Datada de 31.8.2005)
Companheiros:
A alma de vocês está tão ferida quanto a minha. O sofrimento de vocês também é o meu. Se vocês estão perplexos, eu também estou. Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta, como vocês sabem. Mas se há uma coisa que aprendi com ela, uma coisa só, foi a dizer sempre a verdade. Porque só a verdade constrói.
Se você diz uma mentira é obrigado depois a inventar outra, e depois mais outra, e não pára mais. E as mentiras acabam sendo desmascaradas.
Mas eu não sou mais apenas aquele Lula que vocês conheceram em quatro campanhas para presidente da República. Não posso ser mais aquele Lula que sentava com os amigos em mesas de bares de São Bernardo do Campo, pedia uma caninha e ficava jogando conversa fora.
Aquele Lula não tinha as responsabilidades que, hoje, o Lula, presidente da República, tem. Eu não posso nem mais me dar ao luxo de sentar em mesas de bares, quanto mais a falar livremente sobre qualquer coisa, qualquer pessoa...
Eu fui traído, como vocês sabem. Disse ao povo brasileiro com todas as letras que fui traído. Até pedi desculpas - e sou obrigado a admitir que me custou muito pedir... Porque eu não errei. Eu não traí ninguém. Erraram e me traíram. E traíram o povo brasileiro.
Mas, infelizmente, não posso revelar o nome dos traidores. Não posso contar tudo que consegui saber depois que me descobri traído. Porque ficaria nas mãos deles. Eu me tornaria refém deles. De alguma maneira, sou refém deles.
Imagine os companheiros se eu dissesse na televisão que jamais soube o que Delúbio fazia... Que ignorava que ele tomava dinheiro de empresários e usava caixa 2 para pagar despesas de campanha do PT.
E se o Delúbio fosse à televisão e respondesse que não, que eu sabia, sim, que ele era mais homem de minha confiança do que da confiança do Zé Dirceu. E que era tão próximo de mim que mais de uma vez se hopedou na Granja do Torto...
Ele teria dito uma meia verdade: era mais ligado a mim do que ao Zé, e de fato eu o hospedei na Granja. Mas teria mentido ao dizer que eu sabia como ele arranjava dinheiro. Eu não sabia, juro pela alma da minha santa mãe. Nunca quis saber.
A mesma coisa poderia acontecer se eu apontasse o Zé como um dos traidores. Imaginem só se ele convocasse uma entrevista e dissesse assim: "Tudo que eu fiz foi mediante conhecimento prévio e autorização expressa do presidente da República".
Sem que eu tenha dito nada sobre ele, o Zé, quando ainda era ministro, falou uma vez para o Estadão que tudo que fazia tinha o meu aval... Vocês não lembram?
E vocês acham que o povo acreditaria em quem? Em mim? Ou no Delúbio e no Zé? Nem quero falar aqui sobre aquela besta do Silvinho Pereira. O sujeito ganhou de um empresário um Land Rover de presente... Só uma besta se comportaria assim.
Tem certos momentos da história de um povo que se acredita mais no bandido do que no inocente. Principalmente no bandido que confessa seus crimes. E que depois tenta implicar os outros.
Vocês não viram o exemplo do Roberto Jefferson? Ele confessou que recebeu dinheiro de caixa 2. Portanto, que cometera um crime. E depois saiu jogando lama em todo mundo. A imprensa preferiu acreditar nele. Réu confesso vira santo neste país.
Espero que os companheiros me entendam. E que aceitem minhas explicações. Estou sendo tão injustiçado - ou mais - do que foi o Juscelino. Ele também foi chamado de corrupto. Eu ainda não fui, mas sei que muita gente pensa que sou.
Só me cabe ter paciência, paciência e paciência. A História me fará justiça."
Enviado por Eri Santos Castro.
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