"Um autêntico herói nacional acaba de desaparecer com a morte do Marechal Rondon, que teve uma verdadeira consagração em seu sepultamento, não tendo mesmo faltado, ao lado das homenagens oficiais devidas a uma figura exponencial da raça, a presença de alguns silvícolas, que ele mesmo catequizou, civilizou, dando-lhes todos os requisitos do homem livre. Foi esta a missão de Rondon e ele a cumpriu com o denodo, a decisão e a pertinácia de um verdadeiro missionário". Jornal do Brasil
Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, 92 anos, morreu vítima de uma pneumonia em sua residência em Copacabana, cercado de toda a família e um grupo de amigos. Seu corpo foi sepultado no dia seguinte, ao toque de silêncio de um clarim e, depois, de salvas de 21 tiros, às 18,40 horas, no Cemitério São João Batista.
Em 1953, Rondon participou da inauguração do Museu do Índio do Rio de Janeiro, projeto que ganhou repercussão internacional, como documentou Darcy Ribeiro: "O primeiro museu devotado não a mostrar bizarrices etnográficas, mas as altas contribuções culturais dos indígenas à nossa cultura, sobrtudo a luta contra o preconceito que apresenta os índios como atrasados, preguiçosos, desconfiados".
A homenagem de Manuel Bandeira
Cronista do Jornal do Brasil, Manuel Bandeira publicou em sua Coluna de 22 de janeiro de 1958 a seguinte homenagem à Rondon:
"Há homens que precisam morrer para que se calem as reservas à admiração que suscitam quando vivos. A atividade deles é dessas que não podem deixar de dividir violentamente os seus semelhantes; despertam assim ódios, rancores, desconfianças, mas difíceis de vencer do que os inumeráveis perigos da selva selvaggia. Foi o caso de Ruy, de Nabuco, de Rio Branco.
Cronista do Jornal do Brasil, Manuel Bandeira publicou em sua Coluna de 22 de janeiro de 1958 a seguinte homenagem à Rondon:
"Há homens que precisam morrer para que se calem as reservas à admiração que suscitam quando vivos. A atividade deles é dessas que não podem deixar de dividir violentamente os seus semelhantes; despertam assim ódios, rancores, desconfianças, mas difíceis de vencer do que os inumeráveis perigos da selva selvaggia. Foi o caso de Ruy, de Nabuco, de Rio Branco.
Rondon, não. Teve a fortuna de antegozar na reverência, na estima dos seus contemporâneos unânimes a nomeada póstera indestrutível. O consenso nacional há muito o havia distinguido como uma das glórias mais puras do Brasil. Ainda que não tivesse realizado a obra científica e social que cumpriu - essa obra que outro brasileiro de exceção e seu companheiro de trabalho, Roquete Pinto, louvou como não podendo ser assaz admirada, havia em Rondon uma tão impressionante presença das mais nobres virtudes humanas - coragem, probidade, desinteresse, que só elas justificariam as homenagens que lhe vemos tributadas no momento em que o perdemos.
Militar, não foi desses milicos que usurpam o prestígio do Exército para desferir golpes de força em proveito de suas ambições pessoais: generais que poderiam repetir como suas as palavras de Shakespeare pôs na boca de Ricardo III: Our strong arms be our conscience, swords our law. O prestígio do Exército vem precisamente das excelências de soldados como ele.
Abrindo estradas nos recessos mais inóspitos do sertão, aparelhando-os de linhas telegráficas a transmitir o que um pareci poeta chamou "a língua de Mariano", conquistando a amizade dos silvícolas, compreendendo-os, protegendo-os, inscreveu Rondon o seu nome na extensão de todo o Brasil: na verdade as dimensões do seu nome são hoje as do Brasil. A sua glória transcendeu a própria pessoa, porque ele soube acordar as energias, a abnegação dos que serviram como seus companheiros de sertanismo, homens heróicos, soldados quase desconhecidos dessa autêntica epopéia que foram as entradas de Rondon.
A vida de Rondon é um conforto para todo brasileiro que ande descrente de sua terra. Ela mostra que nem tudo é cafajestada nestes nossos oito milhões de quilômetros quadrados".
Um serviço do JB.
Enviado por Eri Santos Castro.
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