22 de mai. de 2009

'Antichrist': quando Freud morre, o caos reina


O cineasta dinarmarquês Lars Von Trier conseguiu, mais uma vez, fazer o público se contorcer em suas poltronas, durante a exibição de "Antichrist", no Festival de Cannes. Primeira incursão do diretor de "Dogville" e "Dançando no escuro" no universo do terror, o longa tem tudo para se tornar um novo marco no gênero.

"Antichrist" conta a história de uma jovem mãe (Charlotte Gainsbourg) que cai em depressão logo após a trágica perda de seu único filho. Numa tentativa de superar o trauma, seu marido terapeuta - Willem Dafoe - propõe a ela que os dois viajem para o local que mais lhe desperte medo.

O lugar escolhido é um chalé abandonado no meio de uma floresta, ironicamente batizado de O Éden, em que no passado a personagem viveu uma temporada com o filho pequeno estudando para uma tese acadêmica sobre a perseguição cristã às bruxas na Idade Média. Apoiado em técnicas de hipnose e psicanálise, o terapeuta tenta convencer sua mulher de que os medos são produtos de sua imaginação e que, uma vez expostos e identificados, serão facilmente vencidos.

A natureza é a igreja do Satanás
Mas mergulhado, ele próprio, em um período de profunda depressão durante as filmagens de "Antichrist", Von Trier parece desacreditar dos artíficios da razão. "Freud morreu", sugere. "O caos reina". Árvores retorcidas com galhos que lembram chifres, filhotes de animais mortos e sons de gelar a espinha compõem o cenário perfeito para ilustrar a tese do diretor de que "a natureza é a igreja de Satanás". Não se trata da natureza em seu sentido mais geral, entretanto.

A fonte de todo o mal que transborda de "Antichrist" está na natureza humana, mais especificamente - como já apontavam os detratores da bruxaria do passado - nos mistérios do sexo feminino. É assim que, aos poucos, o que era para ser uma experiência terapêutica vai se transformando em uma sessão de tortura digna dos mais sanguinários filmes do gênero (e com requintes de perversidade, aliás, nada estranhos a outros longas do diretor, como "Dogville" e "Manderlay").
A atmosfera sombria do filme e algumas cenas realmente perturbadoras de sexo e mutilação fizeram com que parte dos jornalistas presentes à sessão neste domingo caísse na gargalhada. Riram de nervosismo, por certo. Pois o anticristo de Von Trier não tem nada, nada mesmo de engraçado.
Com Agência Carta Capital

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