Sarney exerce com maestria. No auge da crise do mensalão, quando Lula chegou a vislumbrar a possibilidade de enfrentar um processo de impeachment, a aliança com o senador, fechada ainda durante a campanha de 2002, ajudou a salvar seu mandato. Sarney, usando sua influência, procurou líderes da oposição para tentar demovê-los da ideia de pedir o impedimento de Lula. Na ocasião, um dos mais dispostos a defender à tese era o peemedebista Pedro Simon. Atendendo a um pedido de Sarney, Simon deixou a ideia de lado, ao menos publicamente. Missão cumprida com sucesso. A retribuição de Lula viria no escândalo dos atos secretos, quando o presidente orientou sua equipe e todos os parlamentares do partido a defender a permanência de Sarney na presidência do Congresso. Foi nessa época que o governo difundiu a versão de que a renúncia do senador só beneficiaria a oposição. Foi nessa mesma época que Lula disse a Sarney e Collor que os três eram vítimas de injustiças da imprensa. Dilma Rousseff, como ministra da Casa Civil, acompanhou de peno o embate e passou a admirar e, principalmente, vislumbrar os benefícios da proximidade com o senador.
Antes, os petistas apenas o tolerava. Hoje, fazem reverência a ele. Ninguém ousa questionar a legitimidade de ele assumir o comando do Congresso pela segunda vez consecutiva. O PT alega que o regimento garante à maior bancada o direito de indicar o presidente. Por isso, não haveria razão para questionar o nome de Sarney. O partido se contentou em indicar o vice-presidente. “Para o resto do país, o Sarney aparece como um democrata. Para o Maranhão e o Amapá, é um tirano. Não permite a divergência de ideias e projetos” diz o senador eleito João Capiberibe, adversário do peemedebista no Amapá. Em 2004, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato dele e da esposa, a deputada Janete Capiberibe, por compra de dois votos na eleição de 2002 - cada um por 26 reais. A acusação partiu de um aliado de Sarney, Gilvam Borges, que herdou o mandato de Capiberibe. No ano passado, um funcionário de uma empresa de Borges afirmou ter dado dinheiro às testemunhas em troca da denúncia.
Eleito em 2010, Capiberibe não sabe se assumirá a cadeira no Senado. Ele afirma que a influência de José Sarney está na origem e nos desdobramentos dos processos que enfrenta. Com base na Lei da Ficha Limpa, sua posse foi barrada por liminar do TSE. “Já fui cassado duas vezes pela influência de Sarney. De onde vem esse poder de cassar mandatos?” Até aliados do presidente do Congresso enfatizam as conexões de Sarney no Poder Judiciário. As empresas da família Sarney são alvo de investigações da Polícia Federal desde 2007. Nenhum dos cinco inquéritos abertos para investigar suspeitas de tráfico de influência, corrupção e lavagem de dinheiro chegou ao fim. A sequência de escândalos não, explica o fenômeno Sarney. A chave do enigma é sua capacidade de evitar que os escândalos o engulam. Longe do poder seria digerido tom facilidade por eles. Não é só à política, à vida também, lembra o poeta Ferreira Gullar, falta uma porta.
Enviado por Eri Santos Castro.
Compartilhe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário