A bruxa de Katyn
'A morte do presidente da Polônia, Lech Kaczynski, num acidente de avião em Smolensk, na Rússia, quando se dirigia a uma cerimônia lembrando o massacre de Katyn, onde foi assassinado meu avô.' Escreveu o escritor e carioca Alfredo Sirkis, autor dentre outros livros de 'Os Carbonários'.
Uma tragédia que parece uma piada de humor negro do destino. Um karma inacreditavelmente macabro cheio de sinistras ironias. Setenta anos depois do massacre da floresta de Katyn, quando milhares de oficiais poloneses –inclusive meu avô, Alfred Binensztok-- foram executados pela NKVD stalinista, boa parte do establishment político e militar polonês morreu num desastre aéreo, quando se preparava para celebrar a segunda cerimônia de rememoração do massacre.
No Tupolev 154 presidencial, de fabricação soviética, estavam o presidente da Polônia, Lech Kaczynski; Maria Kaczynska, sua esposa; o ex-presidente no exílio, Ryszard Kaczorowski; o vice presidente do parlamento, Jerzy Szmajdzinski; o chefe da chancelaria presidencial, Wladyslaw Stasiak; o chefe do serviço de segurança, Aleksander Szczyglo; o vice-ministro de relações exteriores, Andrzej Kremer; o chefe do estado maior das forças armadas, Franciszek Gagor; e os comandantes das três armas; o presidente do banco central, Slawomir Skrzypek e, dezenas de membros do parlamento polonês.
Dois dias antes, aconteceu uma solenidade para marcar o massacre ocorrido em 1940, do qual participaram o primeiro-ministro polonês Donald Tusk e o russo Valdimir Putin, numa cerimônia histórica, em este reconheceu a responsabilidade do “regime tortalitário”, na matança que, na época, a URSS atribuiu aos nazistas que ocuparam a região em 1941.
Kaczynski não quis participar dessa cerimônia conjunta com o governo russo, e preferiu organizar uma paralela, sem a participação oficial do governo russo. No regime parlamentarista polaco, o poder de fato está com o primeiro ministro Donald Tusk, do partido pró-europeu Lista Cidadã. Kaczynski e seu irmão animam um partido nacionalista de direita, que perdeu as últimas eleições parlamentares.
Aparentemente, o acidente foi causado por uma conduta temerária do piloto, que tentou pousar em condições meteorológicas ruins, apesar das advertências da torre de comando do pequeno aeródromo de Smolensk. As sinistras ironias da história são abundantes. Expoentes da direita nacionalista polonesa vão a uma cerimônia paralela à dos governos polonês e russo, a bordo de um velho Tupolev da era soviética e, aparentemente, ignoram as orientações da torre. Certamente, mil teorias conspirativas surgirão na Polônia com o tempo e a própria investigação do acidente, por parte de uma comissão liderada pelo próprio Valdimir Putin, não vão facilitar as coisas, a não ser que trabalhe com a máxima transparência.
416 pgs, Editora Record, 14a edição, 1998. Publicado pela primeira vez em 1980, pela Editora Global. Também editado pelo Circulo do Livro. Memórias da participação do autor no movimento estudantil de 1968 e na resistência armada à ditadura militar. Pode ser adquirido na Editora Record através de marianar@record.com.br ou www.record.com.br. R$ 49.50. | ||||||||
Os Carbonários, Pos-prefácio de 1998 | ||||||||
Os Carbonários, ano 25 |
Enviado por Eri Santos Castro.
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