Sou amigo de longe de Paulo Diniz. Este musicalizou, tornou oral um dos mais épicos poemas modernos brasileiro 'José', de Carlos Drummond de Andrade. Este último não tive oportunidade de fazer amizade, embora grande parte dos seus poemas me conheçam.
Tenho criticado José Sarney, não o ser humano, mas a sua representação. Ele e D. Marly são conteporâneos dos meus pais. Minha mãe estudou com D. Marly no colégio Santa Teresa e o Sarney é conterrâneo nosso de Pinheiro. Nem todo recuo significa a perda. O único maranhense presidente da República está sangrando, via os seus erros. É hora de sua família estabelecer um limite da insistência. Enquanto ele insistir em permanecer na presidência do Senado, mais e mais coisas erradas dele e de outros irão sair do obscurantismo, irão povoar o clarão da realidade. Mas, sei que não o fará. Triste fim de outro 'Policarpo Quaresma'.
O senador Sarney está envolto numa realidade cada vez mais adversa a sua insistência em permanecer no 'baile'. Acredito até que com o desenrolar dos meses, a permanência do seu grupo no território da política maranhense estará prejudicada demasiadamente.
O senador poderia dedicar parte do seu recesso parlamentar à leitura deste poema abaixo, de Drummond ao som vindo do inconsciente de Paulo Diniz.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta,
não existe porta;quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha,
José!
José, para onde?
Postado por Eri Santos Castro.
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