A partir de agora,
os leitores de Rubem Alves não terão mais os litorais inundados pelas intensas
ondas de suas ideias, avolumadas pelos ventos de sua alma de poeta.
Sua afirmação "minha alma é movida pelas ausências" revela em carregadas tintas o que quase sempre fazemos questão de velar: que nos movemos mais pelo que nos falta do que pelo que possuímos.
Sua afirmação "minha alma é movida pelas ausências" revela em carregadas tintas o que quase sempre fazemos questão de velar: que nos movemos mais pelo que nos falta do que pelo que possuímos.
Só os que se
percebem incompletos autorizam-se a parar antes de serem parados, a mudar antes
de serem mudados, a revelar suas ausências antes de serem delatados pelas
interrogações da presença.
Há muitos anos
guardo, do educador Rubem Alves, a lição da incompletude humana da qual só o
amor nos redime. E educação é um outro nome da palavra amor.
Do filósofo,
esforcei-me para reter o pensamento amplo que descortina a história da
humanidade, buscando superar a era da informação em busca de uma era da
sabedoria.
Do cronista, saboreei o café cotidiano, capaz de dar gosto ao dia e
à semana.
Mas foi o poeta Rubem Alves que encontrei, mais uma vez, em sua despedida dessas páginas de jornal.
Mas foi o poeta Rubem Alves que encontrei, mais uma vez, em sua despedida dessas páginas de jornal.
É a ele que
respondo, nessa incompleta homenagem com as palavras que extraí -nas linhas e
entre elas- de seu texto denso e profundo:
Disseste tudo ao dizer:
Quando a ausência de mim
Fizer presença em meu ser,
Visitarei a mim mesmo,
Para não me afastar de você.
Quando o peso do dever
Em mim soterrar a alma
Entre os escombros da vida,
Quero flutuar qual pluma
Na leve brisa da calma.
Quando o dizer tiver o poder
De revelar o que não quero,
Paro a pluma, guardo a voz,
Me rebelo no silêncio
Para me manter sincero.
Antes da noção do certo
Se revelar um engano,
Saio do cotidiano:
Adentro em outras rotinas,
Noutros mares vou pescar.
Não quero porto seguro,
Só âncora, vela e mar.
Âncora para ser meu porto,
Vela para me levar,
Mar para, no litoral,
As minhas ondas quebrar.
MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Disseste tudo ao dizer:
Quando a ausência de mim
Fizer presença em meu ser,
Visitarei a mim mesmo,
Para não me afastar de você.
Quando o peso do dever
Em mim soterrar a alma
Entre os escombros da vida,
Quero flutuar qual pluma
Na leve brisa da calma.
Quando o dizer tiver o poder
De revelar o que não quero,
Paro a pluma, guardo a voz,
Me rebelo no silêncio
Para me manter sincero.
Antes da noção do certo
Se revelar um engano,
Saio do cotidiano:
Adentro em outras rotinas,
Noutros mares vou pescar.
Não quero porto seguro,
Só âncora, vela e mar.
Âncora para ser meu porto,
Vela para me levar,
Mar para, no litoral,
As minhas ondas quebrar.
MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Saiu no jornal Folha de São Paulo de 04.11.2011
Sugestão de pauta: Profº Cândido Lima.
Enviado por Eri Santos Castro.
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