Para evitar que o aquecimento global ganhe proporções irreversíveis, o mundo precisa investir menos de dois terços do que gasta com armamentos militares, afirma o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, do PNUD. As estimativas apresentadas no estudo apontam que seria necessário despender até 2030 o equivalente a 1,6% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, anualmente, para impedir que a temperatura do planeta suba mais que 2º C — depois desse patamar, “os riscos de futuras alterações climáticas catastróficas aumentam significativamente”. Em armamentos, o mundo desembolsa 2,53% do PIB.
O corte dos gastos militares é justamente uma das maneiras de obter recursos para se investir na mitigação das mudanças climáticas, propõe o PNUD. Outra é a redução com subsídios agrícolas. Nos países mais ricos, “onde as despesas governamentais representam geralmente 30% a 50% do PIB, metas de mitigação mais rigorosas dificilmente parecerão implausíveis, especialmente quando os gastos em outras áreas — tais como no orçamento militar e nos subsídios para a agricultura — podem ser reduzidos”, afirma o estudo.
As tabelas sobre gastos militares incluídas no RDH basearam-se em dados do Instituto de Pesquisa em Paz Internacional Estocolmo. Os números do instituto mostram que o gasto militar global foi de US$ 1,118 trilhão em 2005. Quase metade disso é composta de despesas dos Estados Unidos. O Japão, segundo lugar entre os que mais gastam, aplicou US$ 44 bilhões. No Brasil, o investimento foi de R$ 12,5 bilhões, segundo a ONG sueca.
Para não ultrapassar a barreiras dos 2º C, o PNUD propõe que a concentração de gás carbônico na atmosfera se estabilize em 450 ppm (partes por milhão) até 2030 — algumas projeções para o século 21 apontam para a possibilidade de que a concentração atinja 750 ppm se for mantida a tendência atual. “Se os próximos 15 anos seguirem as tendências de emissões dos últimos 15, alterações climáticas perigosas serão inevitáveis”, alerta o texto. “A nossa meta de estabilização é severa, mas possível”, afirma o relatório.
Uma elevação de mais de 2º C tenderia a provocar derretimento dos blocos de gelo no pólo norte e na Antártida, “levando a um aumento dos níveis dos mares em vários metros”. O que obrigaria os habitantes das áreas litorânea de vários países a migrar. “Acima do limite dos 2º C, se intensificaria a pressão sobre os sistemas ecológicos, tais como os recifes de coral, e a biodiversidade”, adverte o RDH. Além disso, o abastecimento de água em algumas regiões ficaria comprometido e haveria ciclones tropicais mais violentos. “Ultrapassar o limite dos 2º C significaria dar um passo além do limite que determina o risco significativo de resultados catastróficos para as gerações futuras. Mais concretamente, iria deflagrar retrocessos no desenvolvimento humano”, resume o documento.
Os países desenvolvidos, que são os que mais gastam em armamentos em números absolutos, são também os principais responsáveis pelas emissões de gases que agravam o efeito estufa. Eles somam 15% da população mundial, mas emitem cerca de 45% de todo o gás carbônico do mundo. Já os países de baixo rendimento, em seu conjunto, abrigam um terço da população mundial e emitem apenas 7% do CO2.
Os países de renda elevada são, portanto, os que mais precisam fazer para evitar o risco de catástrofes climáticas, defende o relatório. Eles têm de aumentar a ajuda e o financiamento para as nações mais pobres melhorarem a eficiência energética, preservarem as florestas e adotarem fontes mais limpas de energia.
O PNUD sugere também a criação de um mercado que fixaria um preço para as emissões de dióxido de carbono, o que levaria os países a adotarem metas ou a comprarem cotas de emissão dos países menos poluentes. Outra saída é a regulação e tarifação do setor de transportes.
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