Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o doutor Sócrates, ficou longe de ter sido um jogador de futebol padrão. Mesmo jogando profissionalmente, nunca deixava de fumar e tomar uma cervejinha. Afinal, entrou no esporte meio que por acidente, na mesma época em que cursava Medicina na USP de Ribeirão Preto. Para completar o perfil antítese do boleiro, “Magrão” era altamente contestador. Fazia política. Não à toa, foi um dos principais líderes da Democracia Corinthiana, movimento que abalou as estruturas do futebol e, por que não, da sociedade brasileira, no início da década de 1980, quando a ditadura agonizava.
Nesta entrevista, Sócrates fala de política, ideologia e, como não poderia deixar de ser, da convocação da seleção brasileira pelo técnico Dunga. Para ele, o Brasil que vai a Copa não tem nada a ver com o povo brasileiro. “Como eu vou ser pragmático se eu vivo de emoção, se eu vivo de paixão, vivo de amor? É abrir mão da vida. É uma opção pessoal do Dunga, mas não tem nada a ver com o Brasil, com a nação brasileira”. Sim, o craque da seleção nas Copas de 1982 e 1986 gosta mesmo é de futebol-arte. Afinal, “Ganhar não vale nada. O importante é ser feliz”.
Hamilton Octavio de Souza – A gente costuma começar o bate-papo falando da vida da pessoa. Fale um pouco de você, onde você nasceu, onde foi criado.
Sócrates – Bom, sou filho de um cearense maluco que inventou de mudar para fazer o seu próprio destino e nos ofereceu uma chance de estudar, ler e aprender. Mas eu nasci no Pará, a minha mama é paraense.
Hamilton Octavio de Souza – De Belém?
De Belém do Pará. Meus pais moravam em Igarapé Açu, mas acabei nascendo na Santa Casa de Belém. Aí, por causa dessa loucura do velho, que virou funcionário público sem ter nenhuma condição para tal e entrou num concurso que só ele era candidato, nós viemos para o sul. Eu fui criado em Ribeirão Preto. Aliás, o Raí nasceu em Ribeirão, por isso ele tem o beiço grande. Já é a fase do contra-filé mesmo. Eu sou da fase sem filé. Nasci ainda na fase ruim economicamente da família. E daí para frente é só invenção.
Hamilton Octavio de Souza – São quantos irmãos?
Somos seis, cinco homens e o Raí. Porque o Raí é diferente, todas as mulheres querem o Raí. O resto é homem normal. Tudo quanto é mulher quer o Raí. Nós, para arrumarmos uma, é um sufoco.
Hamilton Octavio de Souza – Você foge do padrão do jogador de futebol.
Aí eu inventei de fazer medicina.
Hamilton Octavio de Souza – De onde surgiu essa ideia?
Eu não sei de onde veio a medicina, não. A interpretação que eu dou, bem posterior, é de que, talvez, tenha um lance social. Na época, eu era bem molecão, resolvi fazer medicina, mas não tinha
nenhuma influência, não tinha tio, não tinha...
Hamilton Octavio de Souza – Lá em Ribeirão?
Acabei fazendo em Ribeirão, por opção. Eu poderia ter entrado na Pinheiros, mas eu quis fazer lá.
Lúcia Rodrigues – USP de Ribeirão?
Na época, a Pinheiros era a primeira preferência, a Paulista a segunda, e a terceira era a Ribeirão. Era de excelência, da USP. Como eu escapei das outras duas, entrei em primeiro lugar na Ribeirão.
Gabriela Moncau – Como você conciliava medicina com futebol? Quando você começou a jogar bola?
Eu jogava desde moleque, não era nada sério. Na época em que eu entrei na faculdade, era um hobby. Jogava no Botafogo [de Ribeirao Preto], mas no juvenil. Entrei com 17 anos na faculdade.
Lúcia Rodrigues – Você é um dos líderes da Democracia Corinthiana, fez história dentro do futebol brasileiro. Como é que surgiu essa consciência política? Foi na faculdade?
Não tem um lugar. Na verdade, a tua sensibilidade política é estimulada pelos contatos que você tem. Quem me ensinou tudo que eu sei hoje, o que eu penso e o que eu sinto, foi o povo com o qual eu me relacionei. E eu tive o privilégio de estar no meio do futebol, onde o número de pessoas é muito maior do que em outras atividades.
Hamilton Octavio de Souza – Faltou você contar como entrou no futebol. Você pulou essa parte.
É, eu estava na faculdade. De alguma forma, eu já era um ator, enganava para caramba. E, aí, os caras insistiam para que eu me tornasse profissional.
Hamilton Octavio de Souza – Que caras?
Uns diretores do Botafogo. Eu jogava na preliminar. Já existia até um certo público para ver o nosso time, que era muito bom. E aí, no fi- nal do segundo ano da faculdade, eu falei: “vamos tentar”. Eram minhas últimas férias longas, de dois meses e pouco, e ia começar o curso clínico. O curso básico era muito pesado em termos de exigência temporal e o outro eu não conhecia. Imaginei que pudesse, de alguma forma, viabilizar isso, e comecei a treinar. Mas virei jogador de futebol durante dois meses. O acidente ocorreu quando o titular do time principal machucou e eu entrei. Eu entrei e fiquei. Voltaram às aulas e eu fui levando, fui levando, fui levando. Sei lá como, não dá para responder.
Hamilton Octavio de Souza – O Botafogo estava na primeira divisão?
Primeira do Paulista.
Lúcia Rodrigues – E como é que você saiu do Botafogo e foi parar no Corinthians?
Depois de formado só.
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Enviado por Eri Santos Castro.

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