19 de out. de 2010
Por que o orgulho sustenta os demais pecados capitais?
Certo dia um casal ao chegar do trabalho encontrou algumas pessoas dentro de sua
casa. Achando que eram ladrões ficaram assustados, mas um homem forte e saudável,
com corpo de halterofilista disse: - Calma pessoal, nós somos velhos conhecidos e
estamos em toda parte do mundo.
- Mas quem são vocês? - pergunta a mulher.
- Eu sou a Preguiça - responde o homem másculo - Estamos aqui para que vocês
escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês.
- Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que vive malhando e
praticando esportes? - indagou a mulher.
- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos, com
ela ninguém pode chegar a ser um vencedor. Uma mulher velha curvada, com a pele
muito enrugada que mais parecia uma bruxa diz:
- Eu, meus filhos, sou a Luxúria. - Não é possível! - diz o homem - Você não pode atrair
ninguém com essa feiúra.
- Não há feiúra para a luxúria queridos. Sou velha porque existo há muito tempo entre
os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças
para todos até a morte. Sou astuta e posso me disfarçar na mais bela mulher.
E um mau cheiroso homem, vestindo uns maltrapilhos de roupas, que mais parecia um
mendigo diz:
- Eu sou a Cobiça, por mim muitos já mataram, > por mim muitos abandonaram
famílias e pátria, sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para
existir.
- E eu, sou a Gula.- diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura
finíssima, seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma
e movimentos.
Assustam-se os donos da casa, e a mulher diz:
- Sempre imaginei que a gula seria gorda. - Isso é o que vocês ensam! - responde ela. -
Sou bela e atraente porque se assim não fosse seria muito fácil livrarem-se de mim.
Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem tem a mim não se
apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da luxúria.
Sentado em uma cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o
semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:
- Eu sou a Ira. Alguns me conhecem como cólera. Tenho muitos milênios também. Não
sou homem, nem mulher assim como meus companheiros que estão aqui.
- Ira? Parece mais o vovô que todos gostariam de ter! - diz a dona da casa.
- E a grande maioria me tem! - responde o vovô. - Matam com crueldade, provocam
brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar
qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas
mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a Ira pode
estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas
sem me manifestar, provocando úlceras,
câncer e as mais temíveis doenças.
- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde a sua criação, - diz uma
jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de
brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.
- Como inveja? Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja. – diz >a mulher da
casa. - Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não
são nada disso, mas eu estou entre todos, a inveja surge pelo que não se tem e o que
não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece na
humanidade... Onde eu estou está também a Tristeza.
Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de cinco a seis
anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das
crianças, sua face de delicados traços mostravam a
plenitude da jovialidade, olhos vívidos...
- E você garoto, o que faz junto a esses que parecem ser a personificação do mal?
O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:
- Eu sou o Orgulho.
- Orgulho? Mas você é apenas uma criança? Tão inocente como todas as outras.
O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal, e ele então
diz:
- O orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se
enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui, quer brincar comigo?
A Preguiça interrompe a conversa e diz:
- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas. Queremos
uma resposta.
O homem da casa responde:
- Por favor, dêem dez minutos para que possamos pensar. O casal se dirige para seu
quarto e lá fazem várias considerações. Dez minutos depois retornam.
- E então? - pergunta a Gula.
- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas. O garoto olha com um olhar
fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão dirigese
para a saída. Os outros, em silêncio, iam acompanhado o garoto quando o homem
da casa pergunta:
- Ei! Vocês vão embora também? O Menino, agora com ar de severo e com a voz forte
de um orador experiente diz:
- Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha. Pois
onde não há Orgulho não há preguiça, pois os preguiçosos são aqueles que se
orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam. Onde
não há orgulho não há Luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e
julgam-se merecedores. Onde não há orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos têm
orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade
alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro. Onde não há
orgulho, não há Gula, pois os gulosos se orgulham de suas condição e jamais admitem
que o são, arrumam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade
são marionetes dos desejos. Onde não há orgulho, não há Ira, pois os irados lidam
com facilidade com aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não
percebendo que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Onde
não há orgulho, não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o
sucesso alheio seja ele qual for, precisam constantemente superar os demais nas
conquistas, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.
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