28 de abr. de 2009

Ronaldo: de fenômeno a lenda viva

O esporte é pródigo em propiciar dramas humanos impressionantes, como o que está hoje no noticiário: a incrível ressurreição de Ronaldo Fenômeno.

Ele tem uma trajetória marcada por altos (estratosféricos) e baixos (abissais).

Vinha numa fulgurante carreira, incluindo uma Copa do Mundo conquistada como reserva (1994), quando teve convulsões à véspera da decisão do Mundial seguinte e acabou levando a culpa pela derrota brasileira diante da França.

A via crucis prosseguiu com uma sucessão de contusões graves, tornando totalmente insensata a aposta do técnico Felipão de apostar nele como titular para a Copa de 2002.Magicamente, aquelas poucas semanas foram um breve hiato em suas desventuras: não só teve participação das mais destacadas, como fez os dois gols da partida final contra a Alemanha.

Em seguida, voltaram as contusões, acrescidas de confusões matrimoniais e pessoais, como o episódio da noitada com travestis. Obeso, desmotivado, parecia ter chegado ao fundo do poço.

Como Felipão, o Corinthians apostou em Ronaldo contra todas as evidências. E parecia ter queimado dinheiro quando o jogador teve outra noitada de loucuras, desta vez acompanhando a delegação que foi a Presidente Prudente disputar uma partida pelo Campeonato Paulista.Depois do fuzuê num bordel, chegou até a tomar um táxi para desertar da cidade e do clube. Mas, mudou de idéia no caminho, mandou o motorista dar meia-volta e apresentou-se para o treino, umas seis horas atrasado...

A redenção começou na partida contra o Palmeiras, quando entrou em campo na metade do segundo tempo e surpreendeu a todos com três lances agudos: um chute de longe no travessão, um centro perfeito para a cabeçada de um companheiro (o goleiro evitou o gol) e o tento de empate no finzinho dos acréscimos.No primeiro tempo, no banco de reservas, Ronaldo foi focalizado pela tevê logo após o arqueiro palmeirense ter falhado ao tentar interceptar um cruzamento.

Ele comentou algo com quem estava ao lado, dando um sorriso.Quando a partida estava para terminar, houve um escanteio e ele se colocou na segunda trave, exatamente onde a bola chegaria caso fosse cruzada pelo alto e o goleiro falhasse. A possibilidade desenhada na sua mente virou realidade, como se os deuses dos estádios estivessem de plantão para atender seus desejos.

Depois, na semifinal contra o São Paulo, novamente a magia se fez presente: entrou em campo determinado a calar a boca do diretor de futebol adversário que se referira desdenhosamente a ele como ex-jogador.E conseguiu: um passe longo e perfeito de Ronaldo desmontou a defesa tricolor e deu origem ao primeiro gol.

Logo em seguida, com um pique impressionante para um atleta acima do peso, já entrado nos anos e que sofreu contusões muito sérias, ele deixou o zagueiro para trás e fez um tento inacreditável.Agora, na decisão contra o Santos, atingiu o ápice em seu novo estilo minimalista: participa pouquíssimo do jogo, mas aparece sempre de forma letal.Primeiramente pegou um espirrão do meio de campo e, com uma matada de bola perfeita, colocou a bola na medida para fazer um disparo certeiro.

Depois, a apoteose: percebendo desde o primeiro tempo que o goleiro adversário adiantava-se muito, teve, finalmente a oportunidade para aproveitar o vacilo, ao receber a bola num contra-ataque, dar um drible desmoralizante no marcador e desferir uma folha seca digna do velho Didi.

Ao renascer novamente das cinzas, ele está escrevendo uma página lendária na história do futebol.

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