23 de mar. de 2010

Juliano Corbellini e a Estratégia da Triangulação

Um dos princípios da comunicação política é o contraste. Isto é, sua mensagem em uma campanha eleitoral - ou mesmo no exercício de um mandato - deve deixar claro para os eleitores no que sua candidatura se diferencia das outras candidaturas, e mostrar porque a sua candidatura é a melhor.


Buscar o contraste, entretanto, não significa necessariamente uma estratégia de embate com tudo o que o seu adversário defende ou propõe. O debate eleitoral não é um “choque” entre dois projetos que tentam provar sua superioridade um sobre o outro, mas sim a busca de uma conexão mais eficiente entre o candidato e o eleitor. Em outras palavras, uma aproximação com o senso comum do eleitor.
Por isso, em algumas circunstâncias, a estratégia da triangulação pode ser uma eficiente opção para se chegar à vitória em uma batalha eleitoral. Basicamente, a arte de triangular consiste em “roubar” uma parte da agenda do seu adversário e incorporá-la em seu discurso político.
Ou seja, compartilhar valores, propostas ou, quando você é um candidato de oposição que enfrenta um candidato a reeleição, o compromisso de dar continuidade a ações administrativas do seu oponente, caso elas tenham aprovação popular. Em outras palavras, quando você triangula, você está “batendo a carteira” do seu adversário.
Dick Morris, um dos consultores políticos de Bill Clinton, define a estratégia da triangulação como trabalhar arduamente para resolver os problemas que motivam os eleitores do outro partido. Segundo Morris, quando você resolve os problemas que mantém o outro lado ativo, você leva seu adversário à bancarrota.
Quando George Bush (o filho) em sua primeira campanha presidencial criou a o “conservadorismo compadecido” (ou “republicanismo com compaixão”) ele conseguiu com sucesso amenizar o problema da “frieza social” que pesava sobre a imagem dos republicanos, dialogando com uma parcela importante de eleitores que simpatizavam com as políticas sociais dos democratas. Se Bush triangulou pela “esquerda”, Tony Blair fez a mesma operação pela “direita”, prometendo em sua campanha reduzir o poder dos sindicatos e manter alguns pilares da política liberalizante da era Thatcher. O alvo de Blair era reduzir o medo, presente em uma parcela do eleitorado de centro, do radicalismo de setores sindicais do trabalhismo inglês.
A relação mal-resolvida da campanha presidencial de Alckmin com o Bolsa Família expôs a falta de clareza, em sua estratégia, de quando é necessário triangular. O candidato do PSDB oscilou críticas ao caráter “assistencialista” das políticas sociais de Lula no começo da campanha, com a promessa posterior de manter o Bolsa Família. Evidentemente, agindo assim ele mesmo minou a credibilidade de seu compromisso.
Tentar atacar numa campanha uma política com alta aprovação popular é um grave erro estratégico. Não se muda o senso comum dos eleitores no espaço de uma campanha eleitoral. Sua única saída é ou incorporar essas políticas em seu discurso, ou diminuir ao máximo sua importância na agenda da eleição.

Esse, por exemplo, foi o impasse estratégico que paralisou Lula em 1994, diante do sucesso do Real. Sem poder criticar um plano econômico com alta popularidade, mas ao mesmo tempo com medo de elogiá-lo e fortalecer seu adversário, Lula, que tinha mais de 50% das intenções de voto a quatro meses da eleição, acabou derrotado em primeiro turno.
Mas a arte de triangular exige cuidados. Em primeiro lugar, é preciso dar credibilidade ao seu compromisso com bandeiras do seu adversário, para que essa manobra estratégica seja crível, e não seja percebida como “jogada eleitoreira”.
Em segundo lugar, é preciso roubar parte da agenda sem entretanto tornar-se igual ao seu adversário. Ou seja, firmar-se como uma síntese que preserva o seu eleitorado, e rouba a parcela do seu opositor que pode lhe levar a vitória.
Por Juliano Corbellini, ex-presidente da UNE (1988/1989), mestre e doutor em Ciências Políticas pela UFRS e consultor da pré-campanha Flávio Dino Governador do Maranhão.  
Enviado por Eri Santos Castro.

Um comentário:

Unknown disse...

Flávio Dino não poderia ter feito melhor escolha no que se refere à consultoria e marketing político, basta ver a trajetória brilhante de Juliano Corbellini.