Eu quero ser lançado no mar…”
José Luandino Vieira, angolano por adoção, é escritor marco inaugural do romance angolano.
Em Nós, os do Makulusu, romance escrito durante sua prisão no campo de concentração Tarrafal*, campo onde eram encarcerados os opositores do Salazarismo em Portugal e nas colônias portuguesas em África, ele retoma temas que são recorrentes em sua obra: o amor, a guerra, o racismo, a opressão colonialista, os preconceitos, a vida sofrida do povo negro dos musseques.
Seus romances são de uma beleza ímpar, trazem o falar do povo para as páginas escritas;opta pelo uso de vocábulos do kimbundo e por meio da construção de novas estruturas frasais cria uma noval linguagem demarcando diferenças identitárias do português falado e escrito pelo colonizador.
Depois volto a falar mais deste importante escritor angolano, por hora deleitem-se com a beleza poética de Luandino:
“(…) mãe, ouve: eu não quero ser enterrado, é uma palavra tão feia, tão fria, tão fosca, tão fresca; ou sepultado, outra, rima com abandonado, excomungado, castrado e capado, dominado e descriminado – escravizado! – essas todas palavras e suas rimas e sinónimos, todas têm silêncio e quietez e eu quero ser lançado no mar e então ao menos terei ilusão de movimento, vou nascer outra vez embalado, baloiçado nas ondas todo o tempo e não vou ser pó, serei plâncton e vadiarei, vou andar no quilapanga por todas as praias do Mundo, mas se ficar aqui, mãe, ao menos aqui que seja aqui, na frente do mar, ao meu mar da nossa terra de Luanda”. (Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu, 1967: 99).
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